A Ownever nasceu em plena pandemia e muito alinhada com o compromisso da sustentabilidade. Que balanço faz deste primeiro ano de atividade?

Um excelente balanço. A marca tem recebido muito amor não só nacional como internacionalmente. Desde o primeiro dia em que comecei a pensar na Ownever (mesmo antes da pandemia começar) já sabia que um dos pilares seria a ética, que engloba a sustentabilidade. Sempre quis criar algo que não fosse efémero e que valorizasse o savoir-faire português. Acredito que o design e a moda podem ser um veículo de mudança, mas sou contra o fast-fashion que desvaloriza o trabalho, o processo e os trabalhadores. Por isso foi fácil perceber que o caminho a seguir seria este.

Em apenas um ano de vida a marca já foi dada como exemplo pelo seu trabalho na área da sustentabilidade e do Lifecyle Luxury pela Springwise, e arrecadou os prémios de Design Sustentável e Responsabilidade Ambiental com a carteira 2157, por isso sim foi um excelente ano.

A marca é sobretudo um projeto de mulheres, desde a idealização à conceção. Considera que tem de enfrentar mais desafios?

Claro que sim. O setor dos negócios ainda continua a ser dominado por homens e continua a ser muito mais difícil para uma mulher impor-se. E os números falam por si. Apesar de os estudos mostrarem que empresas lideradas por mulheres são mais seguras para investidores e gerarem mais lucro, as start-ups fundadas por mulheres recebem menos financiamento.

Em novembro de 2021 lançou a mala 2157. Qual a sua história?

A Ownever 2157 é uma edição especial que alerta para o problema da desigualdade salarial entre géneros, salientando o número 2157. Segundo o Word Economic Forum, este é o ano em que atingiremos a igualdade de género, incluindo a igualdade salarial. Com o fenómeno da pandemia, recuamos uns adicionais 36 anos. Já pensou que nenhum de nós estará vivo para presenciar este dia?

Esta mala é sobretudo um statement em relação a este tema. Por que razão a Eliana decidiu associar a sua marca?

Somos uma marca criada por mulheres e somos acima de tudo uma marca que se preocupa com quem e onde atua. É impossível, depois de saber estes números, a nossa cabeça não questionar: o que é que está ao meu alcance para mitigar de alguma forma esta realidade? Por vezes, pequenos gestos fazem a diferença, e neste caso, oferecer manutenção durante este tempo (135 anos), como deve imaginar, não existe propriamente lucro. Por isso, de alguma forma, sinto que estou a ajudar as mulheres que usam esta carteira. Tenho um orgulho enorme quando mulheres, e homens, adquirem esta edição especial e agradecem por ter chamado a atenção deles para esta realidade. Todos podemos sempre fazer qualquer coisa mais para mudar a nossa realidade para melhor. Este é só um pequeno exemplo.

Qual o papel que a moda pode assumir para ajudar a combater desigualdades?

Acredito que a moda pode ser um veículo de mudança e que tudo o que fazemos pode ser feito da forma certa, mesmo nesta indústria complicada. Alertar para este tipo de temáticas através de campanhas é um dos meios que, enquanto marca, podemos usar. Mas há muitos outros, como educar a nossa comunidade para estes temas.

Uma marca como a Ownever também tem responsabilidade social. Por isso temos a responsabilidade de dar a conhecer os números, de dar a conhecer as realidades boas e más, e de escolher trabalhar apenas com parceiros que estejam alinhados com os nossos valores. As outras marcas de moda podem fazer o mesmo, é sempre uma opção, nunca uma necessidade.

De que forma a Eliana pretende continuar a contribuir para ajudar a combater esta desigualdade?

Acho que é importante continuar a dar palco para este tipo de temas, criar produtos bem feitos, de forma ética, onde conhecemos como, por quem são feitos e em que condições. Mas também dar a oportunidade de os nossos clientes fazerem parte desta mudança. Por exemplo, nós não fazemos apenas carteiras, nós também reparamos carteiras de outras marcas como Chanel, Hermès, ou outra marca que uma cliente tenha e precise de ser reparada. Afinal porque é que se precisa de carteira nova, quando podemos reparar a que já temos?