No ano passado, uma pessoa transgénero foi assassinada a cada 48 horas no Brasil, que segue na liderança do ‘ranking’ de assassinatos de transexuais e travestis no mundo, posição que ocupa desde 2008, conforme dados internacionais da organização não-governamental Transgender Europe (TGEU).

O relatório mencionou, na introdução, que em 2021 completam-se 15 anos do assassínio de Gisberta, uma travesti brasileira morta e torturada por um grupo de adolescentes na cidade do Porto.

“Há 15 anos, Portugal despertava para a realidade da intolerância e do ódio contra pessoas ‘trans’. O assassínio de uma travesti brasileira no Porto chocava a sociedade, com repercussão mundial. Agredida e violada sistematicamente por 14 adolescentes durante dias, seu corpo foi encontrado no fundo de um poço de 15 metros, onde foi jogada depois de dias de diversas formas de violências”, referiu o documento.

O levantamento da Antra destacou que entre 2017 e 2020 foram cometidos 641 assassínios de pessoas transexuais e travestis no Brasil.

“É importante ressaltar que a média dos anos considerados nesta pesquisa (2008 a 2020) é de 122,5 assassinatos por ano. Observando o ano de 2020, vemos que ele está 43,5% acima da média de assassinatos em números absolutos”, apontou o relatório.

“O ano de 2020 revelou aumento de 201% em relação a 2008, o ano que apresentou o número mais baixo de casos relatados, saindo de 58 assassinatos em 2008 para 175 em 2020. Mesmo durante a pandemia, os casos tiveram aumento significativo de acordo com o publicado nos boletins bimestrais ao longo de 2020″, acrescentou.

A Antra destacou que as maiores possibilidades de uma pessoa transexual ou travesti ser assassinada no Brasil estão na faixa etária entre 15 e 29 anos.

“O mapa dos assassinatos 2020 aponta que, dentre os 109 casos em que foi possível identificar a idade das vítimas, 61 (56%) vítimas tinham entre 15 e 29 anos, e 31 (28,4%) era a idade daquelas entre 30 e 39 anos, oito (7,3%) entre 40 e 49 anos, e nove (8,3%) entre 50 e 59 anos”, informou a organização não-governamental.

Os dados indicam também que não foram encontrados casos de pessoas transexuais ou travestis assassinadas em 2020 com mais de 60 anos.

Além disso, 71% dos assassínios contra pessoas transgénero aconteceram em espaços públicos, tendo sido identificado que pelo menos oito vítimas se encontravam em situação de rua.

“Também foi identificado que pelo menos 72% dos assassínios foram direcionados contra travestis e mulheres transexuais profissionais do sexo, que são as mais expostas à violência direta e vivenciam o estigma que os processos de marginalização impõem a essas profissionais”, concluiu o relatório anual.