A adolescência é uma fase de descoberta que implica muitos desafios, muitas conquistas, mas também muitos sobressaltos - muitas vezes, mais sobressaltos do que aqueles que, enquanto adultos, conseguimos ver. Por isso, quando perguntamos a um adolescente o que é que quer fazer profissionalmente, muitas vezes, a resposta limita-se a um vago e quase indiferente “não sei”. Este “não sei” traz consigo muitos medos e muitas angústias.

Aos 14 anos  - ou até mesmo aos 18 anos - um adolescente está num processo de descoberta interna a tentar perceber quem é, quais são os seu verdadeiros interesses, a tentar descobrir qual a melhor forma de se relacionar e quais as coisas na vida que efetivamente lhe trazem gratificações autênticas. Logo, pedirmos a um adolescente que pense e decida qual a profissão que quer ter ao longo da vida não só é muito difícil, como é quase ‘contraproducente’, uma vez que em tantas dúvidas que um adolescente vive, encontrar-se e imaginar o seu futuro enquanto adulto implica uma grande maturidade e consciência de si que, regra geral, ainda não tem.

E é, por isso, que um adolescente tantas vezes fica tão perdido quando lhe pedimos que decida. Afinal como pode decidir se ainda não se consegue encontrar-se a si próprio de forma plena? Por vezes, no limite, tudo aquilo que um adolescente está a experienciar gera-lhe tantas dúvidas, que é muito difícil fazer uma equação de síntese e perceber “afinal quem sou eu e qual é a área, ou a profissão, que me vai trazer realização e combinar comigo pela vida fora?”

Há alguns adolescente que até têm algumas ideia, no entanto, são muitas as questões que pairam sobre as suas cabeças, como por exemplo, não optar por determinadas áreas para não dececionar os pais com uma escolha que não era a expectável, ou, não optar porque, apesar de gostar muito de determinada área, não atribui o estatuto social desejável, ou simplesmente porque apesar de se sentir inclinação para alguma área, o medo de falhar e de não estar a altura dessa área é tão grande que preferem nem sequer tentar.

Assim, antes de exigirmos a um adolescente que seja capaz de escolher a área profissional, devemos ser capazes de lhe dar espaço e promover o seu autoconhecimento, para que, depois, seja capaz de tomar uma decisão em consciência e plena. Sendo certo que, nestas circunstâncias uma Orientação Vocacional pode assumir uma função primordial na tomada de decisão, uma vez que permite com base nas características de personalidade, nos recursos cognitivos e nos interesses de cada adolescente traçar um caminho que de forma mais eficiente lhe permita encontrar uma profissão onde possa crescer pela vida fora, dando asas aos sonhos e mantendo-se autêntico e alinhado consigo próprio. Porque, nunca nos podemos esquecer, que aquilo que é mais importante chegada à hora de escolher uma profissão é sermos capazes de encontrar uma profissão que nos mantenha para sempre  - independentemente dos sobressaltos - ligados a nós próprios e à vida, mantendo acesas cada uma das nossas melhores características.

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.