Convenhamos, já aborrece olhar para o coco e coqueiro como os parentes pobres do postal “praias de areias brancas e águas cristalinas”. O coco merece melhor sorte do que ser visto, meramente, como o auxiliar de sabor tropical associado às sobremesas. O coco tem muita história e em seu socorro dizemos: É um grande navegador. Já foram encontrados exemplares a milhares de quilómetros da sua origem tropical, “cavalgando” as ondas na fria linha costeira da Noruega.

Para percebermos esta feição marítima do coco, recuemos umas centenas de milhares de anos. Algures, no seio do Oceano Pacífico, numa latitude tropical, um coco navega as correntes marítimas. Caiu de um coqueiro e há semanas que se mantém à deriva graças à sua natureza: casca lenhosa, com fibras e óleos. O coco trilha o oceano até que “tropeça” num areal. Encontrou terra e pode agora disseminar-se. Há de germinar e dar origem a um novo coqueiral. Como ele, milhões de outros cocos navegaram o mar, reproduzindo as suas características longe do seu território de origem, possivelmente a Malásia ou a Indonésia.

Gelo, rum, abacaxi e leite de coco, o mesmo é dizer Piña Colada. Vamos prepará-la?
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O coco e o coqueiro estiveram para muitas comunidades tropicais, um pouco como os suínos para os povos europeus. Do coco e coqueiro retira-se a seiva, a água, as fibras e a copra, ou seja, a polpa seca. A não esquecer, também, o refrescante “leite” de coco. Uma generosidade desta semente descrita já no século XVI pelo escritor, geógrafo e marinheiro veneziano António Pigafetta que, no seu diário de bordo, relatou os usos que as populações nativas de ilhas do Índico davam ao coco: “Tal como nós temos o pão, o vinho, o azeite e o vinagre, assim eles possuem o coqueiro. Com duas destas plantas, uma família de dez pessoas pode sustentar-se durante cem anos”. Até meados do século XIX, o coco foi a moeda utilizada nas ilhas Nicobar, a norte da Sumatra, no Oceano Índico.

Como em muitos outros produtos, onde viu potencial económico, o ser humano não aguardou pelos lentos processos naturais de disseminação. Acelerou-lhes as migrações e, no caso do coco, levou-o à boleia de embarcações. O coco terá chegado a África, há milhares de anos, à boleia das navegações árabes. Isto a partir do Oceano Índico, mais concretamente da Índia, onde era há muito utilizado como alimento e bálsamo.

Salada de fruta com leite de coco
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Em 60 a.C., um escrito, o “Périplo do Mar Eritreu”, lavrado em grego, refere a cidade hoje desaparecida de Rhapta, ponto de partida de embarcações carregadas de cocos.

Muito tempo volveria até que um curioso mercador veneziano do século XIII, Marco Polo, relatasse o espanto face ao coco. Havia o empreendedor chegado à Sumatra, Índia e Ilhas Nicobar e saboreado o coco. Sobre este tratou de escrever: “Saboroso, doce como o açúcar e branco como o leite”.

Também o britânico Sir Francis Drake, corria o século XVI, na sua viagem às ilhas de Cabo Verde, refere o coco: “Entre outras coisas encontradas, existia uma espécie de fruta chamada coco, não muito conhecida em Inglaterra”.

Portugueses e espanhóis não ficaram aquém no comércio do coco. Senhores de territórios tropicais, trataram de os aproveitar para cultivo do coco. A descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 1500, trouxe novas oportunidades ao fruto tropical. A paisagem brasileira mudava a partir de 1553. Os coqueirais não sendo originários daquele território, iriam tornar-se, séculos mais tarde, uma imagem de postal. Algo que os portugueses de seiscentos não imaginariam.

coco
coco créditos: David Clode

Na Europa, o primeiro exemplar de coco desembarcava em França corria 1674. Foi apresentado na Academia Francesa, pela mão de Charles Perrault. Uma novidade no velho continente, não obstante a já longa história de contacto de navegadores com a planta tropical.

Coube ao inglês J.W.Benett a honra de, corria o ano de 1831, fazer do coco uma estrela na Europa. Sobre o fruto do coqueiro escreveu-se um tratado, listando as muitas utilizações e propriedades do óleo de coco.

Bolo veludo de coco
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Face ao interesse crescente da Europa pelo coco, nomeadamente a sua união ao também importado açúcar-de-cana, houve que agilizar processos e reduzir custos de transporte. A parte comestível do coco degradava-se fora do seu invólucro natural. O mesmo era volumoso e pesado. Levou tempo. Só em finais do século XIX, uma companhia britânica sediada no Sri Lanka (então Ceilão) encontrou uma solução engenhosa. Desidratava a polpa do coco. Na época, seis mil toneladas de coco assim tratado demandaram à Europa. Numa década, o número passou para as 60 mil toneladas.

Os Estados Unidos teriam de esperar pelas vésperas do século XX para conhecerem o coco. O mercado resistiu por décadas à nova semente. A cidade de Filadélfia viu quebrada a resistência. Pela mão de um homem, Franklin Baker. Recorreu a um expediente que não nos pareceria estranho nos nossos dias. Entregou o coco nas mãos de pasteleiros. Poucos anos volveram e as fábricas de Franklin prosperavam com as tartes e cremes de coco. A gulosa América rendia-se.