A pandemia entrou nas nossas vidas de forma absolutamente invasiva e, com a pandemia, chegaram as máscaras que trouxeram a sensação de segurança e proteção.
Chegada a hora de deixar cair as máscaras e de voltarmos a mostrar todas as nossas expressões por inteiro. Por um lado, há uma incrível sensação de alívio e liberdade, mas por outro há um certo desconforto. Não só desconforto pela possibilidade ainda existente de contaminação, mas também por passarmos a sentirmo-nos de novo expostos, como se, de repente, nos sentíssemos a nu.
Se, para a maioria de nós, este desconforto fica apenas por alguns dias e acaba por esbater-se, também é verdade que para outros de nós parece nunca se esbater e, de repente, retirar as máscaras parece ser bem mais difícil do que foi introduzi-las.
Esta situação tende a agudizar-se no que diz respeito aos adolescentes, que, muitas vezes, por si só, já têm alguma tendência a fecharem-se e a guardarem para si grande parte daquilo que são e daquilo que sentem. Neste contexto, as máscaras tornaram-se uma ajuda fundamental ao fechamento para o mundo, à ilusão de que se está mais protegido quando se vive fechado na concha e à ideia de que os outros não vão descobrir nada daquilo que sentimos, receamos ou desejamos.
Assim, neste momento, há muitos de nós - especialmente adolescentes e jovens adultos - que vivem o receio de deixar cair as máscaras, sendo este receio uma capa que encobre fragilidades maiores, nomeadamente, a insegurança que temos sobre nós próprios, a forma como nos sentimos, ou não, suficientes para nós e para os outros e, neste domínio, entram inseguranças quer ao nível de questões de aparência física, quer emocionais e comunicacionais.
Neste sentido, a retirada das máscaras tem tendência a, em alguns de nós, gerar desconforto e aumento dos níveis de ansiedade associados à identidade e à imagem corporal. É, por isso, muito importante que a retirada das máscaras se possa dar ao ritmo que cada um sentir que é mais confortável para si, havendo espaço para o tempo e para as necessidades individuais. Mas, paralelamente, torna-se ainda mais importante, estarmos alerta quando a reticência em tirar as máscaras se prolonga no tempo para lá do razoável, pois, a máscara pode estar apenas a esconder fantasmas internos e a facilitar que certas dificuldades se consolidem e fiquem cada vez mais expressivas e marcadas no desenvolvimento de cada um de nós.
Por tudo isto, é essencial estarmos alerta para que não utilizemos as máscaras como uma muleta que não só não nos ajudará a lidar com tudo aquilo que sentimos, como fará com que não sejamos capazes de nos desafiar e ultrapassar de forma efetiva as nossas fragilidades internas.
Um artigo das psicólogas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
Comentários