A tiroide é uma glândula que está localizada na base do pescoço, na sua face anterior. Tem a forma de uma borboleta, com um lobo em cada um dos lados da traqueia.

Hoje em dia, estima-se que aproximadamente um milhão de portugueses sofra de algum tipo de distúrbio da tiroide, ou seja, 10% da população portuguesa, ainda que exista um grande desconhecimento das doenças e dos sintomas associados a esta glândula. Além disso, os distúrbios da tiroide afetam mais de 300 milhões de pessoas por toda a Europa.

A tiroide liberta duas hormonas para o sangue – a T3 (triiodotironina) e a T4 (tiroxina). Estas hormonas atuam em quase todas as células do organismo e permitem o controlo do metabolismo. Ajudam o organismo a utilizar a energia e regulam a temperatura corporal, o crescimento e desenvolvimento intelectual nas crianças e permitem um normal funcionamento do cérebro, músculos, coração e outros órgãos.

Se a produção de hormonas se tornar insuficiente o metabolismo desacelera – hipotiroidismo. Se houver excesso de produção o metabolismo acelera – hipertiroidismo. O hipotiroidismo é cerca de 10 vezes mais frequente que o hipertiroidismo.

Os distúrbios relacionados com esta glândula são dez vezes mais comuns nas mulheres e estima-se que aos 60 anos cerca de 17% destas apresentem hipotiroidismo, o tipo mais comum de doença da tiroide.

A principal causa de hipotiroidismo é a Tiroidite de Hashimoto / Linfocítica que é uma doença auto-imune. As doenças auto-imunes têm em comum a produção de anticorpos dirigidos contra alvos do próprio organismo, contrastando com o que acontece normalmente em que os anticorpos são produzidos para nos defender de "agressões". Por razões que não estão totalmente esclarecidas, as doenças de natureza auto-imune são mais comuns no género feminino.

Sintomas

Estima-se ainda que cerca de 5% das mulheres grávidas desenvolvem hipotiroidismo e no que se refere às mulheres em idade fértil, o diagnóstico e tratamento do hipotiroidismo poderá assumir maior relevo, atendendo ao facto de as hormonas tiroideias desempenharem um papel muito importante no desenvolvimento neurológico fetal e a sua falta poder contribuir para a diminuição da fertilidade feminina.

O hipotiroidismo é uma patologia insidiosa que se manifesta lentamente e os seus sinais e sintomas podem ser inespecíficos. Os que estão mais vezes presentes são: cansaço, maior sensibilidade ao frio, queda de cabelo, pele seca, aumento de peso, edemas, fraqueza muscular, depressão, obstipação, irregularidades menstruais. Esta clínica nem sempre é valorizada quer pelo doente, quer pelo médico, e o seu diagnóstico é muitas vezes tardio.

médica Maria João Oliveira, especialista em Endocrinologia
médica Maria João Oliveira, especialista em Endocrinologia Maria João Oliveira, médica especialista em Endocrinologia créditos: Direitos Reservados

Outras causas

O hipertiroidismo pode também ser de causa auto-imune (Doença de Graves) mas neste caso a glândula é estimulada a produzir hormonas tiroideias em excesso. Outras causas possíveis são o aparecimento de nódulos que produzem autónomamente excesso de hormonas ou a ação de certos fármacos na tiroide.

As pessoas queixam-se de alterações do humor, irritabilidade, agitação, perda inexplicada de peso apesar de maior apetite, tremor, hipersudorese, intolerância ao calor, palpitações, diarreia, irregularidades menstruais, aumento do volume cervical (bócio).

Por vezes o que acontece nas doenças tiroideias é que há um atraso no diagnóstico, porque as pessoas não valorizam os sintomas e consideram que estão associados ao estilo de vida que levam diariamente; outras vezes consultam psicólogos, cardiologistas e até outras áreas de intervenção, na busca de um outro diagnóstico.

Tratamento

Os tratamentos das disfunções da tiroide permitem que os doentes tenham uma melhoria significativa da sua qualidade de vida, mas para tal acontecer é necessário aumentar o conhecimento das doenças da tiroide e do seu impacto na saúde e bem-estar geral e também conseguir um diagnóstico mais precoce.

O tratamento do hipotiroidismo consiste na toma diária da hormona T4 (levotiroxina). No organismo é convertida em T3. É um tratamento eficaz desde que na dose certa, e geralmente é para toda a vida. A dose de levotiroxina pode ser ajustada com o doseamento da hormona estimuladora da tiroide (TSH) no sangue.

O hipertiroidismo pode ser uma situação grave e requer um tratamento imediato por um médico especialista com experiência no tratamento das disfunções da tiroide. Geralmente inicia-se com a toma de um fármaco anti-tiroideu que reduz a síntese de hormonas pela tiroide. É um tratamento mais complicado que o do hipotiroidismo e a dose do fármaco deve ser titulada periodicamente.

Nalguns casos há recidiva do doença e é necessário recorrer a um tratamento mais definitivo como a cirurgia para retirar a glândula ou o tratamento com Iodo Radioactivo (Iodo 131), que limita o seu funcionamento. Após o tratamento definitivo geralmente surge um hipotiroidismo.

Um artigo da médica Maria João Oliveira, especialista em Endocrinologia.