A meningite é uma inflamação dos tecidos que cobrem o cérebro e a medula espinhal. A inflamação, por vezes, consegue alastrar e afetar o tecido cerebral (meningoencefalite/ focos de cerebrite ou abcessos cerebrais), daí que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são absolutamente vitais para o prognóstico.

No entanto, algumas formas de meningite bacteriana evoluem rapidamente e têm um sério risco de complicações e sequelas.

Existem 3 grupos de bactérias mais frequentemente associados a estas infecções: o haemophilus influenzae tipo b, outrora muito prevalente, mas praticamente silenciado pela presença de uma vacina, o Streptococcus pneumoniae (pneumococo) e a Neiserria meningitidis (meningococo).

Felizmente, hoje em dia, a maioria das meningites são virais. Isto deve-se ao papel das vacinas que nos protegem das bactérias mais frequentemente associadas a esta infecção. No entanto, apesar da protecção vacinal, o grupo de crianças abaixo dos 24 meses, continua a ter um risco acrescido de meningite.

Embora menos graves, as meningites virais não deixam de ser foco de atenção e cuidado, sobretudo abaixo dos 3 meses de idade e se identificado o vírus herpes simplex. As meningites virais, na sua generalidade, não carecem de tratamento específico, o que parece ser um contra-senso, mas é a absoluta verdade.

Embora pareça incompreensível, a verdade é que as mesmas bactérias que podem causar meningite, habitam normalmente a boca e nasofaringe de crianças perfeitamente saudáveis. O que não significa que estas crianças venham a ficar doentes. Aliás, dada a prevalência de colonização por estas bactérias e a relativa raridade das meningites, podemos bem concluir, que ainda não compreendemos muito bem porque é que apenas algumas crianças têm meningite e outras não.

No entanto, são considerados fatores de risco ter menos de 2 meses de idade (sistema imunitário mais débil), crianças com sinusite recorrente, crianças que sofreram traumatismos cranianos graves ou submetidas a neurocirurgia.

Com o tratamento adequado, 7 em cada 10 crianças com meningite bacteriana recupera sem complicações. No entanto, a meningite pode ser fatal e em cerca de 20% dos casos, acompanhar-se de sequelas permanentes.

Sinais de alarme a ter em conta

Se o seu bebé tiver menos que 2 meses: Febre, hiporreatividade ou irritabilidade excessiva e não consolável. Nestas idades, os sinais e sintomas são extremamente inespecíficos e frequentemente é necessário observar a criança.

Se o seu bebé/ criança tem entre 2 meses e 2 anos: Febre, vómitos, irritabilidade ou sonolência excessivas, convulsões ou manchas de cor violeta com início nos membros.

Se a sua criança tem entre 2 e 5 anos: para além dos sintomas já referidos, como a criança já é mais verbal, pode queixar-se de dor de cabeça ou dor no pescoço, com recusa em olhar para luzes vivas.

Diagnóstico e tratamento

Para estabelecer o diagnóstico de meningite é necessário alguma suspeição diagnóstica e a realização de uma técnica que se chama punção lombar. A punção lombar implica a inserção de uma agulha no espaço entre duas vértebras na região lombar. Com a punção lombar pretende-se recolher uma amostra de líquido céfalo-raquidiano, um líquido que envolve todo o sistema nervoso central e que, no caso de meningite, vem com parâmetros alterados e pode permitir a identificação do agente da doença.

Nestas circunstancias, a criança irá permanecer hospitalizada até esclarecimento diagnóstico e/ou termino da terapêutica. No caso meningite bacteriana ou a herpes simplex, será providenciado tratamento endovenoso com antibiótico/ antivírico.

Como prevenir?

Este é sinceramente o assunto de maior relevo. No nosso Programa Nacional de Vacinação, estão contempladas várias vacinas com papel na profilaxia da meningite bacteriana: é o caso da Vacina contra o Haemophilus influenzae tipo b (aos 2 meses, 4 meses, 6 meses e reforço aos 12 meses), da vacina anti-pneumocócica, extremamente eficaz na prevenção da doença invacina a Streptococcus pneumoniae, também administrada com o mesmo esquema vacinal. Algumas crianças, por terem patologias especificas, podem fazer uma segunda vacina anti-pneumocócica depois dos 2 anos.

Por fim, as vacinas anti-meningocócicas, que, no nosso programa, são contempladas duas: a anti-meningocócica tipo B (o serotipo mais prevalente em Portugal) oferecida aos 2 meses, 4 meses e 12 meses e a anti-meningocócica tipo C oferecida aos 12 meses.

Adicionalmente, comercializa-se em Portugal uma vacina quadrivalente contra o meningococo  - serotipos A, C, Y, W135, no entanto, estes agentes são mais frequentes no Médio Oriente e afetam sobretudo adolescentes a partir dos 12 anos (daí que devem ser identificados os fatores de risco para a infecção e proposta uma imunização mais tardia).

Um artigo da médica Joana Martins, especialista em Pediatria.