O MS é uma perturbação de ansiedade caracterizada pela incapacidade de falar em contextos em que tal seria natural (por exemplo, na escola). Essa ausência de expressão verbal ocorre apesar de a/o criança/jovem ser capaz de desenvolver o discurso de forma adequada noutras situações. Uma/um criança/jovem com MS pode, por exemplo, não falar com educadores/professores/auxiliares ou colegas de escola, mas falar fluentemente em casa. Crianças/jovens com MS não escolhem ficar em silêncio… simplesmente não conseguem falar por sentirem uma ansiedade extrema!
O contexto escolar é aquele em que o MS surge de forma mais expressiva e onde pode ter um impacto mais significativo, quer no desempenho escolar, quer no desempenho social. A escola é, por isto, um contexto crucial na intervenção com estas/estes crianças/jovens. É muito importante avaliar o perfil de cada criança/jovem, família e escola para que, em conjunto com o terapeuta, seja criado um plano de intervenção ajustado às suas necessidades e especificidades.
Há, no entanto, algumas estratégias gerais que deverão ser consideradas como a base para estratégias mais específicas que decorrerão do plano de intervenção. São elas:
- Numa fase inicial do contacto com a/o criança/jovem, é crucial criar um ambiente acolhedor na sala de aula, com muitos incentivos e descontração;
- Pedir à/ao criança/jovem algumas tarefas que não impliquem comportamento verbal pode ajudar a que ela/ele se sinta parte da turma.
- Se a/o criança/jovem está muito ansiosa/o para completar uma tarefa em frente ao grupo, pode ser útil oferecer-lhe a oportunidade de o fazer num grupo mais pequeno ou apenas com a educadora/auxiliar/professora. Isto reduzirá a ansiedade que poderá sentir;
- Numa fase inicial, em vez de perguntas abertas, pode ser importante fazer perguntas fechadas ou que permitam à/ao criança/jovem responder acenando “sim” ou “não”.
- É importante nunca associar castigos ou crítica ao facto de a criança não falar (ex: “Se não falares, não vais ao recreio.”; “Se não falares, não te consigo ajudar.”; “Nunca vais passar a esta disciplina se continuares em silêncio.”).
- Seja paciente com a/o criança/jovem e com o processo! É importante lembrar que o maior treino que a/o criança/jovem teve até ao momento foi o treino do silêncio, por isso, é natural que o comportamento contrário demore a aparecer. É crucial que o adulto esteja confortável com este silêncio, pois só assim conseguirá gerir a sua própria ansiedade ao longo do processo de intervenção. Por vezes, o entusiasmo em querer ajudar ou ser a pessoa com quem a/o criança/jovem vai começar a falar faz com que o adulto apresse determinados passos, o que acaba por ser prejudicial no progresso da/do criança/jovem.
- É fundamental estar confortável com o desconforto: ver a/o criança/jovem desconfortável, ansioso, ou preocupado pode ser muito difícil e gerar ansiedade também no adulto; nesses momentos, é importante que o adulto gira a sua própria ansiedade, não só porque servirá de modelo de gestão emocional para a criança/jovem, mas também porque, se o adulto estiver tranquilo, tornará o momento de exposição ao desafio de falar mais tranquilo e será mais eficaz na ajuda.
O perfil de funcionamento ansioso, em conjunto com a dificuldade em flexibilizar padrões de comportamento e pensamento que muitas destas crianças/jovens manifestam, contribuem para que a sua evolução no MS possa ser mais lenta. A consistência na aplicação das estratégias é, por isso, fundamental, pois tornará claro, para a/o criança/jovem, o que fazer e dar-lhe-á um feedback constante da sua própria evolução, gerando maior confiança e mitigando a ansiedade.
O Mutismo Seletivo é uma perturbação de ansiedade extraordinariamente importante! Se experimentar imaginar-se sem conseguir falar, é fácil perceber o impacto determinante que pode ter na qualidade de vida, não só da pessoa com mutismo seletivo, mas também da sua família. Neste mês de consciencialização para o Mutismo Seletivo, seja um agente de divulgação desta causa. Dar a conhecer o MS é essencial para que ele seja diagnosticado precocemente… E quanto mais precocemente se intervir, maior será a probabilidade de sucesso, com um fortíssimo impacto potencial na vida futura destas crianças e jovens.
Um artigo de Maria João Silva (maria.silva@pin.com.pt), psicóloga clínica e psicoterapeuta na PIN (Partners in Neuroscience), e coordenadora internacional da SMA (Selective Mutism Association).
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