Namorar não é ser dono do outro. Muito pelo contrário, namorar deve corresponder ao respeito pela individualidade e liberdade do outro, aos seus direitos, valores, desejos e ambições, tal como à compreensão dos seus condicionalismos e dificuldades. Do mesmo modo, significa ser amigo, companheiro e confidente. Quando estes princípios são desrespeitados e violados, facilmente se abre uma via para a violência no namoro.
Este tipo de fenómeno ocorre quando, no contexto das relações de namoro, um dos parceiros (ou ambos) recorre à violência com o propósito de assumir uma posição de poder e controlo sobre o outro.
Todas as formas de violência no namoro, designadamente, a verbal, psicológica, física, sexual ou social, têm como objetivo magoar, humilhar, intimidar, controlar e assustar a vítima, sendo classificadas de acordo com alguns dos seguintes exemplos:
Violência verbal - A vítima é alvo de impropérios e insultos, comentários negativos ou de desvalia de si própria, humilhada e intimidada.
Violência psicológica - A vítima é controlada sobre o que veste, o que faz ou com quem faz durante o dia ou nos seus tempos livres, através de interrogatórios, telefonemas constantes ou perseguições. Sistematicamente é obrigada a mostrar o telemóvel para controlo das mensagens, redes sociais ou chamadas. Pode ser manipulada através de ameaças de rutura da relação e de afirmações de que mais ninguém ficará ao seu lado. Sentimentos de culpa ou de desmerecimento das pessoas ou coisas que a rodeiam são, igualmente, incutidos pelo agressor.
Violência física - A vítima é agarrada ou imobilizada, agredida com bofetadas/pontapés/murros, sofre ameaças contra a sua integridade física, confronta-se com a porta/saída bloqueada ou é impedida de ir ou frequentar determinado sítio.
Violência sexual - A vítima é acariciada sem o desejar ou obrigada a práticas sexuais contra a sua vontade.
Violência social - A vítima é envergonhada ou humilhada no seio familiar e em público, sobretudo junto de amigos, tal como é proibida de conviver com a família e amigos.
A violência no namoro pode ter um impacto dramático, avassalador e catastrófico, dependendo do modo como é exercido, das características de cada pessoa e das suas circunstâncias. É considerado um crime, inserindo-se no quadro legal do crime de violência doméstica, no artigo 152º do Código Penal.
Quem é vítima do crime de violência no namoro pode sentir muita ansiedade, tristeza, receios e medos, sentimentos de culpa, inseguranças, solidão e necessidade de isolamento. Dificuldades de atenção e de concentração e alterações no comportamento alimentar e no sono ou sintomas depressivos são, também, algumas das consequências possíveis da violência no namoro.
A violência no namoro (ou em relações de conjugalidade) nunca é uma forma de expressar amor por outra pessoa. Quem ama não magoa. Quem ama não agride. Quem ama contribui para o bem-estar e felicidade do outro. A este propósito refira-se um estudo americano sobre qualidade conjugal e felicidade na terceira idade (publicado no Journal of Marriage and Family) realizado com 394 casais idosos, com casamentos de cerca de 40 anos. Os resultados revelaram que, de modo geral, o casal era sempre mais feliz quando a mulher sentia bem-estar no casamento. Os resultados mostraram também que, por sua vez, a mulher tendia a ter comportamentos de reciprocidade para com o seu companheiro, “o que tem um efeito positivo na vida dele”, de acordo com Deborah Carr, uma das autoras do estudo.
É, por conseguinte, fundamental consciencializar, educar e capacitar as pessoas para a imperativa necessidade de identificar e rejeitar de comportamentos de violência em relações de namoro e de promover relações saudáveis, por via dos afetos sãos, da liberdade e do respeito mútuo.
Um artigo da psicóloga clínica Lina Raimundo, da MIND | Psicologia Clínica e Forense.
Comentários