A asma é uma das doenças crónicas mais frequentes no mundo. Estima-se que cerca de 300 milhões de pessoas sofram de asma, número com tendência para aumentar e que pode atingir os 400 milhões já em 2025. O número de dias perdidos, em que a doença interfere com atividade laboral, lúdica ou escolar, é equivalente ao atribuído à diabetes, com custos diretos e indiretos elevados.
Trata-se de uma doença habitualmente caracterizada por inflamação crónica dos brônquios e definida por uma história de sintomas respiratórios, tais como pieira (chiadeira ou “gatinhos”), falta de ar, aperto no peito ou tosse, que variam em intensidade e duração, alternando com períodos livres de sintomas.
Em Portugal, a prevalência da asma é de cerca de 6,8% (sendo de 10% nas idades< 14 anos), o que se traduz por cerca de 700 mil portugueses com asma, ou seja, 1 em cada 15 pessoas, a maior parte em idade escolar ou laboral. Destes, cerca de 5% terão asma grave.
O diagnóstico é essencialmente clínico, mas pode ser complementado pela realização de uma espirometria (exame em que mede o ar que conseguimos mobilizar durante uma expiração forçada) que mostre uma variação >12% ou 200 mL entre o FEV1 basal (sem qualquer medicação) e pós broncodilatação (após administração de um broncodilatador).
A asma não pode ser curada, mas pode ser tratada de modo a que o doente asmático tenha uma qualidade de vida idêntica à de uma pessoa saudável.
O tratamento faz-se de acordo com a gravidade clínica, tendo como objetivos o controlo dos sintomas, de forma a manter as atividades do dia-a-dia, e a diminuição do risco futuro: diminuição do número de crises, manutenção da função pulmonar, desenvolvimento pulmonar normal. Para isso, é necessária uma medicação de base que deve ser feita diariamente e uma medicação de socorro para eventuais crises. A medicação de base é essencialmente feita com corticoides inalados (as “bombas”) em associação ou não com broncodilatadores. Os corticoides inalados têm efeito na inflamação brônquica e atuam localmente com pouca absorção sistémica, ou seja, sem efeito no resto do organismo. Deste modo, não têm os efeitos secundários associados ao uso de “cortisona”. Os broncodilatadores proporcionam alívio e mantêm os brônquios mais abertos para que o ar possa passar melhor. Não devem ser utilizados isoladamente no tratamento da asma, uma vez que não tratam, apenas aliviam.
O tratamento da asma tem um caráter dinâmico e o doente deverá ser reavaliado periodicamente.
A falta de controlo da asma não está diretamente relacionada com a gravidade da mesma: o nível de medicação necessário para adquirirmos esse controlo é que vai permitir classificar a asma de ligeira a grave. O grau de controlo da Asma pode ser definido pela forma como os sintomas se manifestam com ou sem tratamento e interferem na atividade diária e pela necessidade de medicação de socorro.
Quando a asma não está controlada, deve ser verificado se o doente está a fazer a medicação e se a está a fazer de forma correta. Se existem fatores que podem estar a agravar ou dificultar o tratamento, como exposição a ambientes nocivos ou tabagismo. Quando o doente, mesmo assim, tem uma asma de difícil controlo, deve ser encaminhado para uma Consulta de Especialidade (Imunoalergologia ou Pneumologia).
O doente com asma grave pode ter necessidade de tratamento com agentes biológicos. Estes doentes devem ser acompanhados em centros de referência, uma vez que precisam de uma avaliação mais extensa e um acompanhamento mais individualizado.
Durante a pandemia COVID-19, houve receio de que os doentes asmáticos pudessem estar em maior risco, mas tem-se verificado que não há um risco aumentado de contrair esta infeção em relação aos doentes com asma. No entanto, o mau controlo da asma poderá contribuir para uma maior gravidade do quadro respiratório associado à infeção COVID-19. É muito importante que o tratamento seja mantido de forma regular, sem falhas.
Se tem asma e esta estiver bem controlada com a medicação que está a fazer diariamente, deve mantê-la conforme o habitual. Se tiver notado sintomas de asma (pieira, tosse, aperto no peito ou falta de ar), pode ser necessário ajustar a sua medicação diária.
Um artigo da médica Ana Mendes, especialista em Imunoalergologia e coordenadora do Grupo de Interesse de Asma da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC).
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