“Os hospitais periféricos têm sido muito abalados com a falta de capital humano e não só, também de equipamentos, mas a falta do capital humano é mais difícil de resolver, temos tido imensos problemas”, disse à agência Lusa Miguel Guimarães.
O “presente e o futuro” dos hospitais periféricos vai ser um dos temas em debate no 25.º Congresso Nacional da Ordem dos Médicos (OM), que decorre na sexta-feira em Braga.
“Estes hospitais têm de ter capacidade de resposta e nós temos de discutir isso, ver quais são as propostas que existem e o que vamos fazer no futuro”, disse Miguel Guimarães.
Numa altura em que se discutem eventuais fechos de maternidades nalguns hospitais do país, o bastonário defendeu que isso não pode ser feito em instituições localizadas em cidades da periferia.
A requalificação dos serviços de urgência, disse, “é fácil fazer na área metropolitana de Lisboa e do Porto, já não é possível fazer isto, por exemplo, na Covilhã, na Guarda, Castelo Branco ou em Bragança, etc”.
“A saúde em mudança” é o mote do congresso que, segundo Miguel Guimarães, se ajusta à realidade atual em que há uma nova equipa no Ministério da Saúde e uma nova direção-executiva do SNS, o que “pode significar uma mudança” e “uma oportunidade” para responder aos “grandes desafios” e aos “problemas crónicos” do Serviço Nacional de Saúde, como a falta de profissionais.
“Temos uma oportunidade de melhorar o acesso aos cuidados de saúde por parte dos doentes e de introduzir melhorias de qualidade no Serviço Nacional de Saúde e no sistema de saúde, que são muito importantes para todos os portugueses”, salientou.
Outro tema que vai estar em debate é a “transformação digital na saúde e sistemas de informação”, uma área que o representante dos médicos considera fundamental e que começa com a necessidade de instituir o “processo clínico único”.
“Não sei porque continuamos à espera para ter um processo clínico único”, lamentou o bastonário, considerando que é preciso investir nesse processo, e que o investimento necessário não é muito elevado.
Para Miguel Guimarães, o processo clínico único é bom para os doentes e para os profissionais de saúde, nomeadamente para os médicos, porque passam a ter acesso a toda a informação.
E é também “bom para o Estado em termos de poupança económica” porque vai “evitar fazer milhares de exames desnecessários todos os dias”, argumentou.
“Porque ainda não aconteceu? Porque é preciso fazer acontecer”, vincou.
Para isso, defendeu, é preciso juntar à mesa o setor privado e o social porque tem de haver uma integração que seja transversal aos vários sistemas informáticos que existem no sistema nacional de saúde.
“É a primeira grande medida que dá de facto aos doentes a particularidade de escolherem quem querem, no momento que querem, e terem lá [nas instituições] os seus dados porque os processos clínicos são de facto os doentes”, salientou.
O bastonário deixou ainda um desafio ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e ao diretor-executivo do SNS, Fernando Araújo, sobre o que é preciso “fazer rapidamente” para recuperar o Serviço Nacional de Saúde.
“A recuperação tem de ser independente dos períodos que estamos a atravessar, seja a pandemia, seja da gripe, seja o que for”, e passa por realizar “desde já” as reformas necessárias, sobretudo o reforço do capital humano e novo modelo de gestão no serviço público.
No seu entender, o novo modelo de gestão deve incorporar “algumas das regras do setor privado para que haja uma flexibilidade de gestão, de facto, para que haja autonomia, para que haja decisões mais rápidas”.
“Avançar com estas duas coisas fundamentais é para ontem”, rematou Miguel Guimarães.
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