Enquanto médicos de família, temos o privilégio de acompanhar de perto as mulheres em todas as etapas da sua vida, incluindo na sua jornada contracetiva. É uma responsabilidade que abraçamos com dedicação, pois compreendemos a importância de permitir que cada mulher tome decisões conscientes e informadas sobre o seu futuro reprodutivo.
Somos, muitas vezes, os primeiros profissionais de saúde a estabelecer contacto com as jovens mulheres que procuram iniciar um método contracetivo. No entanto, o nosso papel não se esgota neste primeiro encontro. Estamos presentes ao longo de todo o seu caminho, adaptando as soluções às diferentes fases da vida.
Desde a adolescência até à idade adulta, passando pela gravidez e pelo período pós-parto, as necessidades e preferências contracetivas podem mudar significativamente. É neste contexto que a relação de confiança estabelecida entre a mulher e o seu médico de família se torna tão valiosa.
Conhecemos a história clínica completa das nossas utentes, estando assim melhor preparados para avaliar os riscos e benefícios de cada método contracetivo, tendo em conta as particularidades de cada uma. Esta abordagem holística é fundamental para garantir soluções verdadeiramente adequadas e personalizadas.
No nosso dia a dia, deparamo-nos com inúmeras situações em que as mulheres (principalmente as mais jovens) se sentem sobrecarregadas com a quantidade de informação disponível, nem sempre precisa ou adequada às suas circunstâncias pessoais. É comum ouvirem conselhos de amigas ou serem influenciadas por publicações nas redes sociais, gerando dúvidas e receios desnecessários.
É neste momento que o nosso aconselhamento profissional pode até mesmo ser decisivo, pois através de uma abordagem empática e acolhedora, dedicando tempo a compreender as motivações, preferências e limitações individuais de cada mulher, podemos ajudá-las a encontrar a solução contracetiva mais adequada.
Ademais, o impacto ambiental dos métodos contracetivos é uma das preocupações crescentes que temos vindo a observar, especialmente entre as gerações mais jovens. A contraceção oral combinada contem estrogénios que podem contaminar os ecossistemas aquáticos e afetar a reprodução de espécies marinhas, despertando a necessidade de soluções mais sustentáveis.
Como médicos de família do Grupo de Estudos da Saúde da Mulher, temos trabalhado em estreita colaboração com outros grupos de estudos e organizações dedicadas à saúde da mulher, com o objetivo de aumentar a sensibilização para a importância da contraceção verde. Esta abordagem visa minimizar o impacto ambiental dos métodos contracetivos, utilizando estrogénios naturais, semelhantes às hormonas produzidas pelo corpo humano, e, também, mais amigos do ambiente.
Além disso, procuramos promover a educação e a literacia em saúde reprodutiva, uma vez que acreditamos que quanto mais informadas estiverem as mulheres, melhores serão as suas escolhas. É nossa responsabilidade fornecer informações científicas atualizadas e desmistificar crenças e mitos errados sobre a contraceção.
Através deste aconselhamento abrangente, que considera não apenas a eficácia dos métodos, mas também o contexto pessoal, as preocupações ambientais, a educação e o bem-estar emocional de cada mulher, queremos continuar a fazer a diferença na promoção de escolhas informadas e responsáveis em relação à saúde reprodutiva.
Juntos, estamos a construir um futuro mais saudável e sustentável, onde a contraceção é uma escolha livre e esclarecida, em harmonia com os valores individuais e com o planeta que habitamos.
Um artigo do Grupo de Estudos da Saúde da Mulher, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.
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