Rita Serrano, 43 anos, não tem dúvidas. «O yoga tornou-me muito mais positiva», assegura. A vida da responsável pelos canais temáticos do Sapo na Portugal Telecom antes e depois da descoberta da disciplina milenar que aquieta a mente e ensina o corpo a testar os seus limites é substancialmente diferente. «O ritmo da cidade abre-nos diariamente a porta da máquina do tempo. Levar os filhos à escola, seguir para o trabalho onde, quando exercemos cargos de chefia, como acontece comigo, temos de tomar inúmeras decisões em segundos, sem falhar», começa por dizer.
«Acabamos por comer mal, combater a falta de energia com café e preocupamo-nos apenas em queimar calorias com idas ao ginásio. À noite, depois de deitar os filhos, ficamos acordados até tarde para recuperar o tempo perdido, com a sensação que ainda restam alguns minutos para nós. Mas sempre em movimento, sempre sem parar. O yoga ensinou-me, precisamente, o contrário. Parar, respirar e relaxar é essencial», assegura.
«É essencial para não nos deixarmos arrastar pela corrente dos dias com um ritmo alucinante», complementa. «O yoga despertou a minha consciência e deu-me a possibilidade de descobrir o mundo da meditação. Mudou a minha maneira de pensar, tornou-a muito mais positiva», acrescenta Rita Serrano, que despertou para o yoga há cerca de uma dúzia de anos, de uma forma quase inesperada.
A descoberta inesperada
«Há 12 anos, quando o yoga ainda não era uma modalidade em voga, procurei-a para relaxar. Na altura, ia ao ginásio à hora de almoço, era um momento de pausa importante. Trabalhava na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa, onde abriu um centro. Por curiosidade, fui experimentar e gostei. Ainda estive nesse centro um ano, mas, entretanto, parei. O yoga reapareceu, a sério, na minha vida há sete anos, quando atravessava uma fase muito difícil», desabafa Rita Serrano.
«Enfrentava o divórcio, a morte do meu pai… Tinha uma vida profissional muito exigente, não estava atenta à minha alimentação. Senti necessidade de testar algo que me ajudasse a viver bem. O yoga tornou-me um ser melhor, o que automaticamente me torna também uma chefe melhor. Se tenho consciência de mim, começo a cuidar-me melhor e, consequentemente, trato melhor os outros», refere Rita Serrano.
«Passo o dia a tomar decisões que nem sempre são fáceis, mas agora, tomo-as em maior consciência. Quem pratica yoga regularmente vive num estado mental muito mais relaxado, torna-se mais fácil lidar consigo próprio e melhorar a relação com o outro. Permite também desenvolver a atenção, a concentração e a consciência», acrescenta ainda.
Saber parar
«O yoga é uma disciplina holística. Significa união. Professa que corpo, mente e espírito estão ligados, que são o mesmo. O mais importante é aprender a controlar a mente, isto é, manter o pensamento conscientemente positivo. Se permitirmos que a mente esteja sempre inquieta nunca conseguiremos relaxar. Começarmos por observar o nosso corpo e a nossa mente transmite-nos bastante calma», recomenda Rita Serrano.
«Tenho aprendido que, embora tendamos a procurar apoio nas coisas mais complicadas, na prática são as simples que verdadeiramente marcam a diferença. Hoje, as pessoas têm dificuldade em parar e acham que devem libertar energia através do movimento», sublinha a responsável de parcerias do Sapo.
«Contrariamente, muito do yoga que se pratica baseia-se na permanência, em ficar numa postura durante 30 segundos, dois minutos... Essa é a grande dificuldade de muitas pessoas quando se iniciam no yoga, mas não devem desistir», insiste Rita Serrano. Até porque os efeitos benéficos para a saúde também não são de desperdiçar.
Efeitos na saúde
«Muitas pessoas vivem desligadas de si próprias. A partir do momento em que estamos mais conscientes do nosso corpo, começamos, por exemplo, a perceber que alimentos fazem bem ou mal ao nosso organismo. Há escolas de yoga que incentivam o vegetarianismo, mas essa é uma opção individual. O yoga é uma prática integrada de pensamento positivo, de meditação, de respiração e até de alimentação que não pode ser sentida como obrigatória», refere Rita Serrano.
«A longo prazo, a mudança de estilo de vida inerente à prática do yoga contribui para que nos sintamos efetivamente bem. O nosso sistema nervoso pode ser o nosso maior inimigo, mas também o maior de todos os aliados. Se conseguirmos estar tranquilos, acabamos por nos sentir mais saudáveis, por ter um sistema imunitário mais forte e dormimos melhor. No meu caso, o yoga
ajuda-me a desbloquear e faz com que a rigidez do corpo, a tensão e as dores nas costas desapareçam», afiança.
Tempo para mim
«Na impossibilidade de praticar yoga nas chamadas horas douradas (amanhecer e final da tarde ), como fazemos nos retiros, devemos, pelo menos, reservar uma hora por semana. É uma pausa necessária. Quando estou no trabalho, estou concentrada em trabalhar e não nas relações sociais. Quando estou em casa, sou mãe. No yoga, estou disponível só para mim e é um tempo valioso», afirma Rita Serrano.
«Não sou fã de ginásios onde, muitas vezes, as pessoas estão, sobretudo, preocupadas com a imagem que projetam junto aos outros. No yoga nada disso é estimulado. Pelo contrário. A roupa que se usa é livre, estamos descalços. Só que o yoga, ao contrário de outras práticas, tem uma evolução lenta, mas muito sustentada», refere ainda.
«Embora possa ser exigente, é adaptável às condições individuais e não competimos, aprendemos a reconhecer e ultrapassar os nossos limites. A flexibilidade não se consegue imediatamente. Ainda há posturas que não domino. Mas, ao fim de sete anos, tenho uma certeza. Quando estamos em controlo do que somos, do que pensamos e do nosso próprio corpo, tudo é mais harmonioso», acrescenta ainda.
5 princípios do yoga
1. Respiração adequada Permite levar mais oxigénio ao sangue, controlar a nossa energia vital e dominar a mente e as emoções.
2. Exercício Trabalhar não só os músculos mas também os órgãos internos, nervos e glândulas e, em especial, a coluna vertebral, onde estão os plexos nervosos que comunicam com todos os sistemas do corpo.
3. Relaxamento adequado Aliviar tensões, armazenando energia e restaurando a vitalidade de todos os órgãos do corpo.
4. Alimentação adequada Fundamental para a manutenção da nossa saúde e vitalidade, tem em consideração os efeitos sobre o organismo e sobre a mente.
5. Meditação Concentrar a mente num só ponto e na descoberta da nossa natureza íntima, para lá das construções mentais.
Posturas e exercícios:
- Postura do cão (Adho Mukha Svanasana)
Reforça os braços, pernas e coluna, fortalece o sistema imunológico e a digestão, ajuda a rejuvenescer, sendo uma óptima postura contra o stresse e a fadiga.
- Postura do camelo (Ustrasana)
Fortalece a coluna vertebral, melhora a postura e a capacidade respiratória, tonifica as coxas e elimina tensões nas costas, ombros e nuca e também estimula o sistema imunológico.
- Postura da meia torção da coluna (Ardha Matsyendrasana)
Estimula o fígado e os rins, alonga os ombros, quadris e pescoço, estimula a coluna e alivia o desconforto menstrual, a fadiga e a dor ciática e lombar.
Texto: Fátima Lopes Cardoso com Artur (fotografia)
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