Um rastreio genético usado em países como a Alemanha, Áustria, Brasil, Estados Unidos da América, Inglaterra e Itália, em 2012, aumentou a esperança das mulheres com mais de 35 anos que recorrem à procriação medicamente assistida (PMA) terem uma gravidez bem sucedida. Trata-se de uma prática que tem como objetivo a redução do risco de aborto durante o período de gestação.
Essa diminuição verifica-se mediante o processo de transferência para o útero de embriões que tenham na sua origem apenas ovócitos normais e com maior potencial de nidificação. Ana Catarina Brandão, uma embrióloga portuguesa radicada na Aústria, aplica com sucesso esta técnica (biopsia ao primeiro e segundo glóbulo polar) na Kinderwunsch-Clinic. Partilhamos agora consigo o que nos contou em entrevista.
O que é a biopsia ao primeiro e segundo glóbulo polar?
Através de técnicas de Diagnóstico Genético Pré-Implantatório (PGD), utilizadas na PMA, é possível evitar doenças ligadas ao sexo ou doenças genéticas, analisando os cromossomas. Para tal, é necessário obter material genético suficientemente informativo, através da biópsia dos primeiro e segundo glóbulos polares, sem prejudicar o potencial de desenvolvimento do embrião. Os glóbulos polares, que são partes excedentárias dos óvulos, contêm uma cópia do material genético materno e a análise permite indicar se está intacto ou não.
Quais são as vantagens?
Permite prevenir a fertilização e transferência de óvulos com aneuploidias (com cromossomas a mais ou a menos, sendo uma das mais comuns a Trissomia 21) em pacientes de PMA de idade materna avançada, não pondo em risco o adequado desenvolvimento embrionário por extração de células do embrião.
Desde quando se usa esta técnica?
Os primeiros bebés a nascer através desta técnica conhecem-se desde 1996. No entanto, no início as desvantagens do método eram inaceitáveis, pois cerca de 50 por cento dos óvulos eram danificados durante a realização da técnica.
Hoje, um novo equipamento de microscopia permite-nos evitar eventuais traumas durante a injeção do espermatozoide, favorecendo por seu lado uma fertilização mais precisa, de modo a obter embriões de melhor qualidade. Deste modo, aumenta naturalmente a probabilidade de um óvulo saudável ser fecundado e implantado no útero materno, aumentando-se assim as taxas de gravidez bem sucedidas.
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Há quem critique o facto de deixar de fora o conteúdo cromossomático do homem, classificando-o como um exame incompleto...
As anomalias cromossomáticas existentes em embriões podem ter origem tanto materna como paterna. Neste método, apenas são investigadas as aneuploidias femininas, não estando incluídas as masculinas que só poderão ser analisadas através da biopsia embrionária.
No entanto, sabe-se que 75 por cento dos óvulos de mulheres com mais de 39 anos têm uma probabilidade maior de apresentar anomalias cromossomáticas susceptíveis de provocar abortos.
Combinando a biopsia ao glóbulo polar e a Selecção Morfológica de Espermatozóides para Microinjecção Intracitoplasmatica (IMSI), é possível seleccionar apenas os melhores óvulos e espermatozoides morfologicamente intactos.
Quem pode fazer
Este rastreio é indicado para mulheres:
- Com mais de 35 anos
- Que tenham um historial de abortos de repetição de causa desconhecida
- Com insucesso de diversos tratamentos de procriação medicamente assistida
- Portadoras de doença conhecida geneticamente hereditária ou de uma mutação patológica
- Às quais já tenham sido diagnosticadas aneuploidias durante uma gravidez, por exemplo através de técnicas de diagnóstico pré-natal (amniocentese, cordocentese), ou após análise a produtos de um aborto
Texto: Rita Caetano com Ana Catarina Brandão (bióloga e embrióloga)
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