O cancro colorretal é também conhecido por cancro do cólon ou cancro do intestino grosso. É uma das doenças oncológicas mais comuns nos países desenvolvidos. Desenvolve-se devido à produção descontrolada de células da camada de revestimento interior do cólon ou do reto. Em Portugal, em 2020, verificaram-se 10.501 novos casos de cancro colorretal diagnosticados. É o segundo tipo de cancro que mais pessoas mata em Portugal. A deteção precoce do cancro colorretal reduz drasticamente a taxa de mortalidade.
Como é feito o diagnóstico do cancro colorretal e qual a sua importância?
O diagnóstico do cancro colorretal é algo bastante simples e deve ser realizado precocemente, pois permite diminuir o sofrimento e a mortalidade. Como medidas de prevenção e deteção precoce, temos o rastreio, que pode ser efetuado com a pesquisa de sangue oculto nas fezes ou com a colonoscopia. Especialmente, para quem ainda não tem sintomas, deve ser realizado através da pesquisa de sangue oculto nas fezes. Para o diagnóstico, a colonoscopia é o meio complementar necessário, que permite remover os pólipos ou outras lesões que existam e fazer colheitas (biopsias) para diagnóstico das lesões encontradas.
Quais os riscos de um diagnóstico tardio?
Quando estamos perante o diagnóstico de cancro colorretal, temos de conhecer o estadio da doença, que determina se está só localizada no intestino, se já invadiu a área próxima do tumor ou se tem metástases à distância, por exemplo no fígado ou no pulmão. Na fase precoce, a taxa de sucesso de uma cirurgia pode ser curativa, podendo atingir os 90% de sobrevida aos cinco anos. Se o diagnóstico é tardio, pode ser necessária a cirurgia ou é necessário outro tipo de terapêuticas como a quimioterapia, para tentar minimizar a progressão da doença e, nesses casos, as taxas de sucesso são, como é óbvio, menores (50%).
Quem o deve fazer e com que regularidade?
O método de rastreio, se for a pesquisa de sangue oculto nas fezes, deve ser realizado, de dois em dois anos, por pessoas a partir dos 50 anos, assintomáticas, saudáveis e sem história familiar de cancro colorretal. Se o método utilizado for a colonoscopia, em condições de risco standard o intervalo é de 5 anos.
Quais os sintomas aos quais se deve estar atento?
Os sintomas são variados: uma alteração inesperada do hábito intestinal, ou seja, uma pessoa que normalmente é obstipada passar a ter diarreias com frequência, sem motivo aparente, ou o contrário; a sensação de querer ir evacuar e depois ser uma falsa vontade e a evacuação não se fazer com a forma habitual; a sensação de não ter evacuado totalmente e não haver mais nada que se possa expulsar; a perda de sangue. Existem também alguns sintomas gerais que podem dever-se a um problema do intestino, como a pessoa sentir-se doente, ter uma anemia, estar a emagrecer, perder o apetite ou ter dores abdominais persistentes.
Existe alguma forma de prevenir este tipo de cancro?
Não há até ao momento um conhecimento exato das causas deste cancro, mas o comportamento que devemos ter é de uma vida saudável. A dieta mediterrânica tem sido muito aconselhada, sendo aquela que menor probabilidade tem de induzir alterações no intestino. Além disso, ter uma vida sem sedentarismo, não fumar, evitar bebidas alcoólicas e contrariar a obesidade. São estas as situações que são as mais aconselhadas para diminuir a probabilidade do aparecimento da doença. Reforço mais uma vez a importância do rastreio para identificar lesões precursoras do cancro e da deteção precoce. Uma das evidências mais importantes do diagnóstico na fase inicial da doença é o facto de 90% destes doentes continuarem vivos cinco anos depois do diagnóstico. Por oposição, apenas 10% estarão vivos se a doença já estiver disseminada no organismo aquando da sua descoberta.
Sente que o público está desperto para os riscos desta doença?
Penso que o público ainda não tem conhecimento suficiente sobre esta doença e daí ser tão importante esta campanha. Fala-se muito em outros tipos de cancro, mas não se fala muito sobre este, que inclusive é um dos cancros mais mortais. E é necessário mudar isso para se salvar vidas.
Quais são as principais queixas dos doentes que ouve na sua prática clínica?
São múltiplas, mas quase sempre ligadas à dificuldade em cumprir o calendário de rastreios, a dificuldade de agendar um exame endoscópico (colonoscopia), caso venha a ser necessário, a dificuldade em esclarecer os familiares a fazerem o rastreio, etc.
Qual a importância desta campanha?
Sendo o rastreio essencial para a deteção de lesões benignas precursores do cancro (os pólipos) ou o diagnóstico precoce do cancro colorretal e para o sucesso do tratamento, esta campanha é essencial não só para incentivar os portugueses, dos 50 aos 74 anos, a realizar o rastreio, mas também para aumentar a literacia dos portugueses sobre este cancro em específico. A partir do momento que os portugueses têm mais conhecimento sobre a doença, estão também mais atentos aos seus sinais e sabem de que forma a prevenir e isso é muito importante para diminuir a taxa de mortalidade da doença em Portugal.
Desde que a campanha começou, notaram um aumento de diagnósticos?
Ainda não temos tantos diagnósticos como gostaríamos, mas estamos a trabalhar para continuar a incentivar os portugueses, com mais de 50 anos, a prevenirem-se contra a doença, realizando o seu rastreio. Há zonas do país, como o interior, onde o número de pessoas que realizaram o diagnóstico é ainda muito baixo e isso não deixa de ser preocupante, uma vez que, é onde se concentra grande parte da população envelhecida.
Até quando decorre esta campanha e onde é que as pessoas se devem dirigir para fazer o rastreio?
Esta campanha decorre até 31 de maio. Para realizar o rastreio as pessoas devem inscrever-se até 31 de maio, em grupoageas.pt/cancrocolorretal, dirigir-se a um dos laboratórios/postos de colheita informados na mesma página - Redes Germano de Sousa e Unilabs - e solicitar um kit. A recolha é feita em casa pelo próprio e deve ser entregue no respetivo laboratório/posto de colheita até 10 de junho, que posteriormente comunicará o resultado.
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