A bexiga hiperativa (BH) é uma patologia comum, que atinge aproximadamente 20% da população, podendo atingir valores superiores com o progressivo envelhecimento demográfico. É uma das doenças crónicas mais prevalentes, apesar de não ser frequentemente reconhecida. É mais comum na mulher mas também ocorre em homens, associada ou não a outras patologias.

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A Sociedade Internacional de Continência (ICS) define a BH como uma vontade súbita de urinar, difícil de controlar, acompanhada ou não de perdas urinárias, normalmente associada a um aumento do número de vezes que o doente recorre ao WC (oito vezes durante 24h00) e aumento do número de micções noturnas.

A BH interfere com a vida familiar, laboral e social, causa embaraço, afeta a autoestima e diminui consideravelmente a qualidade de vida. As pessoas que sofrem de bexiga hiperativa podem ter de adaptar o seu estilo de vida, dependendo dos sintomas que apresentam, como procurar estar mais próximos de um WC ou identificar todos os WCs quando chegam a um local estranho.

Esta doença pode mesmo reduzir a vida social ou colocar algum impedimento laboral no que diz respeito a deslocações e reuniões mais demoradas.

António Carvalho, especialista em Urologia e Coordenador do Serviço de Urologia do Trofa Saúde Hospital.
António Carvalho, médico especialista em Urologia e Coordenador do Serviço de Urologia do Trofa Saúde Hospital créditos: DR

Risco de depressão

O risco de depressão nestes doentes é três a quatro vezes maior do que na população em geral. Têm mais alterações do sono, são mais ansiosos, apresentam maior taxa de absentismo laboral e têm tendência para menor satisfação sexual. Trata-se de uma patologia pouco conhecida da população em geral, associada a ideias de pseudo-normalidade e vergonha da parte do doente. Por estas razões presume-se que somente um quarto dos doentes esteja a fazer tratamento.

Para um correto diagnóstico, o médico para além da história clínica, poderá solicitar exames laboratoriais ou de imagem, complementados com um diário miccional ou até mesmo a realização de um exame urodinâmico.

A definição de um plano de tratamento depende de múltiplos fatores, nomeadamente: o número de vezes que o doente vai ao WC, se está associado a perdas urinárias, o impacto na qualidade de vida, os custos associados e potenciais efeitos colaterais da medicação.

Recomendações médicas

Em primeiro lugar é importante adotar um estilo de vida saudável, com cessação tabágica, a prática regular de exercício físico e a perda ponderal nos casos de excesso de peso/ obesidade. Ajustar a quantidade de água ingerida, evitar alimentos ou bebidas irritantes para bexiga, como por exemplo bebidas gaseificadas, com cafeína, comidas picantes e citrinos. Sugere-se a restrição hídrica a partir das 18 horas quando ocorre um aumento do número de mições noturnas.

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Também existem múltiplas opções terapêuticas, com graus progressivamente maiores de complexidade, que podem ir desde a elaboração de planos de exercícios de reforço dos músculos do pavimento pélvico (com recurso a diversas técnicas da área da Medicina Física e de Reabilitação), estratégias comportamentais para tentar controlar/retardar a urgência urinária até ao tratamento farmacológico, que deverá ser ajustado a cada doente.

Na maioria dos doentes a combinação dos tratamentos anteriormente referidos é eficaz, porém se não ocorrer melhoria clínica significativa, o tratamento pode passar por intervenções cirúrgicas minimamente invasivas, como a injeção intravesical de toxina botulínica, até à implantação de dispositivos de eletroestimulação.

Em resumo, a BH é um problema de saúde frequente, de diagnóstico e investigação relativamente simples, e com tratamentos pouco invasivos e muito eficazes. O primeiro passo para a sua resolução cabe a cada um de nós.

As explicações são do médico António Carvalho, especialista em Urologia e Coordenador do Serviço de Urologia do Trofa Saúde Hospital.