Quando falamos de poupança imaginamo-nos sempre a apertar o cinto, a esticar o orçamento, a ter que fazer sacrifícios…
Erroneamente associamos poupar com algo desagradável. Poupar é algo que deveria fazer parte do nosso dicionário desde pequenos, não deveria ser visto como algo negativo, mas sim como uma forma de nos podermos preparar para situações de crise, construindo o nosso futuro de forma segura e positiva. Desde cedo que devemos adquirir esse hábito para se poder tornar uma rotina e fazer parte da nossa vida.
O "Guia Prático da Educação Financeira" (GPEF), de Adelaide Miranda, pode ser considerado um guia anticrise. Um guia que pretende ensinar às crianças e adolescentes as bases para uma boa gestão das suas finanças pessoais.
Por onde devemos começar? Precisamente pelo início, com a primeira moeda ganha, a primeira mesada/semanada ou até com o primeiro ordenado, se for esse o caso.
Das 10 dicas enumeradas no GPEF, Adelaide Miranda elege as que considera que devem ser ensinadas aos mais novos e que, quando aplicadas de forma rotineira, irão facilitar a gestão das finanças quando surgirem as primeiras “contas”.
Paga-te primeiro
Ganha o hábito de colocar de parte 10% de todos os teus ganhos. Estes 10% são teus para guardar. Seja 10% de um euro ou 10% de 100 euros, um décimo deve ser sempre teu. Pertence-te. “Chapa ganha, chapa gasta” não resulta. É importante garantires que parte do que ganhaste seja efetivamente teu. É importante, essencial e obrigatório reservar 10% dos teus ganhos.
Vive de acordo com as tuas possibilidades
Embora possa parecer estranho, esta dica aplica-se também às crianças. Infelizmente, estamos numa sociedade em que o consumismo é a palavra de ordem. Somos bombardeados com uma imensidão de produtos que pensamos que precisamos ter.
Pensamos que precisamos ter um telefone topo de gama, quando o essencial é apenas um telefone.
Pensamos que precisamos de roupas de marca, quando o essencial é cobrirmos o corpo. Caímos na teia do consumismo e temos a tendência para gastar mais do que podemos ou em coisas que na realidade não são essenciais.
É importante, desde cedo, aprendermos a diferenciar os nossos desejos e as nossas necessidades. Uma forma de manejares as tuas finanças é aprendendo a comprar de acordo com o que necessitas e não com o que desejas.
Guarda o teu dinheiro num lugar seguro
A definição de lugar seguro deve ser explicada. Quando falamos de lugar seguro, falamos num lugar onde o dinheiro tenha a capacidade de exercer as suas funções: multiplicar-se e estar disponível quando for necessário. O mealheiro e debaixo do colchão, embora os esconderijos mais conhecidos, não são aconselháveis.
Existem várias contas jovens, sem custos de manutenção, que devem ser utilizadas para guardar dinheiro. Estas contas permitem, inclusive, a associação de contas poupança para facilitar a aplicação da Dica Número 1 (paga-te primeiro). Ou seja, podes usar a mesma conta para manejar as tuas finanças e poupar os teus preciosos 10%. E como bónus aprendes desde cedo a lidar com as contas bancárias.
Faz o teu dinheiro multiplicar-se
Dinheiro puxa dinheiro. Os preciosos 10% que pões de lado devem ser a alavanca para a tua riqueza. A intenção de colocá-los de lado é para que possa futuramente multiplicar-se. Se não puseres nada de lado, nunca conseguirás multiplicar. A matemática é simples: 0 x 0 = 0. E como multiplicar? Podes multiplicar o teu dinheiro de várias formas, contudo enumero as que considero mais populares: criar oportunidades de rendimento e contas de aforro.
Como criar oportunidades de rendimento? Tens jeito para fazer bolos ou pulseiras? Podes usar parte dos teus 10% para comprar os ingredientes para fazer um bolo e depois vender o bolo às fatias. Ou fazer pulseiras e depois venderes. O importante é recolheres encomendas antes de comprares os materiais, para garantires que vais conseguir o retorno.
Outra forma, que envolve menos risco e menos retorno, são as populares contas de aforro que oferecem juros entre os 2.4% e 1%. Para estas soluções, conta com o apoio dos teus pais e dos gestores de conta bancária para te ajudarem a selecionar as melhores opções.
Com estas quatro dicas as crianças têm as bases para a educação financeira que passam por: poupar, gerir de acordo com as tuas necessidades, amealhar em local seguro e multiplicar. Poupar não é um bicho de sete cabeças, tem apenas uma e é bastante fácil de entender.
O dinheiro, tal como tudo na vida, segue leis que quando não são quebradas levam à sua multiplicação. É importante, essencial e obrigatório entender que é de pequenino que se criam (bons) hábitos. Bons hábitos de poupança e gestão financeira permitem-nos ter uma vida mais tranquila e a estarmos preparados para, mais tarde, sabermos lidar com a crise ou a não recear a palavra poupança.
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