O facto de o doente não sentir sintomas faz aumentar “o perigo das hipoglicemias não serem devidamente tratadas”, refere o estudo HipoDiab, que envolveu 60 doentes, promovido pela Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP).
Esta situação foi confirmada pela investigação, que concluiu que seis em cada 10 episódios de hipoglicemia não foram tratados convenientemente, o que demonstra que “existe uma lacuna no sentido da perceção das pessoas com diabetes da gravidade que uma hipoglicemia pode ter, especialmente quando não é devidamente identificada pelo doente ou profissional de saúde e a importância de atuar corretamente nestas situações".
No estudo foram ainda identificadas hipoglicemias assintomáticas, quer nas pessoas que notificaram sintomas (56%) quer nas que não os referiram (40%).
Em declarações hoje à agência Lusa, o diretor clínico da APDP, João Raposo, explicou que o estudo foi feito em pessoas com diabetes tipo 2, a mais prevalente no mundo e em Portugal, que estão a fazer tratamento com insulina.
O objetivo foi perceber se estas pessoas reconheciam as hipoglicemias (valores baixos de açúcar no sangue), que normalmente estão associadas à existência de sintomas desconfortáveis e que tendencialmente as pessoas até deixam de fazer a terapêutica por causa desta situação, disse João Raposo.
“Nós queríamos ter uma ideia se os sintomas eram reconhecidos pelas pessoas, se isso correspondia ao valor real dos níveis de açúcar baixo e se sabiam interpretar bem os sintomas”, afirmou.
O se verificou foi que “as pessoas reconheciam muitas vezes os sintomas de hipoglicemia e na verdade não os tinham”.
Por outro lado, “havia muitas pessoas que tinham hipoglicemia, mas não a reconheceram, e em terceiro lugar, uma percentagem significativa das pessoas, mesmo quando tinham sintomas, não tratavam bem esses sintomas”, sublinhou.
João Raposo advertiu que a não deteção dos episódios de glicemia e a incorreta atuação perante os mesmos pode levar à perda da resposta de um tratamento eficaz.
“Os episódios de hipoglicemia podem representar uma barreira importante na manutenção dos objetivos de tratamento definidos e na adesão terapêutica dos doentes, uma vez que, por medo, ansiedade e depressão, ou por se associarem à perceção de uma redução da qualidade de vida, aumento do absentismo, redução da produtividade e aumento dos custos de saúde, podem desencadear comportamentos defensivos, refere a associação.
Os sintomas mais apontados pelos participantes no estudo foram os tremores (52%), a fome (29%), as alterações visuais (29%) e os suores (21%), mas também pode ocorrer dificuldade na concentração, irritabilidade, agressividade, alteração da consciência, confusão mental ou dificuldade em falar.
O HipoDiab conclui que “ainda há um importante caminho a fazer na perceção e identificação das hipoglicemias por parte dos doentes, bem como no seu tratamento”.
A hipoglicemia pode ser provocada por erros na alimentação, como passar várias horas sem comer ou ingerir quantidades insuficientes de hidratos de carbono, erros na administração de medicação oral ou excesso de insulina, exercício físico não programado e sem suporte alimentar.
Comentários