HealthNews (HN) – Que estratégias específicas estão a ser implementadas nas praias portuguesas para sensibilizar os veraneantes sobre a doença renal crónica?

Professor Edgar Almeida (EA) – Nesta campanha, estamos a ir ao encontro das pessoas nos locais onde passam o seu tempo no verão — neste caso, nas praias. Vamos estar em várias zonas balneares entre 9 e 16 de agosto com ações de sensibilização presenciais, distribuição de materiais informativos, com promotores disponíveis para esclarecer dúvidas. O nosso objetivo é alertar de forma simples e próxima para os riscos da Doença Renal Crónica e a importância do diagnóstico precoce — tudo com linguagem acessível e num tom positivo, para chegar ao maior número de pessoas possível.

HN – Como explicaria a aparente contradição entre a elevada prevalência da doença renal crónica e o baixo nível de consciencialização da população?

EA – Acredito que a principal razão é que se trata de uma doença silenciosa nas suas fases iniciais — ou seja, não causa dor nem sintomas evidentes. Por isso, passa despercebida até estar bastante avançada. Além disso, existe ainda pouca cultura de prevenção em Portugal, especialmente fora dos grandes centros urbanos. Muitas pessoas só fazem análises quando já sentem algum mal-estar, e isso é tarde demais.

HN – Tendo em conta que Portugal apresenta das taxas mais elevadas da Europa em diálise, que medidas preventivas poderiam ser implementadas para reduzir estes números?

EA – Na minha opinião, acho importante atuar cedo: haver maior prevenção e diagnostico. A prevenção passa por medidas simples: análises de sangue e urina regulares, controlo da tensão arterial, alimentação equilibrada e vigilância nos cuidados de saúde primários. Se fizermos isto de forma sistemática, conseguimos travar a progressão da doença.

HN – De que forma a campanha “O Rim não Dói” pretende ultrapassar as barreiras de acesso aos cuidados de saúde primários?

EA – O nosso papel aqui é de consciencialização e capacitação. Ao estarmos nas praias e a circular nas redes sociais com mensagens educativas, pretendemos incentivar os cidadãos a marcarem uma consulta de rotina e pedirem uma análise à função renal. A literacia em saúde é o primeiro passo para a mudança de comportamento.

HN – Qual o impacto económico e social que a doença renal crónica representa atualmente para o sistema de saúde português?

EA – O impacto é imenso. Só a diálise representa um custo muito elevado para o Estado — tanto do ponto de vista financeiro, como em termos de recursos humanos e infraestruturas. Mas mais do que isso, a Doença Renal Crónica afeta profundamente a qualidade de vida dos doentes: limita a autonomia, obriga a adaptações no trabalho, na alimentação, nas rotinas. E muitas vezes, acarreta sofrimento emocional e isolamento social.

HN – Como avalia a atual capacidade de resposta dos centros de diálise em Portugal face ao crescente número de doentes?

EA – Cerca de 90% das pessoas que fazem diálise fazem-no em clínicas privadas convencionadas com o Estado. Estas clínicas têm sido capazes de se adaptarem às necessidades com oferta de melhor qualidade e de mais proximidade. Não antecipo problemas nesse domínio.

HN – Que papel podem ter os médicos de família na deteção precoce da doença renal crónica e que ferramentas adicionais necessitariam?

EA – Os médicos de família são os mais importantes profissionais de saúde para o combate à doença renal crónica uma vez que lhes compete fazer os rastreios das populações em risco (idosos, diabéticos, pessoas com doenças autoimunes, obesos, etc.) Também a eles compete o início do tratamento apropriado e a referenciação à C de Nefrologia quando adequado.

Entrevista de MMM

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