A dermatite atópica (DA) é uma doença inflamatória de natureza crónica e recidivante. É uma patologia muito frequente e afeta 10-20% da população pediátrica a nível mundial. Cerca de 85% dos casos de DA surge antes dos 5 anos, mas o mais habitual é manifestar-se nos primeiros 2 anos de vida, embora possa surgir em qualquer idade. Em cerca de 40% dos doentes em que se manifesta inicialmente na idade pediátrica, a DA manter-se-á na idade adulta. É, pois, uma doença com prevalência elevada em crianças pequenas e adolescentes, faixas etárias com particularidades importantes.
Clinicamente, é uma doença com espetro amplo de apresentação e de gravidade. As lesões cutâneas podem ser extensas e manifestam-se com eritema (“vermelhidão”), prurido (“comichão”) e xerose marcadas (“pele seca”). O tipo de lesões também varia consoante a idade do doente: nas crianças pequenas, as lesões são mais “agudas” - existem vesículas, exsudação (“aguadilha”) e crostas -, enquanto nas crianças mais velhas e nos adolescentes sobressai o seu carácter crónico: lesões eritematosas e descamativas, liquenificadas (pele espessa) e escoriação marcada (crostas secundárias ao ato de coçar).
Ao contrário do que anteriormente se pensava, a DA não é uma doença dermatológica pura. Tem uma elevada repercussão emocional, não só nos doentes mas também nos seus cuidadores que, diariamente, têm de a enfrentar. As famílias são afetadas de forma muito abrangente e diversa, sendo a redução da qualidade do “sono”, devido ao prurido intenso que origina, uma das mais referidas e com maior impacto. As perturbações do sono provocam fadiga diurna, podem interferir no rendimento escolar (défice de atenção, por exemplo) e mesmo levar ao absentismo escolar.
Inúmeros aspetos do quotidiano são influenciados negativamente pela DA: perturbação da autoimagem, inibição e dificuldade em estabelecer relações de amizade, todas de graves consequências nas crianças e adolescentes, cuja personalidade está em desenvolvimento. Verifica-se um maior grau de stress escolar e limitações na prática de atividade física, bem como nervosismo, isolamento e tristeza dela decorrentes.
Além destes impactos nos portadores de DA, também os pais de crianças e adolescentes com esta doença são psicologicamente afetados: manifestam receio quanto ao futuro dos filhos, que revelam vergonha, ansiedade e frustração. Apesar de estes sentimentos acompanharem os doentes todos os dias do ano, é nas épocas festivas, em especial na do Natal, que assumem uma maior importância.
Foi com base nesta reflexão e com o propósito de consciencializar a população para a problemática da Dermatite Atópica, que foram lançados o livro e o vídeo "Diana e a Dermatite Atópica - O Meu Natal”, destinados às crianças, suas famílias e demais educadores, nos quais se abordam aspectos particulares que todas as crianças com DA devem ter em aspetos simples do quotidiano.
Redigido numa linguagem simples e muito acessível a todos, este livro conta a história de uma menina de 8 anos – a Diana - , que convive com dermatite atópica grave desde os seis meses de idade, e do seu melhor amigo, o Robot A6-11. Juntos dão a conhecer as suas aventuras em família na época natalícia, como a decoração da casa, da árvore de Natal, o tempo passado na cozinha a fazer doces, mostrando, assim, que esta doença, apesar dos cuidados que exige, não a impede de ter uma vida feliz!
Um artigo de Leonor Ramos, Assistente Hospitalar de Dermatologia e Venereologia no Serviço de Dermatologia e Venereologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
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