Um artigo recentemente publicado na revista científica Stem Cell Research & Therapy descreve o tratamento bem-sucedido de um jovem de cerca de 25 anos com células estaminais, após ter sofrido queimaduras maioritariamente de terceiro grau em 70% do corpo, durante um incêndio doméstico.
Os autores atribuem o sucesso deste tratamento às propriedades das células estaminais mesenquimais, que acreditam terem potencial para mitigar infeções bacterianas, bem como acelerar a regeneração da pele.
Para controlo inicial do quadro clínico, o jovem foi submetido a mais de 15 cirurgias, incluindo a aplicação de enxertos de pele. No entanto, passado um ano e meio, mais de um terço das feridas permaneciam abertas e severamente infetadas. Nessa altura, o doente foi transferido para um centro especializado em queimados, onde fez novamente aplicação de enxertos de pele, mas sem sucesso.
De acordo com o estudo, concluiu-se que os tratamentos convencionais não iriam resultar num desfecho favorável e por isso foi proposto à comissão de ética do centro médico um tratamento experimental com células estaminais mesenquimais obtidas a partir de cordão umbilical.
Este tratamento foi aprovado e, numa primeira fase, as células estaminais foram aplicadas sobre as feridas, que foram seguidamente cobertas com enxertos de pele, para proteger temporariamente a zona tratada. Três semanas depois, cerca de metade das feridas estavam fechadas, tendo as áreas infetadas também diminuído significativamente.
Numa segunda fase, foram administradas células estaminais através de injeções subcutâneas, o que reduziu as feridas abertas para apenas um sétimo. Em conjunto com outras estratégias para promover o encerramento das feridas, observou-se, dois meses após o segundo tratamento com células estaminas, que mais de 97% das feridas estavam já fechadas, tendo sido realizado um último enxerto de pele para finalmente fechar as restantes.
Praticamente dois anos após o incidente e quatro meses e meio após o primeiro tratamento com células estaminais, o doente teve alta, com todas as feridas completamente fechadas. Seis anos depois, o doente encontrava-se de boa saúde, tendo-se observado que as zonas tratadas com células estaminais tinham cicatrizado bem.
Segundo Bruna Moreira, investigadora da Crioestaminal, "a utilização de células estaminais para tratar queimaduras graves constitui ainda um desafio e uma área de intensa investigação científica. Este tratamento experimental foi realizado no Canadá e demonstra como a utilização de células do cordão umbilical pode ser importante em casos mais complicados, levando a um desfecho positivo para o doente".
Atualmente, as células estaminais mesenquimais do cordão umbilical estão a ser estudadas para potencial utilização terapêutica em queimaduras graves. Para além de serem obtidas de forma simples e não invasiva, estas células são facilmente mantidas em cultura em laboratório e, uma vez administradas, têm a capacidade de migrar para o local da lesão, fornecendo suporte às células estaminais existentes no organismo. São, ainda, capazes de regular o sistema imunitário, controlar infeções microbianas e melhorar o processo de cicatrização. Os ensaios clínicos realizados até ao momento atestam a segurança da utilização destas células, sem ocorrência de efeitos adversos a longo-prazo.
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