Nos últimos dias, assistimos à divulgação dos dados relativos à atividade assistencial de várias Unidades Locais de Saúde (ULS) do Serviço Nacional de Saúde (SNS) referentes ao primeiro semestre de 2024. Os números apresentados, que incluem milhões de consultas e dezenas de milhar de cirurgias, são, sem dúvida, impressionantes e revelam um esforço significativo por parte dos profissionais de saúde que, diariamente, se dedicam ao bem-estar da população. No entanto, surge a pergunta: será esta divulgação uma verdadeira prestação de contas à sociedade ou uma manobra de propaganda do governo e do Ministério da Saúde?
A coincidência temporal na divulgação destes dados levanta algumas suspeitas. O SNS tem enfrentado uma série de desafios nos últimos anos, desde a sobrecarga dos serviços até à escassez de recursos humanos. Num contexto em que as críticas à gestão do sistema de saúde são cada vez mais frequentes, a apresentação de resultados positivos pode ser vista como uma tentativa de desviar a atenção das fragilidades existentes. É importante questionar se estas estatísticas estão a ser utilizadas como um instrumento político para reforçar a imagem do governo, em vez de serem uma verdadeira reflexão sobre a realidade do SNS.
Além disso, a forma como a informação é apresentada também merece consideração. Os números, por si só, podem ser enganosos. É fácil celebrar o aumento do número de consultas ou cirurgias sem contextualizar a qualidade dos cuidados prestados. O que está por trás destes dados? Estão os utentes a receber o nível de atenção e cuidado que merecem? Ou será que, na pressa de aumentar as estatísticas, a qualidade dos serviços está a ser comprometida?
A transparência é fundamental quando se trata de informações relacionadas com a saúde pública. Os cidadãos têm o direito de saber não apenas quantas consultas foram realizadas ou quantas cirurgias foram efetuadas, mas também a qualidade desses serviços e a satisfação dos utentes. É essencial que as ULS, assim como o Ministério da Saúde, se comprometam a fornecer dados completos e abrangentes, que abordem não apenas a quantidade, mas também a qualidade dos cuidados prestados.
Em suma, a divulgação da atividade assistencial das ULS é, sem dúvida, uma oportunidade de celebrar os esforços dos profissionais de saúde e de informar a população. No entanto, é crucial que esta informação não seja utilizada como um mero instrumento de propaganda. A saúde pública deve estar acima de considerações políticas e deve ser tratada com a seriedade e a transparência que merece. A verdadeira prestação de contas não se resume a números, mas sim a um compromisso contínuo com a qualidade dos cuidados e o bem-estar da população.
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