A integração crescente de cidadãos estrangeiros em Portugal contribui para uma sociedade mais diversa e intercultural. Com comunidades oriundas de países que não têm o português, ou mesmo o inglês, como línguas nativas, esta realidade traz novas dinâmicas para os serviços públicos. Um dos desafios naturais deste contexto é a comunicação, especialmente em áreas sensíveis como a saúde, onde compreender e ser compreendido é essencial para prestar cuidados de forma eficaz e humana.
Nas urgências hospitalares, nos centros de saúde, nas consultas de especialidade ou nas farmácias, é cada vez mais comum encontrar utentes que não dominam a língua portuguesa. A barreira linguística pode dificultar o diagnóstico, prejudicar a adesão à medicação e comprometer o acompanhamento adequado. Para os profissionais de saúde, este é um desafio crescente – e muitas vezes solitário – que exige ferramentas eficazes de apoio à comunicação.
É neste ponto que a tecnologia pode, e deve, assumir um papel mais central. Os avanços em inteligência artificial e em processamento de linguagem natural tornaram possível o que há poucos anos parecia impensável: traduzir discursos em tempo real, de forma precisa, fluida e segura. Esta capacidade pode ser determinante em situações clínicas onde o tempo e a clareza da informação são cruciais.
Enquanto Country Manager da Vasco Translator em Portugal, tenho acompanhado de perto a evolução das tecnologias de tradução e o seu impacto direto em áreas tão distintas como o turismo, a segurança e, naturalmente, a saúde. Ao longo das décadas, os sistemas de saúde têm integrado de forma progressiva novas soluções tecnológicas, com o objetivo de melhorar não só a qualidade dos cuidados prestados, mas também a relação com os utentes. Esta transformação vai muito além da inovação clínica: diz respeito também aos processos administrativos, ao registo e triagem, ao seguimento pós-consulta – todo o percurso do utente é hoje mais eficiente graças a ferramentas que complementam, ao invés de substituir, a dimensãohumana do cuidado.
Sabemos que a empatia e a atenção de um profissional de saúde são determinantes para que uma pessoa se sinta acolhida e segura. Mas é igualmente verdade que os recursos tecnológicos são, cada vez mais, aliados essenciais para garantir um serviço de excelência. Porque não aplicar esta mesma lógica à comunicação? Se entendermos a linguagem como um pilar da relação terapêutica, é fundamental reconhecer que a tecnologia pode ter um papel ativo na construção de pontes entre profissionais e utentes de diferentes idiomas.
Num cenário ideal, todas as unidades de saúde teriam mediadores culturais e intérpretes formados. Mas, perante esta impossibilidade, as soluções tecnológicas de tradução são um parceiro realista e valioso. Não substituem o contacto humano, mas podem reforçá-lo, permitindo a um profissional de saúde obter uma leitura mais adequada dos sintomas, fazer-se compreender melhor e estabelecer uma ligação mais empática com o utente estrangeiro. São várias as ferramentas tecnológicas disponíveis para este efeito; mais do que tudo, é importante que os gestores hospitalares as conheçam e deem o primeiro passo no sentido de promover a sua integração nas unidades de saúde que gerem.
Enquanto profissional da tradução, lanço este desafio aos agentes da saúde em Portugal: assegurar uma boa comunicação é assegurar uma boa prestação de cuidados de saúde. Se a relação com o paciente arranca com debilidades por causa de falhas de expressão ou compreensão, todo o processo é colocado em causa. A comunicação é, em última análise, o primeiro passo para um cuidado mais justo, inclusivo e humano. Quando compreendemos melhor, cuidamos melhor. E quando há tecnologia ao serviço desse entendimento, todos – profissionais e utentes – beneficiam.
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