Após vários anos confiante da existência de trufa em solo nacional com qualidade e quantidade para ser consumida, quando ninguém acreditava nessa possibilidade, nem mesmo a comunidade científica, o chef Tanka Sapkota apresenta agora uma trufa negra de verão de qualidade de excelência. “Até ao momento, encontrámos cerca de 15 quilos de trufa negra na zona de Alenquer e proximidades. Foi uma descoberta surpreendente que nos deixou bastante entusiasmados e convictos de que haverá muito mais quantidade em solo português”, comenta o chef Tanka Sapkota, chef executivo dos restaurantes Come Prima, Forno D’Oro, Il Mercato e Casa Nepalesa, em Lisboa.
A surpresa de encontrar trufa negra de verão no distrito de Lisboa pode ser um factor de desenvolvimento económico, sobretudo nas regiões envolvidas. “Antes de mais, penso que esta descoberta é importante para Portugal. Habituámo-nos a que a trufa viesse de fora e, portanto, poderá ter uma grande relevância a nível económico para o nosso país. Para o Município de Alenquer, particularmente, coloca-nos mais uma vez no mapa pelos melhores motivos. É um produto que podemos vir a considerar como endógeno de Alenquer e, se assim for pode, de algum modo, harmonizar com o nosso vinho que é excelente. E, por isso, vamos ganhar todos com esta descoberta. Para já, vamos acompanhar e perceber a dimensão da trufa na região, saber se é pontual ou pode ter uma produção contínua. Pela nossa parte, estamos disponíveis para acompanhar o chef Tanka neste processo, de forma a que possa vir a ser conhecida nacional e internacionalmente”, comenta Pedro Folgado, Presidente da Câmara Municipal de Alenquer.
A apresentação da trufa negra de verão em Portugal é o culminar de um trabalho desenvolvido pelo chef Tanka Sapkota, que há muitos anos que suspeitava da possibilidade de encontrar trufa em Portugal, com um “filão” capaz de uma exploração sustentada. Em 2023, o chef levou a cabo um trabalho de caça à trufa ao longo de várias semanas que o levou a percorrer várias zonas estratégicas do país, acompanhado por duas cadelas pisteiras e o caçador de trufas italiano Giovanno Lungo, com base em dados científicos e geológicos, em parceria com o Ministério da Agricultura, Ministério do Ambiente, Instituto Superior de Agronomia e as Universidades de Évora, Coimbra e Lisboa.
Este ano, o chef nepalês apaixonado por Portugal vê agora as suspeitas concretizadas com a obtenção de cerca de 15 quilos de trufa negra. “Ainda estamos a estudar esta trufa, mas há a possibilidade de ter características que a tornam única em solo português. Só depois destas pesquisas saberemos como cultivá-la noutros locais do país. Isto seria uma excelente notícia para Portugal, com a possibilidade de exploração desta iguaria, colocando-nos na rota turística dos apreciadores desta maravilhosa matéria-prima. Pela minha parte, tenho feito o possível enquanto cidadão, cabe agora às entidades governamentais prosseguir com as diligências necessárias para solidificar este processo. Eu, cá estarei para acompanhar e apoiar”, refere Tanka Sapkota.
A identificar esta trufa negra de verão em laboratório, estiveram envolvidas entidades académicas e científicas, nomeadamente a Universidade de Évora, o Instituto Nacional de Agronomia (ISA) e o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV). “Analisámos diversos exemplares e observámos os seus esporos (as estruturas reprodutoras que permitem ao fungo dispersar-se, uma espécie de semente do fungo) e estamos convencidos que se trata de uma trufa de verão (Tuber aestivum). Os resultados preliminares da identificação por técnicas moleculares parecem confirmar as observações macro e microscópicas, contudo ainda temos de efetuar o tratamento destes dados para ter 100% de certezas. Foi um achado fantástico, pois é o primeiro registo deste fungo para Portugal”, explica Celeste Santos e Silva, docente do Departamento de Biologia na Universidade de Évora.
A caça à trufa é quase um “desporto” para muitos aficionados. Esta espécie de fungo que se desenvolve no subsolo junto às raízes de árvores, como carvalho ou castanheiro, é tão difícil de encontrar que são necessários cães treinados que a detetam pelo faro. Colhida em regiões de clima temperado, como França e Itália, a sua escassez e dificuldade de colheita e transporte faz com que atinja um preço de mercado tão elevado que alguns países têm investido no seu cultivo. Ao confirmar-se a existência de quantidades em Portugal que permitam uma comercialização mais alargada, este facto pode ter impacto na economia local bastante significativo. “Estamos a falar de trufas que podem atingir um preço elevado por quilo. O que poderá, sem dúvida, trazer algum dinamismo às regiões envolvidas”, explica o chef.
Conhecido por ser um grande apreciador deste fungo precioso, o chef Tanka Sapkota chegou a trazer para Portugal uma trufa branca de 1.153 kg, em 2018, considerada como a maior da década no mundo. A mais rara e apreciada trufa, a trufa branca de Alba, colhida na região de Piemonte, em Itália, é todos os anos, no mês de novembro, servida num menu especial no restaurante Come Prima, em Lisboa, preparado por Tanka Sapkota, onde os grandes apreciadores ocorrem para degustarem esta iguaria tão delicada e escassa.
A mesma oportunidade vai ser dada a quem pretende degustar a trufa negra de verão encontrada em Portugal. Entre 29 de maio e 11 de junho, o chef Tanka Sapkota vai ter alguns dos pratos emblemáticos do Come Prima servidos com trufa negra de verão nacional.
Comentários