É numa das salas da associação que o forno está ligado e o pão coze à espera de ficar crocante e ser distribuído pelas escolas e pelos fregueses.
A responsável pelo pelouro dos Direitos Sociais da Junta de Freguesia de Benfica conta que o projeto comunitário nasceu em outubro com o objetivo de fornecer pão e pizzas num bairro “bastante segregado” da cidade.
“Surgiu para dar resposta àquilo que eram as necessidades diárias de uma comunidade que está muito isolada por questões de fronteiras e de ruas, cujo acesso quer de pizzarias, quer de padarias ao bairro é dificultado”, realça Carla Rothes (PS).
De acordo com a dirigente, a iniciativa, avaliada em 50 mil euros, acontece também através do programa BIP/ZIP da Câmara Municipal de Lisboa, que dinamiza e apoia projeto locais que contribuem para o reforço da coesão sócio-territorial no município.
“O fim desta padaria não é propriamente o negócio, mas é o poder prestar um serviço à comunidade e também conseguir recolher dinheiro para investir nas necessidades que o bairro tem em termos sociais e até em equipamentos de saúde”, observa. O espaço envolve o trabalho de um grupo de voluntários, tendo também sido contratados uma padeira e um ajudante de padaria.
Com apenas seis pessoas envolvidas, o projeto visa o fornecimento de pão às escolas em que os refeitórios são geridos pela Junta de Freguesia de Benfica e à população do Bairro da Boavista, mas, no futuro, vai permitir formar padeiros para criar emprego.
“Terá uma segunda componente muito importante que é o capacitar jovens em termos de qualificação, ou seja, vai ser e está a ser articulado com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Vão ser dinamizadas ações de formação de padeiros para podermos aumentar aqui o potencial de empregabilidade de muitos jovens”, diz Carla Rothes.
O projeto é recente, mas ideia já tem quatro anos. Vem na sequência de uma cozinha comunitária que distribui refeições quentes na zona. A padaria, segundo Carla Rothes, consegue fornecer pão a baixo custo aos cerca de cinco mil habitantes do bairro.
“O impacto é muito grande neste contexto de pandemia, precisamente porque as pessoas estão a passar por sérias dificuldades. É um bairro que tem uma taxa de desemprego muito grande, fruto de uma economia informal muito persistente no bairro. Face ao contexto de pandemia as pessoas efetivamente ficaram sem os seus empregos habituais”, explica.
Carla Rothes recorda ainda que a taxa de desemprego no Bairro da Boavista rondava os 15% até março, mas agora, face à crise da COVID-19, atinge os 35%.
As fornadas vão saindo. Os pães saltam de tabuleiro em tabuleiro para serem colocados à venda. Os sentidos são despertados pelo aroma, enquanto a padeira Andrea Alves amassa a próxima fornada.
Andrea Aves não fala, diz que não se sente à vontade e passa a ‘massa’ para a presidente da Associação de Moradores do Bairro da Boavista, que refere que são distribuídos cerca de 900 pães pelas escolas e que o projeto vem “numa boa e numa má fase”.
“Nesta altura da pandemia, foi uma coisa muito boa. É uma obra que estamos a conseguir fazer. Estamos a escoar o medo da pandemia, estamos a dar algo, um conforto”, suspira Anabela Rebelo.
Para a responsável, a padaria comunitária é também uma forma de ajudar as pessoas que não podem sair de casa.
“Vai ser entregue ao domicílio, as pessoas podem encomendar e a gente pode levar até à porta […], e há pessoas que vêm à associação comprar o pão”, revela Anabela Rebelo, adiantando que se tenta vender o pão mais barato do que o mercado normal.
Apontando a uma grande variedade de pão, a presidente da associação estima que o projeto continue para além dos três meses de experimentação, uma vez que há postos de trabalho que devem ser mantidos.
“Além dos três meses que temos da candidatura, temos de o proteger, porque demos emprego a três pessoas [na padaria e na cozinha comunitária] e queremos garanti-lo. Temos de arranjar meios para que possamos remunerar essas pessoas, fazer o ordenado”, recorda.
Comentários