A Michelin, considerada uma das maiores fabricantes de pneus do mundo, foi fundada em 1889 por dois irmãos, Édouard e André Michelin. Há 12 anos com as portas abertas, os empresários traçaram uma estratégia que lhes permitisse fomentar a compra de automóveis em França e assim a aumentar a sua clientela. Foi com isto em mente que nasceu o Guia Michelin, que incluía dicas úteis para os automobilistas franceses que diariamente circulavam nas estradas.
O famoso livro de capa azul, que no ano de lançamento foi distribuído a 35 mil franceses, incluía informações diversas como onde encontrar as oficinas, hóteis, restaurantes, WC’s e bombas de gasolinas mais próximas.
Após ser alargado a outros países, nos anos 20 os irmãos Michelin decidiram não só passar a cobrar pelo Guia como procederam a algumas alterações a nível de conteúdo. Reza a história que os empresários decidiram começar a cobrar pelo livro após visitarem uma oficina que os utilizava como suportes de bancos, refere o site ‘Beyond’.
Uma das primeiras alterações foi a adoção das famosas Estrelas Michelin, um sistema de classificação de restaurantes que permita ao viajante distinguir as diferentes recomendações gastronómicas incluídas no guia. Outra delas, implementada em 1931, foi a alteração da cor do guia que passou de azul para o atual vermelho.
Os estabelecimentos com uma estrela Michelin – a primeira a ser criada - indicavam ao viajante que estavam perante um ‘restaurante muito bom’, os com duas indicavam que se trata de um estabelecimento com ‘cozinha excelente que merece um desvio’ e o de três – considerado o mais importante – indicava que se tratava de um restaurante com ‘cozinha excecional e que valia uma visita especial’. Recorde-se que só a partir de 1936 é que os irmãos decidiram alargar esta classificação para as duas e três estrelas, sendo que o seu significado permanece igual até aos dias de hoje.
Como se faz a avaliação e classificação dos restaurantes?
Este é uma pergunta que parece não ter uma resposta muito clara dado ao secretismo que, ainda nos dias que correm, persiste em torno daquela que é considerada a maior distinção que um restaurante pode receber.
“As estrelas não são dadas a um chef” começa por referir Michael Ellis, diretor internacional do Guia Michelin, à revista Vanity Fair. Encarregue de supervisionar todo o seu conteúdo editorial e atribuição das estrelas, Ellis esclarece melhor esta distinção. “Não é como um Óscar – não é uma coisa física. No fundo é uma opinião. É um reconhecimento.”
Mas quem é que faz a avaliação dos restaurantes que merecem ou não este reconhecimento? De acordo com a publicação norte-americana, este é um trabalho executado por uma equipa de inspetores anónimos que passam a vida a viajar e a visitar diversos estabelecimentos. Por semana estão incumbidos de fazer duas refeições diárias em restaurantes que serão avaliados posteriormente e de forma meticulosa.
“Nós ficamos eufóricos quando encontramos uma nova estrela ou quando voltamos a um restaurante com uma estrela que pode estar a caminho da segunda ou terceira. Isso é algo que ainda nos entusiasma”, revela uma inspetora anónima à revista.
Para se ser um inspetor da Michelin são necessárias várias semanas de treino onde lhes são passados uma série de ensinamentos que estão nos segredos dos deuses. Regra geral, grande parte dos profissionais que se tornam inspetores sempre mantiveram, de uma forma ou de outra, uma relação de proximidade com o mundo gastronómico.
“É necessário ter-se uma personalidade independente. É preciso aprender a trabalhar sozinho e em equipa. É preciso que não haja desconforto em jantar sozinho. Eu acho que, na maior parte do tempo, os inspetores vivem num estado de paranóia permanente. É esse o seu trabalho: serem a CIA mas com boa comida”, refere a mesma fonte.
Ao fazerem a avaliação dos restaurantes, existem diversos fatores que influenciam a distinção e futura inclusão no famoso guia, como é o caso da qualidade da comida e a vibração do restaurante. “As estrelas são atribuídas por aquilo que está no prato. [O restaurante] Não tem de estar inserido num ambiente opulento”, conclui.
O Guia Michelin para Portugal e Espanha, que à semelhança dos outros é revisto e atualizado anualmente, é lançado esta quarta-feira. Resta saber quais os restaurantes portugueses que terão direito às famosas estrelas.
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