O Cancro de Cabeça e Pescoço desenvolve-se em localizações tão variadas como cavidade oral (boca), fossas nasais (nariz), seios perinasais, faringe, laringe e glândulas salivares.

As expressões “cancro da boca” e “cancro da garganta”, vulgarmente utilizadas pela população em geral, correspondem a tumores da faringe e/ou laringe, sendo os mais frequentes. A faringe, órgão comum ao aparelho respiratório e digestivo, é composta por 3 regiões: nasofaringe, orofaringe e hipofaringe. A laringe, por sua vez, é um órgão do aparelho respiratório, envolvido não só na produção da voz, mas também na proteção da via respiratória, funcionando como uma válvula que impede a passagem de alimentos para a via aérea.

Dada a elevada taxa de morbilidade e mortalidade, a prevenção é fundamental. Estes tumores estão intimamente relacionados com determinados estilos de vida, sendo o tabagismo e o consumo de álcool responsáveis pela grande maioria dos casos. Também as infeções por HPV (Vírus do Papiloma Humano), particularmente o tipo 16 e 18, e por EBV (Vírus Epstein-Bar), aumentam o risco de cancro da orofaringe e nasofaringe, respetivamente. Desta forma, a adoção de hábitos de vida saudáveis e a evicção de comportamentos de risco, representam pilares essenciais na prevenção.

Cerca de 2/3 dos casos são diagnosticados já em fases avançadas da doença, levando tratamentos mais mutilantes e a taxas de recidiva superiores. A deteção precoce pode representar tratamentos menos agressivos, com melhor taxa de sobrevida e qualidade de vida. Para tal, é crucial a identificação precoce de sinais e sintomas sugestivos destes tumores.

Sintomas

Sintomas como dor prolongada, hemorragia da garganta, rouquidão persistente, dificuldade em engolir e/ou respirar, e aumento de gânglios no pescoço, devem ser avaliados por um médico.

O tratamento depende de vários fatores como: estadio da doença, localização do tumor, idade e estado geral do doente. Cada caso é avaliado, individualmente, de forma multidisciplinar, podendo ser opção de tratamento a cirurgia, a quimioterapia, a radioterapia e a imunoterapia, isoladamente ou em combinação.

Dado o aparecimento destes tumores em locais envolvidos na fala, na alimentação e na respiração, o seu crescimento, assim como o efeito dos tratamentos, pode trazer diferenças importantes ao dia-a-dia dos doentes, principalmente em casos de doença avançada.

A alteração ou perda da voz e a eventual necessidade de aprendizagem de novas técnicas de produção de voz apresentam-se como algumas das possíveis mudanças. A existência de um orifício no pescoço (traqueostomia) para respirar, constitui uma nova realidade e um estigma para alguns. Além disso, se a deglutição for afetada, pode ser necessário assegurar o aporte nutricional através de uma sonda direta ao estômago (gastrostomia), retirando o prazer de saborear os alimentos.

Estas diferenças, assim como os sintomas associados aos efeitos da quimio/radioterapia, podem representar alterações muito significativas na qualidade de vida dos doentes.

Em suma, é fundamental a evicção dos fatores de risco assim como estar alerta para a deteção precoce destes tumores. Isto pode influenciar não só a sobrevivência e probabilidade de recorrência, mas também a qualidade de vida após tratamento.

Um artigo de Maria Branco Lopes, Médica Interna de Otorrinolaringologia no Hospital Garcia de Orta, e de Carla André, Médica Especialista em Otorrinolaringologia Hospital Garcia de Orta.