A mãe de Tiago é médica e por isso o menino de 4 anos tem passado a semana a brincar na Escola Básica de São Vicente de Telheiras, que voltou a abrir para receber os filhos de trabalhadores essenciais face ao agravamento da pandemia de covid-19.
Hoje, a escola tinha apenas oito crianças do pré-escolar, entre os 3 e os 6 anos.
“Os meninos do 1.º e do 2.º ciclo estiveram cá apenas na segunda-feira”, contou à Lusa a subdiretora do agrupamento de Telheiras, Ana Rita Duarte, explicando que ficaram em isolamento profilático depois de terem surgido dois casos positivos entre os alunos.
A direção teve poucos dias para se preparar para receber as crianças, mas garante que não foi difícil: “Já tínhamos tudo preparado para a próxima semana e por isso tivemos apenas de antecipar uma semana. Além disso já tínhamos a prática dos anos anteriores, porque tem sido sempre esta a nossa escola de acolhimento”, disse Ana Rita Duarte.
A subdiretora está responsável pela gestão do dia-a-dia. Apesar de terem definido 23 de dezembro como data-limite para a inscrição das crianças na escola de acolhimento, continua a receber ‘emails’ de pais. À Lusa, Ana Rita Duarte garantiu que todos os pedidos têm resposta positiva.
“Estamos aqui para ajudar as pessoas”, afirmou, explicando que a escola está a receber meninos do agrupamento, de outras escolas e até de colégios, como o Externato da Luz ou o Colégio Alemão: “Qualquer pai, desde que seja um trabalhador essencial, pode solicitar a escola de acolhimento”.
Na lista dos meninos que passam o dia na escola há filhos de médicos, enfermeiros, bombeiros, funcionários dos correios ou de transportes públicos, entre outras profissões consideradas essenciais.
Laura tem 4 anos e não sabe qual é a profissão dos pais. Sabe apenas que esta semana voltou para a sua escola com o irmão, mas em vez dos seus colegas encontrou novos amigos, entre eles o Tiago e a Luz, que apesar de serem de outras escolas mostravam-se bastante à-vontade.
“A minha mãe é médica no IPO e está a tratar dos doentes”, contou o Tiago, que esta semana trocou a sua sala do Jardim de Infância pela Escola de São Vicente. Luz diz que a mãe é psicóloga e por isso regressou esta semana acompanhada também pelo irmão mais novo.
“A minha escola está fechada e por isso vim para esta”, contou à Lusa a menina de 5 anos, acrescentando que alguns dos meninos com quem agora brinca já são conhecidos do ano passado, quando esteve, pela primeira vez, na escola de acolhimento de Telheiras: “Já conhecia a Laura e o Bruno do ano passado, quando vim para esta escola”.
Com poucos meninos, as auxiliares conhecem as histórias de todos e reconhecem os que já estiveram nos outros confinamentos, chamando-lhes carinhosamente “os repetentes”.
Há também os novatos que deixam as funcionárias orgulhosas: “Ontem apareceu aqui um menino novo e a mãe hoje quando o deixou disse que ele gostou muito da escola”, contou à Lusa a assistente operacional Florbela Silva.
A escola abre às 08:00 e o dia é de brincadeira. Só é interrompida para almoçar. O Agrupamento de Escolas de São Vicente/Telheiras está também a fornecer esta semana 27 refeições em três estabelecimentos de ensino, segundo a subdiretora.
Na escola básica de São Vicente, os almoços são servidos à mesa e muitos meninos ainda contam com a ajuda das auxiliares para comer. Nas outras duas escolas o sistema é ‘take away’ e destina-se a crianças de famílias carenciadas.
O fornecimento de refeições é outras das valências das escolas, que já antes da pandemia se mantinham a funcionar durante as férias para garantir que as crianças de famílias mais carenciadas tinham acesso a refeições quentes.
O que se passa na escola de Telheiras é um espelho de 800 escolas do país que estão abertas esta semana e na próxima – de 3 a 7 de janeiro – garantindo um espaço para deixar as crianças e oferecendo refeições aos alunos que mais precisam.
A reabertura de escolas de acolhimento, uma medida que já vigorou nos períodos de estado de emergência e confinamento, no âmbito da pandemia de covid-19, vem no seguimento da decisão do Governo de decretar uma série de medidas de contenção até ao dia 09 de janeiro, nomeadamente o teletrabalho obrigatório, o encerramento de creches e Ateliês de Tempos Livres (ATL) e dos bares e discotecas.
Portugal registou hoje 28.659 novas infeções com o coronavírus SARS-CoV-2, um novo máximo desde o início da pandemia, e mais 16 mortes associadas à covid-19, indicam números divulgados pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.
Uma nova variante, a Ómicron, considerada preocupante e muito contagiosa pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detetada na África Austral, mas desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, a 24 de novembro, foram notificadas infeções em pelo menos 110 países, sendo dominante em Portugal.
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