A pandemia veio agravar o diagnóstico e tratamento do cancro colorretal?

Na sequência da pandemia de COVID-19, várias consultas, rastreios e tratamentos foram colocados em segundo plano, devido à sobrecarga dos serviços de saúde. O diagnóstico e tratamento do cancro colorretal não foram exceção, tendo sido suspensos numa fase inicial, o que se prevê que num futuro próximo traga consequências muito negativas.

Que grupos de risco não devem atrasar o diagnóstico?

Quem tiver antecedentes familiares de cancro colorretal deve estar mais atento. Se uma pessoa tiver alguém na família que teve a doença com uma idade superior aos 50 anos, deve fazer o rastreio. No entanto, todas as pessoas devem fazer o rastreio a partir dos 50 anos.

Se eventualmente o antecedente familiar tiver sido diagnosticado com cancro colorretal por volta dos 40 anos, por exemplo, a pessoa deve fazer o primeiro rastreio 10 anos antes da idade em que essa pessoa de família teve a doença.

Como é feito o diagnóstico, quem o deve fazer e quando?

O diagnóstico deve ser precoce pois permite diminuir quer a incidência, quer a mortalidade. O ideal é investir no rastreio, ou seja, quando não há sintomas e, em princípio, ainda não existe tumor maligno. Os métodos de rastreio devem ser feitos a partir dos 50 anos por indivíduos saudáveis. A pesquisa de sangue oculto nas fezes deve ser realizada a cada dois anos. A outra alternativa, e a que tem maior impacto na mortalidade, é a colonoscopia, porque pode remover os pólipos ou outras lesões que existam. Deve ser feita a cada cinco anos.

Leopoldo Matos, gastrenterologista no Hospital Lusíadas Lisboa
Leopoldo Matos, gastrenterologista no Hospital Lusíadas Lisboa Leopoldo Matos, gastrenterologista no Hospital Lusíadas Lisboa

Quais os riscos de um diagnóstico tardio?

Quando estamos perante o diagnóstico de cancro colorretal, temos de conhecer o estadiamento da doença, que determina se a doença está só localizada no intestino, se está já espalhado na área do intestino ou se tem metástases à distância, por exemplo no fígado ou no pulmão. Na fase precoce, a taxa de sucesso de uma cirurgia pode ser curativa, podendo atingir os 90% de sobrevida aos cinco anos. Se o diagnóstico é tardio, é necessário outro tipo de terapêuticas como a cirurgia e quimioterapia, para tentar minimizar a progressão da doença e, nesses casos, as taxas de sucesso são, como é óbvio, menores (50%).

A que sintomas se deve estar atento?

Os sintomas são variados: uma alteração inesperada do hábito intestinal, ou seja, uma pessoa que normalmente é obstipada passar a ter diarreias com frequência, sem motivo aparente, ou o contrário; a sensação de querer ir evacuar e depois ser uma falsa vontade e a evacuação não se fazer com a forma habitual; a sensação de não ter evacuado totalmente e não haver mais nada que se possa expulsar; a perda de sangue. Existem também alguns sintomas gerais que podem dever-se a um problema do intestino, como a pessoa sentir-se doente, ter uma anemia, estar a emagrecer, perder o apetite ou ter dores abdominais persistentes.

É possível prevenir este tipo de cancro?

Não há até ao momento um conhecimento exato das causas deste cancro, mas o comportamento que devemos ter é de uma vida saudável. A dieta mediterrânica tem sido muito aconselhada, sendo aquela que menor probabilidade tem de induzir alterações no intestino. Além disso, ter uma vida sem sedentarismo, não fumar, evitar bebidas alcoólicas e contrariar a obesidade. São estas as situações que são as mais aconselhadas para diminuir a probabilidade do aparecimento da doença. Reforço mais uma vez a importância do rastreio para remover lesões precursoras do cancro e da deteção precoce. Uma das evidências mais importantes do diagnóstico na fase inicial da doença é o facto de 90% destes doentes continuarem vivos cinco anos depois do diagnóstico. Por oposição, apenas 10% estarão vivos se a doença já estiver disseminada no organismo aquando da sua descoberta.

Sendo o rastreio essencial para a deteção precoce do cancro colorretal, a Fundação Ageas, a Médis, as Farmácias Portuguesas, a Europacolon Portugal e outras entidades, lançaram, a 15 de março, o Movimento 50+. Este movimento tem como objetivo incentivar os portugueses, dos 50 aos 74 anos, a realizar o rastreio.

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