As históricas Maria Gambina e Katty Xiomara inauguraram a passerelle no último dia de desfiles. Na coleção de Maria Gambina há memórias de férias passadas na praia do Furadouro que são materializadas em peças de construção gráfica, estampados divertidos e cores primárias. Riscas formadas pela união de coloretes remetem-nos a camisolas de marinheiro assim como, quando apresentadas estampadas ou em encaixes, para as barracas de praia.
Estampados gráficos, com a forte identidade da marca, surgem agora com a aplicação do patch M do logotipo da designer mas agora apresentados na vertical formando um E. Uma nova visão na apresentação gráfica do logotipo MG que surge desconstruído ou cortado mas sempre identificativo. Peças oversize em turco aconchegam saídas de praia frias em praias nortenhas. A memória do característico azul royal da caixa metálica dos bolos vendidos na praia por uma senhora toda de branco, o amarelo e vermelho do nadador salvador sempre atento a um mar perigoso que metia respeito, o brocado de colchas florais que cobriam camas de casas de pescadores. Os materiais são reciclados e orgânicos
Katty Xiomara lançou a coleção “Funambulando la Vida”, que é uma forma de definir o nosso caminho na corda bamba das nossas vidas. Onde o estado mais habitual é o desequilíbrio provocado pelos sopros de loucura que o vento lança na nossa investida. Esta coleção em tons de céu e alturas, revela um pouco dessa loucura e um pouco dessa cordura, equilibrando os contrastes: justos e largos, direitos e avessos, leves e volumosos, levando-nos ao imaginário real da vida.
Às duas designers seguiu-se a apresentação do projeto (re)veste, que promove a inclusão social e a empregabilidade de jovens portadores de deficiência ou com necessidades educativas especiais (entre os 15 e os 35 anos) através do desenvolvimento de competências sociais, pessoais, digitais e profissionais são os grandes objetivos deste projeto. Para tanto, o (re)veste conta com oficinas de customização de roupa, nas quais se está a criar uma marca a partir da transformação de vestuário. A ideia é comercializar as peças executadas pelos beneficiários do projeto numa loja online e em eventos, promovendo assim a criação de empregos. Miguel Flor é o responsável pelo desenvolvimento da marca, contando o projeto com o apoio da indústria têxtil e de vários parceiros institucionais.
Ainda no último dia do 49.º Portugal Fashion destaque para a subida à passerelle principal da coleção de Carolina Sobral. As roupas Carolina Sobral são fáceis de ”ler” e usar, essa é a sua força.
O desenvolvimento de peças de roupa que colocam o conforto e a funcionalidade em primeiro lugar é o princípio fundamental de cada coleção. Alimentado por um design que compreende instintivamente as
necessidades de mudança do consumidor moderno e que se adapta ao ritmo. O objetivo da coleção SS22 era não parecer complicada. Vestidos, leves e fluídos e peças fáceis de combinar entre si, em tecidos confortáveis com um brilho subtil para adicionar um toque deelegância até mesmo aos looks mais simples. Brancos, crus, beges e tons de cinza com apontamentos de amarelo manteiga e laranja vibrante transmitem uma sensação de serenidade e energia
As propostas de calçado ficaram a cargo de oito marcas nacionais (Ambitious, Fly London, Gladz, J. Reinaldo, Leathergoods by Belcinto, Mariano, Nobrand e Rufel), e as criações minimalistas de inspiração oriental foram trazidas pela marca DAVII.
No menswear arrojado de Hugo Costa foi possível ver uma inspiração no espírito irreverente de Axel Rose e dos Guns’n’roses, com elementos do styling vanguardista que o caracterizava e distinguia naquele período, e representa todo o imaginário que gravitava à volta de uma estrela desta dimensão no auge do Glam Rock.
No encerramento do evento pudemos assistir à coleção de os decanos da moda nacional, José Manuel Gonçalves e Manuel Alves. Experimentalismo, elegante, calmo, respostas não óbvias para as peças de vestuário, reworking de algumas peças de vestuário em tons de preto, rosa, branco e técnicas difusas em termos de estampagem estiveram na ordem do dia.
Alexandra Moura foi a penúltima do dia com a apresentação da coleção “Trust Your Vision”. Depois de Milão, onde antecipou a primavera-verão 2022, a designer que está quase a completar 20 anos de carreira apresentou coordenados onde mistura notas punk e mais underground com inspirações românticas, estando o rosa em destaque. A coleção combina o urbano com o clássico, sobressaindo as
assimetrias, as sobreposições, as malhas, os conjuntos do avesso e as várias mangas Uma coleção repleta de momentos, detalhes, conceitos e visões que foram referências dentro da marca ao longo dos últimos 20 anos. No ADN Alexandra Moura com a sua carga romântica vs. underground, clássica vs. sport, os seus valores éticos e estéticos são pilares e marcam a maturidade do trabalho.
Estas 2 décadas são celebradas com a colaboração do fotógrafo Rui Aguiar, que colabora com a marca desde o seu início. As suas fotografias trazem beleza à coleção com momentos cronológicos de coleções passadas ou com imagens conceito como as flores, elemento de exploração constante. As suas fotografias inspiradoras acentuam nas peças a sua forte componente concetual e artística. As matérias-primas acomodam-se nos algodões, viscoses, jacquard turco, renda, cetim e na falsa pele. E são subvertidas pela silhueta. O tecido workwear ganha classicismo, bem como a felpa de algodão mercerizado e o jersey que tornam a sua carga urbana numa elegância disruptiva. A estética dos anos 90 com referências do final da década de 70 traz uma carga mais Punk-Rock à silhueta.
As cores impõem-se através do cor-de-Rosa, azul workwear, preto e bege. O monograma no knitwear, que sugere um rendilhado contraposto por um grafismo mais rock, e no jogo de volumes do jacquard turco de algodão, faz “saltar” as letras que compõem o nome da marca.
“Trust Your Vision” fala-nos dos últimos 20 anos, de processos intuitivos e experimentais e de uma visão própria do que é a moda.
Reveja esta edição do Portugal Fashion aqui.
Comentários