O conhecido cantor canadiano Justin Bieber cancelou a sua digressão mundial, que passava por Portugal, "por motivos de saúde". Em junho deste ano, num vídeo publicado no Instagram, o artista informou que foi diagnosticado com a síndrome de Ramsay Hunt, que lhe paralisou o lado direito do rosto.

Também designado Herpes Zoster do ouvido, trata-se de uma infeção do nervo facial e auditivo. Para além de provocar manchas e bolhas vermelhas junto à orelha, esta síndrome provoca paralisia facial, problemas de audição e vertigens, sintomas debilitantes para um artista de palco.

Apesar de não ser contagioso, o vírus do Herpes Zoster pode ter manifestações graves, como é o caso da síndrome de Ramsay Hunt.

Este é o mesmo vírus que provoca uma doença conhecida como Herpes Zoster, Zona ou Cobrão, que é causada pela sua reativação no organismo, pois este é o mesmo vírus que causa a varicela, uma doença bastante frequente na infância.

Apesar de a Zona ser uma doença a que toda a população está sujeita, mais de 90% das pessoas com mais de 50 anos vivem com este vírus latente no seu sistema nervoso e 1 em cada 3 adultos vão desenvolver infeção por Herpes Zoster ao longo da vida, particularmente com o avançar da idade devido à deterioração gradual do sistema imunitário e nos doentes crónicos ou imunocomprometidos, segundo dados da Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP).

A boa notícia é que esta é uma doença prevenível através da vacinação. Contudo, 8 em cada 10 portugueses referem o desconhecimento sobre a existência desta vacina e indicam este fator como a principal barreira à vacinação. Dois em cada 10 pessoas não estão vacinadas contra o Herpes Zoster mas gostariam de estar.

Falámos sobre este vírus com o médico Luís Rocha, pneumologista da FPP.

O que é o vírus Herpes Zoster e como se manifesta?

O vírus Varicela Zoster (Human Herpesvírus-3: HHV-3) é o mesmo vírus que provoca a doença infeciosa varicela, popularmente conhecida como zona. É a mesma infeção mas não é exatamente a mesma doença, porque os sintomas a epidemiologia e as complicações são bem diferentes. O Herpes Zoster também não tem qualquer relação com o herpes labial ou herpes genital; os nomes são semelhantes, mas as doenças são distintas, causadas por vírus da mesma família (Herpesviridae).

Quando somos expostos ao vírus Herpes Zoster pela primeira vez, durante a infância, desenvolvemos uma doença que se caracteriza por febre e vesículas de coloração avermelhada por todo o corpo, a varicela. Após uma ou duas semanas de sintomas, o nosso sistema imunológico cria anticorpos, controla a replicação do vírus e a doença desaparece espontaneamente. Só que o desaparecimento dos sintomas não equivale ao desaparecimento do vírus. Este vírus invade as terminações nervosas da pele, emigra até algumas cadeias de gânglios localizadas próximo à medula espinhal e ao cérebro, conseguindo, assim, permanecer “escondido” no sistema imunológico por períodos que podem durar décadas.

Este vírus está presente no sistema nervoso de mais de 90% das pessoas com mais de 50 anos. Estas pessoas são grupo de risco para desenvolvimento da doença provocada pelo vírus Herpes Zoster, a Zona?

A nossa batalha contra o vírus depende de um sistema imunológico forte. Podem passar décadas até que exista um enfraquecimento imunológico para o vírus voltar a multiplicar-se, provocando não a varicela, mas sim uma doença diferente, chamada Herpes Zoster.

Na reativação, ele faz o caminho inverso, viajando do nervo de volta à pele. Ao chegar à pele, o vírus provoca as lesões típicas do Herpes Zoster, como múltiplas vesículas (bolhas) avermelhadas, que ficam restritas a uma pequena zona do corpo, exatamente aquela que é inervada pelos nervos que “escondiam” o vírus, designado por dermátomo.

A forma como as lesões do Herpes Zoster se agrupam, geralmente em “faixa no dermátomo” e nunca ultrapassando a linha média do corpo, é a característica mais importante para o diagnóstico da infeção.

53% dos portugueses não conhecem os fatores de risco associados à Zona. Quais são?

Como já referido, para ter Herpes Zoster é necessário já ter tido varicela em algum momento da vida. Até 20% dos doentes com história de varicela na infância apresentarão pelo menos um episódio de zona, que surge, geralmente, após os 50 anos. Entre os doentes com mais de 85 anos essa taxa sobe para mais de 50%.

Entre os fatores de risco estão:

  • Idade acima de 50 anos;
  • Stress físico ou psicológico;
  • Privação de sono;
  • Diabetes mellitus;
  • Cancro;
  • Tratamentos imunossupressores como a quimioterapia e biológicos;
  • HIV/SIDA;
  • Doenças crónicas como as doenças cardíacas, renais, hepáticas, hematológicas, metabólicas e respiratórias.

Como especialista em doenças respiratórias não podia deixar de referenciar que a doença respiratória crónica e designada por DPOC teve recentemente pela iniciativa GOLD (Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease) uma recomendação para que estes doentes com mais de 50 anos fossem vacinados contra o Herpes Zoster.

Quais os principais sintomas e consequências da Zona?

A Zona normalmente apresenta-se como uma erupção cutânea (vesículas ou bolhas) extremamente dolorosa e pruriginosa (ato de coçar) que se desenvolve num dos lados do corpo (dermátomo) e que pode durar entre duas a quatro semanas. A dor associada à Zona é frequentemente descrita como a de uma queimadura, pontada ou esfaqueamento.

Mesmo depois da erupção se resolver, os doentes podem ter Nevralgia pós-Herpética, uma dor com duração de pelo menos três meses após o aparecimento das vesículas até vários anos. Trata-se da complicação mais comum de Herpes Zoster, ocorrendo entre 5-30% dos casos de Zona.

É possível tratar a Zona? De que forma?

Na maioria dos casos, o Herpes Zoster desaparece espontaneamente após alguns dias. O tratamento com antivirais, que está indicado para acelerar o processo, é feito com medicamentos que se iniciados nas primeiras 72 horas de doença diminuem a severidade, a duração e os riscos de complicações do Herpes Zoster.

Em outros doentes, a dor provocada pelo Herpes Zoster pode ser intensa e o uso de analgésicos está indicado, em outros a dor é tão intensa, que é preciso lançar mão de opioides (derivados da morfina) para o controle.

Como a dor é de origem neurológica outros medicamentos como antidepressivos ou anticonvulsivantes também podem ser usados para aliviar os sintomas, principalmente nos casos de Nevralgia pós-Herpética.

É possível prevenir a Zona? De que forma?

As vacinas são muitas vezes a única opção de proteção contra doenças infeciosas que podem representar riscos significativos para a saúde pública, uma vez que tendencialmente estas doenças caracterizam-se por serem agudas, com opções de tratamento limitadas e que, em algumas situações, podem resultar em morte ou morbilidade significativa em populações saudáveis.

Que conselho deixaria a todas as pessoas com mais de 50 anos que pretendem evitar / prevenir a Zona?

Os adultos precisam de manter as suas vacinas em dia porque a imunidade das vacinas pediátricas pode diminuir com o tempo e com base na sua idade, condições de saúde, trabalho, estilo de vida ou hábitos de viagem alteram esta perspetiva para uma vacinação ao longo da vida e que pode ajudar a manter a imunidade.

Há vacinas contra o Herpes Zoster que oferecem uma proteção em todas as faixas etárias acima dos 50 anos de idade e que potenciam esta resposta imunitária e contrariam o declínio natural da imunidade associado à idade.

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