Ser exemplar na educação dos meus filhos! Muito provavelmente, este sempre foi, é e continuará a ser o desejo de qualquer pai e de qualquer mãe, um pouco por todo o mundo. Possível de realizar? Com certeza que sim! Fácil? Se calhar, não... É que isto das relações entre pais e filhos tem muito o que se lhe diga. Aliás, talvez por isso, este tema seja tão recorrentemente debatido, estudado e alvo de dissertações por parte de terapeutas familiares e de outros profissionais.
Lídia Weber, psicóloga brasileira que há muito trabalha a interação entre pais e filhos, escreveu, há uns anos, "Eduque com carinho", um manual que se desdobra em dois livros que se complementam, um para os pais e outro para os filhos. "Não há um manual da perfeição, mas atualmente existem respostas claras e precisas sobre como a criança aprende a comportar-se e o que é importante para o desenvolvimento infantil nas interações entre filhos e pais", explica.
O exercício da educação deve, na opinião da especialista, ser uma parceria entre os dois polos. Esta obra didática de Lídia Weber sobre a psicologia familiar, que lhe resumimos de seguida, pretende guiar os pais para que sejam mais seguros e participativos e, assim, ajudarem os filhos a tornarem-se responsáveis, autónomos, competentes, autoconfiantes e afetivos. Despertámos-lhe a curiosidade? Então venha daí conhecer os segredos de uma educação positiva! São 12 os princípios a seguir.
1. Dar amor incondicional
É a primeira das regras. "Quanto mais amada uma criança se sente, melhor ela aceita as regras e desenvolve amor e compaixão pelos outros", garante Lídia Weber. Por isso, ame o seu filho pelo que ele é e não pelo que ele faz. É fundamental fortalecer a autoestima e a capacidade de resiliência da criança.
"O relacionamento é um organismo com vida. Portanto, é preciso alimentá-lo, acalentá-lo e fornecer-lhe energia, todos os dias", aconselha a psicóloga. Lembre-se que o seu filho é único e especial e que não deve ser comparado com os outros. Se tem esse (mau) hábito, deve esforçar-se por perdê-lo rapidamente.
2. Conhecer os princípios do comportamento
É preciso perceber por que razão uma criança se comporta de maneira errada e agir em conformidade. "Um mesmo tipo de comportamento pode ter diferentes motivações e consequências em diferentes momentos", sublinha Lídia Weber. "Não ceda e nunca recompense um comportamento negativo como a birra, a manipulação, os gritos ou a agressão. Descreva o que o seu filho faz em termos de comportamentos e não de rótulos de personalidade", sugere.
3. Entender o desenvolvimento de uma criança
É outra das fases do processo. "Às vezes, a criança não tem a intenção de se comportar mal, mas sucede que isso acontece", sublinha a psicóloga. Os pais devem, por isso, conhecer os comportamentos e as necessidades próprias de cada idade da criança.
Assim, perceberão que há uma série de atitudes que são normais consoante a fase em que o seu filho se encontra. Nem sempre um mau comportamento é uma provocação. Por isso, seja um guia, ensine e não julgue ou condene sempre as atitudes negativas do seu filho.
4. Promover o autoconhecimento
Também aqui (mais) informação é (mais) poder. "Conhecer-se a si mesmo permite que a pessoa tome consciência das suas características individuais e sobre as suas expetativas sobre os seus filhos", explica a autora. Importa perceber que tipo de pai ou de mãe é e que práticas educativas parentais usa para disciplinar.
Se é do estilo autoritário (muito limite e pouco afeto), permissivo (pouco limite e muito afeto), negligente (pouco limite e pouco afeto) ou participativo (muito limite e muito afeto), isso vai afetar a interação com a criança. Idealmente, uma boa educação deve incluir, de forma equilibrada, limites e regras, afeto e envolvimento.
5. Estimular a comunicação positiva
Procure comunicar de forma positiva e clara com o seu filho, para o ajudar também a expressar os seus sentimentos. Segundo Lidia Weber, existem algumas frases e expressões, autoritárias ou derrotistas que deve evitar, como é o caso de "Não, porque não e pronto!" ou "Não tens mesmo jeito para nada".
Ao invés de afirmações desse tipo, use frases e atitudes positivas no seu dia a dia. "Acentue sempre o lado positivo, elogie, recompense, mostre entusiasmo, sem exageros ou falsidades, peça desculpa quando necessário for e diga obrigado e se faz favor aos seus filhos", aconselha a especialista brasileira.
6. Incentivar o envolvimento
Disponha de tempo para estar com os seus filhos. É fundamental envolver-se e participar integralmente na vida da criança sem ser intrusivo. "Um dos fatores mais fortes de proteção para a criança é o nível de envolvimento dos pais na sua vida", afirma a psicóloga, que deixa um conselho. "Construa memórias felizes na vida do seu filho. Ele poderá esquecer os brinquedos que teve, mas nunca os momentos especiais que passou consigo, que são insubstituíveis", assegura.
7. Usar consequências positivas para reforçar, elogiar e/ou valorizar
Apresente consequências ao comportamento adequado, incentivando-o. Reforce, elogie, recompense e mostre orgulho. Deste modo, estará a valorizar o comportamento do seu filho. Promova um clima familiar carinhoso no qual a criança se sinta aceite, orientada e apoiada.
Nunca é demais lembrar que a criança precisa de limites, de estrutura, de regras e de consistência, mas sempre com carinho. Assim, perante um comportamento inadequado, pense antes de falar e procure ser consistente, estabelecendo regras e consequências razoáveis.
8. Apresentar regras e supervisionar o comportamento
Regras e limites são fundamentais na educação de todas as crianças. "As regras devem ser sempre claras, consistentes, realistas e apropriadas à idade da criança e devem ser repetidas. Quando a criança é pequena, relembre-lhe as regras", explica a psicóloga. Além disso, devem ter supervisão e ser consistentes. Já que o seu filho não é um robô, mais cedo ou mais tarde, quebrará as regras para desafiar e testar até onde pode ir. Seja firme.
9. Ser consistente
Os rituais do quotidiano são, além de necessários, positivos, a par dos comportamentos consistentes e da coerência entre os pais, que deve ser uma constante no quotidiano. Lídia Weber defende que "a consistência constrói confiança". Ser consistente é aplicar as mesmas regras sempre com o mesmo fim.
Se uma regra é quebrada muitas vezes, verifique se a culpa é da regra, da falta de consistência ou da ausência de supervisão. Evite estabelecer uma regra quando não tem a certeza de que será consistente em relação a ela. As crianças vão testar sempre a sua firmeza, por isso só lhe resta ter muita paciência.
10. Não usar punição corporal mas aplicar consequências lógicas
Se a criança se porta mal, deve ser castigada, mas bater-lhe nunca deve ser a primeira opção. "De um modo geral, a punição não é eficiente como método para se eliminar um comportamento", defende a psicóloga brasileira Lídia Weber. O uso da punição pode trazer danos psicológicos e consequências muito negativas ao desenvolvimento da criança.
Os pais devem ter em mente que existem sempre alternativas à punição corporal, tais como o diálogo, ignorar alguns comportamentos que não sejam a agressividade, estabelecer castigos ou penalidades e apresentar consequências lógicas do tipo "Deves fazer os trabalhos de casa antes de sair para jogar à bola, senão, amanhã não podes jogar", sublinha.
11. Representar um modelo moral
É outra das responsabilidades dos pais. "O seu modelo de relacionamento com o seu cônjuge será um modelo de relacionamento conjugal para os seus filhos", adverte Lídia Weber. "O clima do seu lar deve ser um porto seguro onde os membros da família querem voltar e onde se sentem amados e seguros", sublinha a especialista.
Trate os seus filhos e o seu cônjuge com respeito, pois, se existir consideração e amor, o ambiente e os laços familiares serão reforçados. Aja como gostaria que o seu filho agisse e represente um exemplo nesse sentido. Se determinada regra for diferente para adultos e crianças, explique ao seu filho o porquê dessa situação.
Lembre-se sempre que a sua família é preciosa, por isso evite descarregar problemas de outra ordem nas pessoas que ama. Treine comportamentos de autocontrole com regularidade se for caso disso e, quando estiver aborrecido, pense, conte até 20, isole-se um pouco, mas não ofenda, não grite e não humilhe quem estiver por perto.
12. Educar para a autonomia
Não sufoque o seu filho. "Educar com qualidade e de maneira positiva compreende duas atitudes aparentemente antagónicas, que são estar envolvido e deixar a criança encontrar o seu próprio caminho", revela a psicóloga. Eduque para a autonomia, primeiro dê raízes e, depois, asas. Saiba que amar um filho passa também por permitir a sua independência. "Ensine a criança a refletir sobre as escolhas mas não decida tudo por ela", sugere a especialista.
"Promova o comportamento de autonomia aos poucos, mas supervisione sempre. Não deixe a criança em perigo. Os pais é que devem ser o porto seguro. As crianças também devem aprender com os erros, devem passar pelas contingências e não somente aprender por serem sujeitas a regras. Se não houver perigo, deixe que a criança decida por ela e, se for uma má decisão a que ela tome, faça com que aprenda com o seu erro", aconselha ainda a psicóloga brasileira.
Texto: Sónia Gomes da Costa com Lídia Weber (psicóloga)
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