Preparar a época natalícia pode ser desgastante. Comprar os presentes em centros comerciais abarrotados, enfrentar as longas filas de trânsito que fazem libertar impropérios, participar nos convívios de confraternização, finalizar as pendências no trabalho, ter os filhos de férias, preparar a passagem de ano, tudo faz parte de uma logística que enfrentamos todos os anos. A determinada altura entramos em piloto automático e a época que deveria ser de afetos, de calor humano e de crescimento pessoal torna-se um verdadeiro desafio pontuado por elevados níveis de stresse, ansiedade, irritabilidade, fadiga, angústia e tristeza. Tudo isto num cocktail perfeito que pode causar tanto danos físicos como mentais.

Alguns estudos têm revelado que nesta altura do ano há muitas pessoas que tendem a desenvolver depressões (sazonais) e perturbações de ansiedade. No fundo, estamos a reagir à acumulação de um conjunto de situações emocionalmente desafiantes que enfrentámos ao longo de doze meses e que nos torna mais sensíveis e ansiosos. A pressão parece ser exacerbada pela quebra da rotina. Não é por acaso que, nesta altura, as pessoas parecem estar menos resistentes às doenças. Constipações, gripes, dores de cabeça, problemas cardíacos e gastrointestinais estão no topo das doenças físicas.

Enquanto algumas pessoas tentam viver o espírito positivo e animado das festividades, outras têm o desejo de saltar esta altura do ano, fazendo contagem regressiva para tudo acabar depressa e poderem voltar à normalidade. As festividades de fim de ano nem sempre representam alegria e corações saltitantes.  Para muitos é um período de angústia e ansiedade, porque é o momento em que há a quase obrigação de se ser bondoso e de estar realmente feliz, quando não se sente nada disso. Alguém que tenha perdido familiares ou animais de estimação nesta altura demonstra menos vontade em celebrar, pois as memórias da perda sobrepõem-se às memórias positivas. Muitas pessoas refugiam-se em casa, sem qualquer alusão ao Natal, sentindo uma tristeza profunda e sensações de desamparo e solidão. Enquanto muitos andam a espalhar o amor e a providenciar tudo o que lhes é possível para que seja uma fase memorável, outros carecem dessa vontade esperando, no fundo, que tudo termine ou que alguém lhes mostre que o espírito natalício transcende o consumismo e pode representar uma fase de questionamento e crescimento pessoal salutar.

À medida que nos aproximamos do fim do ano somos assomados por uma necessidade de reflexão sobre o que conquistámos e quais os projetos pessoais e profissionais que devem constar na imensa lista de sonhos a serem realizados no ano seguinte. É a altura das promessas de mudança, de dieta, de sucesso profissional, de deixar de fumar, de ir para o ginásio, de fazer aquela viagem especial, entre tantas outras. No entanto, isto é apenas um entretenimento porque, no fundo, estamos a tentar encontrar uma forma de olhar diferente para os mesmos problemas de sempre que, ano após anos, se perpetuam. No entanto, partilha-se a ideia de que ter uma lista de planos (mesmo que não pareçam realizáveis) é melhor do que não os ter, porque isso equivale a não ter um futuro traçado e continuar num estado de estagnação. Terminar um ciclo e começar outro é intrínseco ao ser humano, mas é importante que cada um vivencie as suas experiências de forma genuína e realista, de acordo com a sua história pessoal e com os seus objetivos próprios, que não têm que ser os mesmos dos outros. Estabelecer metas que parecem excessivas significa que quando não as cumprir vai haver um avaliador que irá censurá-lo(a) fortemente: você!

Tendo em conta esta diversidade de vivências natalinas e de fim de ano, há algumas dicas que podem ser úteis e que o(a) podem ajudar a ultrapassar esta fase de forma saudável.

8 sugestões

- Não lute contra o tempo. Se tem pouco tempo para completar a lista de coisas que ainda tem para fazer, priorize-as e divida-as por dias. Não caia no erro de deixar tudo para a última hora, para evitar explosões de humor e não usufruir da época.

- Faça um balanço do ano que está a terminar. Valorize todas as conquistas e alegrias, por mais pequenas que lhe possam parecer. Valorize também os momentos negativos, pois graças a eles conseguiu colocar muitas coisas em perspetiva e, em certa medida, provocaram mudanças na sua vida.

- Lembre-se que a mudança é de dentro para fora. Aproveite os últimos dias do ano para renovar votos e fazer acordos exequíveis consigo mesmo. O desejo de mudança não deve ficar apenas na expectativa ou na espera das condições favoráveis para que mudança ocorra espontaneamente. A única altura certa é quando sente vontade de fazer acontecer. Aja! Pequenos passos é melhor do que permanecer estático(a).

- Evite os exageros de fim de ano. O excesso de comida, de bebidas alcoólicas e de gastos em coisas desnecessárias vão ter os seus efeitos a curto-prazo. Não adianta entrar num novo ano renovado de espírito, se estiver ainda a pagar os excessos do antigo.

- Priorize as relações afetivas em vez dos bens materiais. Inclua as pessoas que lhe são queridas nos seus planos do próximo ano. Atingir metas sem ter com quem as partilhar, não tem o mesmo sabor.

- Procure ajuda de um profissional, se esta altura do ano lhe causa sofrimento. Há uma tendência natural para sobrevalorizarmos as emoções e as experiências negativas em detrimento das boas. Com a ajuda de um profissional, poderá desenvolver novas formas de pensar e isso terá implicações diretas no seu novo ano e na sua vida.

- Tenha tempo para si próprio(a). Acalme a mente e exercite o corpo. Faça alguma atividade que realmente aprecie, não por obrigação, mas porque lhe faz mesmo bem.

- Seja amável consigo próprio(a) e aceite a sua responsabilidade naquilo que é a sua vida hoje. Não se autocritique em excesso e não se acomode ao que já tem ou ao que já é. Procure ser sempre a melhor versão de si próprio(a) e, com certeza, terá um ano feliz!

Fica a reflexão e o desejo de um próspero ano novo para todos!

As recomendações são de Laura Alho, Psicóloga Clínica e Forense da Mind – Psicologia Clínica e Forense (www.mind.com.pt)