Quando uma pessoa se encontra com grandes desafios emocionais, poderá haver uma sobrecarga de tal ordem no processamento e gestão emocional, que isso pode acarretar dificuldades noutros domínios, entre eles o da aprendizagem, do pensamento lógico, da leitura e da escrita. Dir-se-ia que o hemisfério esquerdo - mais associado aos processos de aprendizagem propriamente ditos - entraria em falência, derivada de uma atividade excessiva do hemisfério direito - mais associado ao domínio emocional.
O caso do Santiago mostra de forma clara essa situação. A sua motivação para o estudo tem sido baixa, neste arranque do ano escolar. Essa situação pode estar associada a vários fatores, pois tem estado a lidar, por um lado, com a recente separação dos pais e, por outro lado, com o receio da própria pandemia, a qual o conduziu a um isolamento social a que não estava habituado durante os últimos meses, e isto só para falar num dos condicionamentos que essa situação lhe trouxe.
"Ele sempre foi um menino sociável, muito chegado aos amigos e a verdade é que neste último ano sentiu-se afastado do seu mundo. Esta separação dos pais só veio piorar as coisas" refere preocupada Matilde, a sua mãe.
Os pais, cada um na sua casa, procuram motivar Santiago para as responsabilidades escolares, mas tem sido uma tarefa hercúlea. Ao contrário dos outros anos, as avaliações não têm sido boas. As emoções do menino, de 10 anos, têm condicionado os seus comportamentos e refletem-se numa menor disposição para as tarefas escolares. "Sim, este processo de divórcio tem desencadeado elevados níveis de stress" admite a mãe.
Santiago não tem dificuldades de aprendizagem, mas atravessa agora uma crise emocional que o faz diminuir a concentração e a autoestima. Os pais têm estado em contacto permanente com os professores, com o pediatra e até já procuraram a ajuda de um psicólogo. "Se queremos que ele ultrapasse esta situação, temos de lhe dar o suporte emocional e técnico que ele precisa" sublinha a mãe.
Os seus pais, há que reconhecer, têm um papel decisivo. Sobretudo em casa, podem ajudar o filho a superar os gatilhos emocionais. Muitas vezes, a via do diálogo é tudo. Só criando espaço para falar e questionar e, por outro lado, para ouvi-lo com total dedicação e amor, poderão conseguir chegar à criança e corresponder ao que ela precisa.
Uma comunicação clara requer paciência e concentração de forma a erguer pilares sólidos nesta relação umbilical que deve, sempre, ser transparente entre pais e filhos. Só assim, Santiago, sentir-se-á disponível para sair da sua concha e desabafar sobre as dores e inquietações que o atormentam.
O divórcio é sempre um período crítico na vida de uma família, principalmente quando há crianças. "Nós, pais, tentamos sempre ter uma atitude positiva, uma atitude negativa não ajuda absolutamente nada. É fundamental apoiarmos o nosso filho e transmitir-lhe confiança e coragem. Não queremos que seja algo traumático" refere Matilde.
Com a mudança de casa, Santiago ainda não tem um local adequado para poder estudar em condições. Esta situação também o tem prejudicado nas atividades escolares, por isso é fundamental que os pais disponibilizem boas condições para o estudo, como é exemplo a colocação de uma secretária num local tranquilo e bem iluminado.
Uma aplicação prática que o ajude nas tarefas escolares, via computador ou iPad, por exemplo, costuma também ser uma boa solução para captar a atenção dos mais novos, normalmente apaixonados pelas novas tecnologias.
É igualmente importante que se estabeleçam metas e objetivos realistas a alcançar durante o ano letivo. Por exemplo, há crianças que funcionam bem com uma boa rotina de estudo: horários pré-definidos para os trabalhos de casa e para o estudo e períodos de descanso.
Sempre que os pais de Santiago percebem que o menino se está a esforçar para aprender não deixam de o reconhecer, mesmo que o aproveitamento esteja abaixo do que se pretende. Felicitam-no pelo esforço e, em alguns casos, até festejam em família. Santiago precisa de sentir que o desempenho escolar é valorizado por todos à sua volta, independentemente de o resultado final ser ou não bem-sucedido.
Uma atividade física também pode ter um papel decisivo neste ciclo de vida. Santiago gosta de artes marciais e os pais inscreveram-no numa escola próxima de casa. As rotinas escolares costumam gerar cansaço mental e as crianças precisam de um desporto como natação, dança ou karaté para retirarem de si próprias a tensão que pode trazer a aprendizagem escolar e, sobretudo, as avaliações curriculares. O exercício físico é sempre uma boa arma para combater o stress e cuidar da nossa saúde mental.
Está, de facto, em causa o desenvolvimento da criança, de Santiago neste caso, cuja estabilidade, que tanto precisa, foi quebrada pelo impacto da COVID-19 e agora, pela separação dos que mais ama. Vive agora um momento mais assustado e confuso e não sabe como vai ser o dia de amanhã. Compete à família, com apoio e suporte da sua rede, transmitir-lhe a confiança e a segurança que reivindica naturalmente para si, como qualquer outra criança.
É absolutamente essencial que os pais estejam atentos a todos os sinais e que o ajudem a recuperar o equilíbrio emocional e, consequentemente, a motivação para a aprendizagem e para uma vida social mais preenchida, o mais parecida possível com a que tinha antes da pandemia. O sorriso de Santiago vai certamente voltar.
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