À medida que vamos interagindo com o mundo e com quem está à nossa volta, o nosso interior vai-nos dando diversos sinais, alguns sinais que nos aproximam, outros que nos afastam. Sendo assim, é absolutamente razoável que, por vezes, sintamos atração ou repulsa pelas pessoas, ou contextos, com quem nos vamos cruzando. A existência destes sinais apenas nos indica que o nosso mecanismo interno está a funcionar em tempo real e que — pela nossa história de vida — nos está a enviar sinais que nos impulsionam ou que nos pedem para termos cuidado, por exemplo.
Apesar deste mecanismo interno ser normal e saudável, a verdade é que é comum muitos de nós não sermos capazes de o aceitar e procurarmos bloqueá-lo. Esta incapacidade de aceitar os nossos sinais internos, vem em parte da construção social do que é certo e do que é errado. Por isso, se determinada pessoa nos faz sentir mal, ou nos faz ter vontade de nos afastarmos dela, podemos inferir que estamos a ser más pessoas ou preconceituosas, por exemplo. E na sequência disso, tendemos a ignorar os sinais, tendemos a iniciar um processo de contenção desses sinais, como se fizéssemos uma espécie de ‘auto policiamento’ constante a esses sinais.
Ora se entrarmos nesse registo, passamos a bloquear todos os nossos sinais internos. No fundo, anulamos os nossos rasgos mais espontâneos, o que — invariavelmente — mais tarde ou mais cedo, nos levará ao adoecer psicológico.
Perante tudo isto, se os nossos sinais começam a deixar-nos desconfortáveis e constrangidos, mais do que nos ‘auto policiarmos’, devemos explorar o porquê de eles estarem a existir, devemos procurar enquadrá-los na nossa história de vida, para a partir desse enquadramento, se desejarmos podermos passar a interpretar esse contexto, ou pessoa, livres dos condicionamentos de que fomos sendo alvo.
Para além disso, lembremo-nos sempre que se o ‘auto policiamento’ estiver a existir por algum motivo, deve apenas direcionar-se às nossas ações e decisões e nunca aos nossos sinais internos, sejam pensamentos, sejam emoções. Isto é, naturalmente se temos repulsa de alguém — mesmo que não saibamos qual a origem dessa repulsa —, devemos aceitar essa emoção, sem nos auto condenarmos por a sentimos, mas podemos garantir que a nossa ação não vai magoar ou fragilizar a pessoa pela qual estamos a nutrir esse sentimento.
No fundo, que nunca nos esqueçamos que controlar pensamentos ou sentimentos é uma tarefa tendencialmente dolorosa, porque é impossível e, por isso mesmo, não nos devemos deixar entrar num registo que a longo prazo nos fará entrar em colapso. Por outro lado, o controlo das nossas ações e decisões está ao nosso alcance e, aí sim, podemos e devemos procurar agir de acordo com os valores que consideramos corretos e adequados.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
Comentários