Em primeiro lugar as dúvidas. Depois, o medo da rejeição. O processo de coming out para jovens LGBT pode ser um momento aterrador.
Neste processo surgem um conjunto de dúvidas por parte das famílias, não havendo lugar para perguntas certas ou erradas, todas são importantes e a ajuda de um técnico especializado poderá contribuir para diminuir angústias, garantindo o acesso a informação criteriosa.
No gabinete, quando a porta se fecha, abre-se um universo de incertezas
1. Como é que o meu filho tem a certeza que é gay/lésbica? Não será apenas um “ato de rebeldia”?
É natural que tente pensar que “é só uma fase”. No entanto, numa sociedade que ainda tem muitos comportamentos de intolerância face à homossexualidade, a revelação dificilmente será feita pelo seu filho, sem ser pensada. Este passo pode indicar que o seu filho necessita do seu suporte e de garantir que o aceita, independentemente de já se sentir seguro e confortável com a sua orientação sexual ou ainda não.
2. Porque é que o meu filho é gay? Devo levá-lo à terapia?
É importante salientar que não há causas/razões para que uma pessoa seja gay. A Associação Americana de Psicologia afirma “A homossexualidade não é uma doença. Não requer tratamento e não é mutável”. A procura de apoio psicológico não deve ter como objetivo a mudança da orientação sexual mas sim a adaptação à mesma, por parte do/a Jovem e/ou da família.
3. Como é que vou contar à nossa família e amigos?
Pode levar algum tempo até contar. Este é um processo que necessita de tempo e tomadas de decisão ajustadas a cada jovem e a cada família. Os amigos e a família próxima são habitualmente as fontes de apoio mais importantes para os jovens. Quando a partilha é recebida sem zanga ou rejeição, pode facilitar o processo de auto-aceitação e “coming out”.
Apesar de muitas vezes os pais se preocuparem muito com a reação da sociedade e com as possíveis implicações negativas que assumir na vida e no futuro dos filhos, os jovens tendem a preocupar-se menos com isso e mais com a reação dos próprios pais e figuras mais significativas. Para eles, o mais importante é enfrentarem os desafios futuros em conjunto com quem os ama.
4. Eu aceito os homossexuais, mas eles têm de ostentar isso?
Na verdade, quando pensamos na heterossexualidade, conseguimos encontrar um conjunto de situações que nos remetem para comportamentos de exposição (partilha de afetos em público, fotos partilhadas nas redes sociais). Socialmente ainda encontramos discursos que nos remetem para o que de “errado” tem, quando estas mesmas situações acontecem entre casais homossexuais.
Porém, isso não passa de uma crença, todos temos o direito de expressar os nossos afetos e escolhas. Pessoas com orientação heterossexual não ostentam ou exibem, simplesmente vivem e expressam o que sentem. Pessoas com orientação homo ou bissexual só estão a exercer o mesmo direito.
Durante este processo é importante:
1. Não ignorar a situação. Por vezes os pais sentem-se confusos e culpados por ser difícil de aceitar a orientação sexual/identidade do seu filho, é importante perdoar-se por estes sentimentos e integrar a informação de que o seu filho acabou de fazer uma revelação muito significativa e que necessita do seu suporte. Fale com o seu filho de forma compassiva sobre os pensamentos que vão surgindo na sua cabeça;
2. Estar disponível para discutir com o seu filho a sua sexualidade, numa atitude de não julgamento, pode ajudar a que este se sinta mais confortável para esclarecer dúvidas;
3. Ajudar o seu filho a encontrar um modelo saudável e responsável para viver a sua sexualidade com segurança;
4. Procurar recursos na área LGBT, seja através de associações de pais, bibliografia, ou técnicos especializados que o ajudem a encontrar o suporte que necessita.
Texto: Ana Catarina Velez - Psicóloga Clínica na Consulta de Sexologia e Educação para a Sexualidade do PIN; Ana Beato - Psicóloga Clínica – Coordenadora da Consulta de Sexologia e Educação para a Sexualidade do PIN
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