Ana e Miguel viveram juntos durante 14 anos. Meses depois da separação, um processo complicado marcado por (muitas) discussões e até confrontos físicos, reencontraram-se um dia na rua, por acaso. Acabaram em casa dela. Na cama. Depois do sexo, fumaram um cigarro, ela ofereceu-lhe um café que ele recusou e voltou cada um à sua vida. Seis meses mais tarde, ele telefonou-lhe. Ela foi ter a casa dele. A história repetiu-se mais algumas vez, até Ana emigrar.
Uma investigação internacional, tornada pública em 2014, diz que ter relações sexuais com o(s) ex-companheiro(s) pode, afinal, ser saudável. Mas, cuidado, se ainda houver ligação afetiva, o melhor é não cair em tentação. Os números não deixam dúvidas. A percentagem de homens e mulheres que se envolve sexualmente com o ex-companheiro, ao contrário do que se poderia pensar, não é assim tão pequena.
Num estudo realizado pela Universidade de Arizona, nos EUA, cerca de 82% dos participantes disse que mantiveram o contacto com o(a) ex-companheiro(a) e 21% confessou que tinham tido relações sexuais após a separação. Mas o mais surpreendente é a conclusão dos cientistas que levaram a cabo a investigação, para quem o sexo ocasional entre antigos casais aumenta a autoestima e pode ajudar a aliviar a dor da separação.
Uma conclusão que não deixa de ser intrigante. Então, a proximidade inerente ao sexo não poderá dificultar o processo de luto, que é fundamental para uma separação saudável? Um especialista, habituado a acompanhar alguns casos de relacionamento pós-separação no seu consultório, explica quando podemos ceder à tentação e quando nos devemos (mesmo) manter longe da cama dos nossos ex-companheiros.
Quando é que se pode ceder?
O estudo da Universidade de Arizona, que envolveu 137 adultos com relações terminadas recentemente, concluiu que as pessoas que não conseguem ultrapassar o fim de um relacionamento têm menos qualidade de vida e que, ao manterem relações sexuais esporádicas com os antigos companheiros, aumentam a sua autoestima e o grau de felicidade. Para os investigadores, satisfazer o desejo sexual é uma parte importante no processo de luto, mesmo que seja com a pessoa que ainda se ama.
Os casais são assim incentivados a manter uma amizade colorida. Fernando Mesquita, psicólogo clínico e sexólogo, reconhece que o estudo tem algum ponto de verdade, no entanto, alerta que esta é uma conclusão perigosa e que não se pode generalizar. «Quando os encontros sexuais surgem após algum tempo, em que ambos os elementos do casal puderam fazer o luto da relação, é possível que ambos possam tirar algum proveito», refere o especialista.
«O sexo casual, com um ex, pode ser bastante excitante, pois além de saberem os desejos mútuos, acarreta a ideia de proibido que potencia a produção de adrenalina e apimenta a relação sexual», acrescentou ainda em declarações à revista Saber Viver. Contudo, alerta que «é importante que os propósitos desses encontros sejam claros, para evitar que sofram. Caso contrário, no dia seguinte, podem surgir sentimentos de culpa ou incerteza».
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Quando é que se deve resistir?
Se ainda pensa muito no seu ex-companheiro e sente que ainda nutre algum sentimento especial por ele, quer dizer que, muito provavelmente, ainda não conseguiu esquecê-lo. E, nesses casos, o melhor é resistir à tentação e colocar a razão à frente do impulso. O sexólogo alerta que o risco de vir a sofrer, após uma noite de sexo com o ex é ainda maior quando ainda não fez o luto da relação, «pois pode comprometer a estabilidade emocional e criar falsas expectativas de uma reconciliação».
Segundo o especialista, esta atitude também pode ser «reflexo de uma baixa autoestima, receio de se aventurar em conhecer novas pessoas, por comodidade ou insegurança, e medo de não conseguir superar a separação». O coordenador da investigação da Universidade de Arizona, Ashley Mason, também reconhece que manter esta relação de proximidade entre ex-companheiros pode impedir que outras pessoas se aproximem, impossibilitando o surgimento de uma nova relação.
Não caia numa relação iôiô
Alguns reencontros com o ex-companheiro podem acabar em relações iôiô que ora recomeçam, ora terminam. E esta parece ser uma tendência em crescimento. Num outro estudo norte-americano que analisou os padrões de relacionamento daqueles que classificaram como sendo os adultos emergentes (adolescentes e jovens adultos), os investigadores concluíram que 44% dos que estavam num relacionamento romântico, nos últimos dois anos, tinham tentado, pelo menos, uma reconciliação com o ex-parceiro.
«Acaba por ser um ciclo vicioso e uma situação injusta para um novo relacionamento», alerta Fernando Mesquita. «Algumas novas relações não resistem e terminam, dando espaço para o reencontro entre os ex que, uma vez que não amadureceram ou trabalharam as questões que os afastaram, acabam por cair no mesmo ciclo», explica ainda o especialista português.
As relações pós-divórcio
As recaídas não acontecem só na fase de namoro e existem casais, mesmo depois de divorciados, que voltam a envolver-se, muitas vezes (poucos) anos depois. «O aumento crescente do número de divórcios, nos últimos vinte anos, também fez aumentar, naturalmente, os relacionamentos pós-divórcio», referiu também Nuno Amado, psicólogo clínico, especialista em psicologia do amor, à publicação feminina.
Num ex-casal, há muitos fatores envolvidos que são favoráveis à reaproximação, segundo este especialista. «Houve uma altura da vida em que estiveram muito atraídos um pelo outro. Por outro lado, a mudança que o divórcio acaba por desencadear (muitos passam a ver a vida de outra forma) e as experiências amorosas mal-sucedidas, na fase pós-divórcio, podem fazer valorizar os parceiros anteriores», diz.
Esquecer o ex e seguir em frente
Segundo Fernando Mesquita, as recaídas acontecem, geralmente, em pessoas que ficam presas, por algum motivo, à ex-relação, principalmente em termos sexuais. «Apesar de, muitas vezes, terem consciência de que é uma relação sem futuro ficam como que dependentes do sexo que tinham», explica o especialista, alertando que «isso leva a que, mesmo em relações futuras, estejam constantemente a comparar o que têm com o que tinham».
«Na verdade, não conseguiram quebrar o elo de ligação com o ex», revela o especialista. Para recomeçar, o processo de luto é fundamenta. Fernando Mesquita dá uma ajuda e sublinha que é importante pensar que tudo fez parte de uma aprendizagem, na qual houve experiências positivas e negativas, mas que se deve seguir em frente e usufruir de novas experiências, como geralmente aconselha.
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3 passos para se envolver com um ex-namorado sem riscos
1. Reflita sobre o motivo real que a leva a querer envolver-se com o ex. Tem esperança que isso ajude a uma reconciliação? Quer fazê-lo para não se sentir só? Porque mais vale tê-lo pouco tempo do que não o ter tempo nenhum? Esse passo não vai fazer com que se mantenha presa ao ex?
2. Faça uma auto-análise dos motivos reais para se envolver com um ex namorado. Se ainda nutre sentimentos por essa pessoa é preferível proteger-se e evitar um vínculo sexual, pois isso só irá dificultar o processo de luto da relação. É preciso que conheça os seus limites e que saiba ou consiga efetivamente respeitá-los. Nunca ouviu dizer que longe da vista longe do coração?
3. Avalie até que ponto os vossos interesses são compatíveis. Os dois estão realmente na sintonia de que estes encontros são meramente uma troca de prazer físico ou existe outra intenção por parte de algum?
3 situações em que não deve ceder
Não faça sexo com o seu ex se:
- Pretende procurar outra relação.
- Um dos elementos ainda não ultrapassou o fim da relação.
- Ainda estão dependentes emocionalmente, o que pode dar origem a relações que, volta e meia, terminam e recomeçam sem saírem deste ciclo vicioso.
Veja na página seguinte: 2 testemunhos de ex-casais que voltaram a ir para a cama
2 testemunhos surpreendentes
«Oito meses depois, reencontramo-nos e acabámos na minha cama. Nunca tinha tido tanto prazer com ele», dasabafa Sara Alves (nome fictício) de 27 anos. «Sempre valorizámos o diálogo e a honestidade e, por isso, tivemos uma separação saudável. Mantivemos o contacto e alguns encontros regulares, como amigos. A questão da separação estava bem resolvida e ambos sabíamos que o melhor era seguirmos caminhos separados», recorda.
Mas houve um dia em que o desejo falou mais alto. «Oito meses depois de termos terminado e minutos depois de uma conversa ao telefone, ele apareceu em minha casa e acabámos na minha cama. Por incrível que pareça, nunca tinha tido tanto prazer. Foi a prova de que a velha máxima de que o fruto proibido é o mais apetecido faz mesmo sentido», refere ainda Sara Alves.
«Tive medo do que poderia vir a sentir mas, a verdade, é que não fui invadida por nenhum sentimento negativo. Pelo contrário, acordei mais bem-disposta, bonita e confiante. Sempre soube que aquela noite se resumia simplesmente aquilo: a um momento de puro prazer sexual e nada mais. Hoje, continuamos amigos, mas sem encontros sexuais, porque percebemos que esta era uma situação que não podia ser prolongada», diz.
Cristina Fonseca, 31 anos, também voltou a cair em tentação. «Para mim, ele era uma história mal resolvida e ter voltado a estar com ele tranquilizou-me», afiança hoje. «Desde que terminámos sempre tentei uma reaproximação, mas ele mantinha uma postura irritante do dá e tira. Sou persistente e acabámos por marcar um encontro. A sedução, os jogos de palavras e metáforas, a dança à meia-luz... Tudo estava perfeito naquela noite», relembra.
«Acabámos por fazer amor e foi óptimo como sempre. Era ele. E continuava a conhecer e a explorar o meu corpo como ninguém, mesmo depois de quase três anos afastados. Para mim, ele era uma história mal resolvida e ter voltado a estar com ele tranquilizou-me. Eu, que tinha aquela imagem dele como o melhor homem do mundo, percebi que afinal só o via dessa forma porque o amava de mais», sublinha.
«A imagem do homem que eu comparava a todos os outros e que saía sempre a ganhar desmistificou-se. Além disso, aquela noite melhorou a minha autoestima porque mal o beijei percebi que ainda mexia com ele. Desde aquela noite temos mantido algum contacto. Claro que gostava que reconquistássemos o que perdemos, mas não estou com muitas ilusões», conclui.
Texto: Sofia Santos Cardoso com Fernando Mesquita (psicólogo clínico e sexólogo)
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