Em 2019, Eliana Barros decidiu trocar o marketing digital pela sua área de formação, o design de produto, e dedicar-se ao lançamento de uma marca de acessórios de luxo que enaltecesse o que de melhor se faz em território português. “Soube desde sempre que queria criar um produto bem feito, sustentável e que enaltecesse o design intemporal e a ética. E depois de muito refletir sobe estes pontos todos, juntei estas ideias já mais fundamentadas e a Ownever foi ganhando vida”, começa por explicar em entrevista ao SAPO Lifestyle sobre este o lançamento deste projeto.
Mas nem o contexto pandémico que estamos a viver e a competitividade do mercado assustaram a empresária de 29 anos sobre este desafio profissional que muitos classificariam de arriscado dado as dificuldades de inúmeras empresas. “Eu acredito que os acessórios fazem a diferença e que há sempre mercado para aquilo que é bem feito. E se há bom investimento que se pode fazer nos acessórios é numa boa carteira. Afinal, podemos usar uns jeans e uma t-shirt básica, mas se juntamos uma carteira incrível, tudo ganha vida”, refere Eliana Barros que encontrou na Hermès, conhecida pela qualidade, intemporalidade e design minimalista dos seus produtos, e no estilo francês uma referência para a Ownever. “Todas as criações da marca foram pensadas para durarem uma vida e serem passadas de geração em geração, abraçando a economia circular e assumindo uma posição completamente oposta ao fast-fashion”, diz.
Mas as semelhanças com a Hermès começam e acabam aqui. Contrariamente à marca francesa de luxo, os modelos da Ownever não ultrapassam os 550 euros, são confecionados com bio leather - pele natural que leva um tratamento vegetal à base de plantas que permite uma decomposição natural ao oposto da pele que é tratada à base de químicos - e feitos à mão na cidade de Braga por mulheres artesãs. “Fazemos peça a peça para cada cliente”, conta a empresária sobre o fabrico dos seus produtos cujo processo criativo pode demorar um ano. “Posso dizer que alguns modelos ficaram tal e qual como eu os idealizava logo no primeiro protótipo e outros foram feitos e refeitos várias vezes até ficarem perfeitos.”
Mas será fácil criar malas e carteiras de luxo a um preço acessível sem comprometer a qualidade? Para Eliana Barros nada é impossível, explicando que parte do segredo está no savoir-faire português, ou seja, mão de obra de qualidade. “Eu acredito que um produto de luxo não tem de ter um preço extremamente alto, tem de ter o justo, que pague um salário justo aos funcionários, que lhes permita ter boas condições, que não prejudique o meio ambiente. Acredito muito no saber-fazer Português, que muitas vezes não é suficientemente valorizado, e claro encontrei mulheres que são especialistas em fazer malas, com a experiência de várias gerações”, explica.
Consciente dos impactos da indústria da moda no planeta, a sustentabilidade da Ownever vai muito mais além da proveniência da sua matéria-prima. Para Eliana Barros o design do próprio produto é outro fator que deve ser tido em conta. “O design intemporal reforça a não necessidade de descartar a carteira após uma estação, bem como o tom preto, que segundo estudos que fiz, é a cor que as pessoas preferem de forma mais intemporal. Acredito que assim é possível conseguir que a necessidade de consumo diminua, e cada vez mais se opte pelo pouco e bom, e se mantivermos esse pouco por muitos anos, vamos estar a atribuir o verdadeiro valor a cada peça.” Outro ponto diferenciador é o facto de a marca oferecer manutenção vitalícia a todos os clientes. Ou seja, se a mala se estragar a Ownever tem disponível um serviço de restauro prolongando assim o tempo de vida dos seus produtos.
Montmartre, 7th, 11th, Saint-Germain e Marais foram os nomes escolhidos para os cinco modelos criados pela marca – uma homenagem aos diversos arrondissements parisienses (responsáveis por dividir a cidade em 20 bairros) — e que mais uma vez refletem a admiração da fundadora pelo estilo francês. E se pudesse escolher uma figura feminina francesa para usar os seus acessórios quem escolheria? “Se só pudesse escolher uma mulher francesa, ficaria extremamente feliz se a Emmanuelle Alt — editor-in-chief da Vogue Paris — usasse uma mala Ownever”, conclui.
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