Dizer que o homem é inútil é uma lapalissada que nunca é demais reforçar. Reparem que não falo do homem, mamífero primata, bípede, do género Homo, que se caracteriza pela postura erecta, mãos preênseis, com capacidade de fala e que está rotulado como sendo de inteligência superior. Não é esse, porque esse envolve ambos os sexos. Falo, apenas, da pessoa do sexo ou género masculino.
Os homens são tão inúteis que nem sofrer sabem. São peritos a canalizar o choro para alturas erradas. Talvez por virem de um passado em que se forçaram a conter as lágrimas, não conseguem adequar a reacção ao problema. Estes anos com os olhos enxutos trouxe uma desregulação na involução da espécie e baralhou-lhes o sistema.
Em novos pavoneiam-se (não sabem bem de quê) e em velhos tornam-se chatos, rabugentos, quase como se se preparassem para estorvar a eternidade. Tornam-se cismados com trivialidades e desapegados do essencial. Até no saber viver são pouco úteis.
Quando terminam relações enchem-se de força e, a curto prazo, julgam-se certos e confiantes do presente, ao mesmo tempo que o mundo se vai tornando mais pequeno. Crêem que têm inúmeras pretendentes, ignorando o facto de que, aquilo que os tornava interessantes, era a confiança e a indiferença que demonstravam por terem uma cara metade que os completava. Vivem o início da separação num exagero de felicidade, não parando para pensar que ninguém pode ser exageradamente feliz. Pode ser-se feliz, sim. Não se pode é exagerar um sentimento tão holístico e bonito, porque isso já é brincar ao Criador. A longo prazo, cansam-se do vazio. Talvez porque o vazio é assim mesmo: não acrescenta nada. Tornam-se inconstantes, à procura do que perderam e vivem o futuro por comparação a um passado que já lá vai. E dificilmente se recompõem.
O reino animal já nos tinha demonstrado esta inutilidade do homem. Enquanto o leão perde tempo a intitular-se o rei da selva, a leoa manda nela. Já para não falar em quem caça e toma conta das crias, enquanto o rei dorme e demora a sair de casa, depois das horas perdidas a pentear a juba com a língua. A leoa optou por nem ter juba para não roubar tempo aos afazeres da selva. No fundo, a leoa dá a ideia ao leão de que ele é o rei porque sabe que, todo o homem que vive na ilusão, não pára para chatear ninguém com a sua rezinguice, os seus achaques ou os seus problemas inúteis.
Os homens são pavões medrosos que não sabem encarar a vida, quanto mais a morte (e há aqui respeitos diferentes, note-se!). Não sabem estar doentes e actualizam o testamento à primeira gripe, enquanto as mulheres exponenciam as capacidades para se esquecerem que adoeceram. Com o passar dos séculos, o homem deu provas de que é um protótipo mal feito. Não é à toa que Deus nem quis ter sexo para não se comprometer. Dá a ideia de que o homem serve apenas para perpetuar a espécie e dar tempo ao mundo para lhe arranjar uma solução.
Falar neste assunto na terceira pessoa tranquiliza-me, ao mesmo tempo que me distancia de um problema que, pela genética, também é meu.
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