1. Em caso de infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2, a gravidade da doença COVID-19 aumenta de acordo com a gravidade da obesidade, ou seja, de acordo com o IMC (índice de massa corporal), tendo maior risco aqueles com IMC igual ou superior a 35 ou 40 Kg/m2.
2. As pessoas com obesidade, tal como as pessoas com diabetes mellitus, doenças cardiovasculares ou outras doenças crónicas, não têm maior risco de contrair a doença COVID-19, causada pelo coronavírus SARS-CoV-2.
3. A obesidade contribui para a gravidade da doença COVID-19 e para uma maior necessidade de internamento nos Cuidados Intensivos.
4. Além da obesidade (IMC> 40 kg/m2) e da idade também foram identificados como fatores mais associados ao risco de hospitalização por COVID-19, a insuficiência cardíaca e a doença renal crônica, ambas muito prevalentes nas pessoas com obesidade e nas pessoas com obesidade e diabetes.
5. Os doentes com formas mais graves de COVID-19 são aqueles com doenças prévias como a hipertensão arterial, diabetes mellitus, doença respiratória crónica, doença cardiovascular e cancros, que também são mais prevalentes em pessoas com obesidade.
6. As pessoas com obesidade têm um risco aumentado de mais de 200 comorbilidades ou doenças associadas, incluindo mais de 10 tipos de cancros. São exemplos destas comorbilidades a hipertensão arterial, pré-diabetes, diabetes mellitus, dislipidemia, doença renal, doença cardiovascular, apneia do sono, patologia osteoarticular, síndrome do ovário poliquístico, infertilidade, entre outras.
7. As pessoas com obesidade e com COVID-19 têm um elevado risco de hospitalização, doença mais grave e mortalidade, provavelmente devido à inflamação crónica de baixo grau e alteração da resposta imune à infeção, mas também devido ao aumento das comorbilidades cardiometabólicas e pulmonares associadas à obesidade descritas acima.
8. A quarentena, o confinamento, o isolamento social e familiar, a instalação do medo da infeção, o stress e a ansiedade relativas ao futuro poderão ter potenciado comportamentos desadaptados e distorção cognitiva, sofrimento psicossocial com impacto no comportamento alimentar e redução da atividade física com consequências no agravamento da obesidade e na saúde e no bem-estar das pessoas com obesidade e pré-obesidade a curto e a longo prazo, mesmo naquelas ainda sem outras comorbilidades associadas ou ainda não diagnosticadas da obesidade.
9. A obesidade é uma doença crónica, persistente, grave, complexa e recorrente, e que é importante prestar atenção especial aos novos desafios colocados pela pandemia, para evitar consequências ainda maiores.
10. Na fase de desconfinamento há que o fazer de acordo com as regras de segurança e proteção individual e coletiva, refletir sobre o que aconteceu nos últimos meses e tirar lições para o futuro. Modificar a nossa vida, que faz sentido ser vivida de uma forma plena, com estilos de vida saudáveis em termos alimentares, de atividade física e da higiene do sono, e tentar minimizar o stress psicológico. E elenco algumas dicas que poderão ser úteis: 1) Não descurar a hidratação (sobretudo água e evitar a ingestão de bebidas alcoólicas e açucaradas); 2) Manter ou iniciar uma alimentação saudável, equilibrada e variada; 3) Praticar exercício físico regular. Sugiro uma visita ao site da SPEO – www.speo.pt – e descarregar o “Manual para a Pessoa com Obesidade e Pré-Obesidade” onde podem encontrar dicas sobre alimentação, atividade física e do foro da Psicologia e uma visita ao novíssimo site www.averdadesobreopeso.com.
Um artigo da médica Paula Freitas, Presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) e especialista em Endocrinologia.
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