A médica responsável pela Consulta de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) no Hospital dos Capuchos, em Lisboa, que pertence à Unidade Local de Saúde (ULS) São José, adiantou à agência Lusa que se começou a assistir desde os anos 2000 a um aumento da sífilis, que se tem mantido, embora a um ritmo menor, e na última década o maior aumento tem sido de casos de gonorreia.
“São as duas infeções cujo aumento é mais marcado nesta fase”, disse a dermatologista, que falava à agência Lusa a propósito do Dia Internacional do Preservativo, que se assinala em 13 de fevereiro.
A clamídia também é uma infeção sexualmente transmissível “muito prevalente” em Portugal, mas o número de casos tem-se mantido estável, adiantou a especialista, ressalvando que o aumento das infeções sexualmente transmissíveis não acontece apenas em Portugal, mas também nos países europeus e ocidentais.
Por outro lado, a infeção pelo vírus do HPV, que há 20 anos era a causa mais frequente da consulta de DST, deixou praticamente de existir por causa da vacina que foi introduzida no plano nacional de vacinação em 2008.
“Nas raparigas vacinadas deixámos praticamente de ter estas verrugas genitais [HPV] e também já se nota uma diminuição nos homens, portanto, isso é um dado muito positivo”, disse a especialista, defendendo as vacinas como “medidas muito importantes na prevenção das infeções”.
A consulta do Hospital de Santo António dos Capuchos funciona em regime de “porta aberta”, acolhendo utentes de todo o país de forma gratuita, e a procura tem vindo a crescer de ano para ano: em 2021 foram realizadas 4.411 consultas, número que subiu para 5.157, em 2022, e para 5.209 no ano passado.
“A nossa consulta é fundamentalmente de pessoas abaixo dos 40 anos, embora haja pessoas mais velhas”, disse Cândida Fernandes, observando que a elevada procura da consulta tem “aspetos positivos” no sentido de, pelo menos, algumas pessoas estarem alertadas para estas infeções e procurarem o tratamento adequado.
A especialista recordou que as medidas eficazes para prevenir estas doenças são o uso do preservativo e a vacinação contra as infeções para as quais existem vacinas, como o HPV e a Hepatite B, bem como fazer o rastreio.
Realçou ainda que, do ponto de vista epidemiológico, “o controlo destas infeções tem sido sempre muito difícil” e que, ao longo dos anos, as medidas para as controlar “têm tido uma eficácia muito relativa”.
“No fundo, nunca houve uma medida de saúde que conseguisse mudar de forma consistente o comportamento das pessoas”, lamentou a médica, que exerce há mais de 20 anos nesta consulta.
No caso do preservativo, Cândida Fernandes disse que houve sempre “uma reticência” relativamente ao seu uso: “O preservativo usado de forma consistente em todas as relações permite a diminuição marcada das infeções de transmissão sexual só que tem sido difícil que seja aceite a sua utilização”.
Na altura em que a sida era uma doença mortal existia “um medo muito palpável” nas pessoas, que se protegiam mais, mas o tratamento eficaz da doença e o acesso à Profilaxia Pré-Exposição ao VIH (PrEP) “facilitaram a manutenção da transmissão das outras infeções que por causa disso têm aumentado”.
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