Entre a história e a lenda, a sericaia, ou sericá, voga há séculos no receituário da doçaria alentejana e na mesa nacional mais gulosa. Uma magia que se faz da união entre ovos, farinha, leite, açúcar, canela e casca de limão. Ingredientes que, em pratos de cerâmica, recebem o calor de forno bem quente. Há de este calor abrir fendas na cobertura deste doce para saborear à colher.
A recriar esta tradição doceira de origens indefinidas, entre a Ásia, o Brasil e casas conventuais alentejanas, Francisco Barroso lançou mão do projeto Sericaia Gourmet.
Sem revelar a fórmula da receita que dá corpo à marca nascida em setembro de 2020, Francisco e a equipa não se escusam em publicar no perfil da marca no Instagram o processo tradicional de feitura do doce que culmina em sericaias encorpadas como soufflé, acabadas de deixar o forno. Isto, para logo de seguida exalarem, aconchegando-se dentro do prato de barro que as levou ao forno.
Ao consumidor, estas gulodices com sabor a Alentejo, tradicionalmente servidas com uma boa Ameixa de Elvas, chegam através de “encomendas efetuadas exclusivamente online, com entregas em todo o território continental”, como sublinha o criador do projeto.
De momento a marca reserva quatro modalidades de embalagem, “com caixas com dose individual (3,50 euros), caixas médias (12,5 euros), Sericaia grande em prato de barro (35 euros) e Ameixas de Elvas (apresentada em frascos de diferentes tamanhos)”.
Sobre o berço da sericaia, há mais de 400 anos, não existe consenso, com referências a origens indianas, brasileiras e portuguesas.
A este propósito o gastrónomo Alfredo Saramago refere na sua obra de 2000, “Gastronomia e Vinhos do Alentejo” que “a dúvida nunca mais se resolve. Uns dizem que a receita veio da Índia (de onde terá chegado no século XVI pelas mãos de D. Constantino de Bragança, sétimo vice-rei da Índia], outros que ela veio do Brasil. O que é certo é que desde os tempos da nossa Expansão que a sericaia ou sericá era executada, com todo o esmero, por dois conventos alentejanos que se arrogavam de direitos de importação da receita”.
São estes conventos, o das Chagas de Cristo, em Vila Viçosa, (onde o doce se apelidou de Sericaia) e o das Clarissas, de Elvas (Sericá). Nesta última casa, juntou-se canela à receita.
História à parte, a página online que lista os Produtos Tradicionais Portugueses adoça-nos a leitura com a receita da sericaia: “batem-se as gemas com o açúcar, junta-se a farinha diluída no leite, que foi previamente fervido com casca de limão e canela. Coze-se e juntam-se as claras batidas. O preparado é deitado às colheradas num prato de ir ao forno, alternando cada colherada disposta transversalmente no prato com outra colocada no sentido longitudinal. Coze em forno bem quente para abrir fendas. Comercialmente, apresentam-se em pratos de faiança de três tamanhos”.
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