"Esta não era altura de baixar os braços e fechar os centros de vacinação durante vários dias. Eu sei que já há uma taxa muito elevada de pessoas com mais de 65 anos com a terceira dose, e os outros?", questiona o pneumologista João Carlos Winck.

"Falta vacinar as pessoas com 50, 40 e 30 anos. No Reino Unido, Boris Johnson foi recrutar até os veterinários para dar vacinas. Mas nós aqui vamos ter os centros de vacinação fechados durante cinco dias. Confesso que fico espantado, porque sei que as pessoas estão desgastadas e que toda a gente está muito cansada, mas estamos a atrasar imenso a vacinação", adverte o especialista.

Em entrevista ao SAPO, o médico, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e coordenador da área da ventilação não invasiva da Sociedade Respiratória Europeia, frisa que "a vantagem de uma terceira dose é brutal". "Em cinco dias podemos vacinar mais de 300 mil pessoas. Era importante continuar a vacinar para evitar um novo pico de infeções em janeiro", comenta.

"Dados concretos dizem-nos que a terceira dose protege 70% contra a infeção por Omicron, enquanto as duas doses conferem uma eficácia de proteção de 30%", acrescenta o médico.

A variante Omicron já foi detetada em, pelo menos, 106 países, incluindo Portugal, é mais transmissível, mas, apesar de escapar em parte às vacinas, estas continuam eficazes a prevenir a doença grave e a morte.

As farmacêuticas, apesar de garantirem a eficácia das suas vacinas, assumem a necessidade da administração de uma terceira dose de reforço, para restabelecer os níveis de anticorpos desejáveis no organismo, e estão a preparar uma fórmula específica para a Omicron.

Apesar de ser necessário um maior número de anticorpos para neutralizar a nova variante, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o regulador europeu do medicamento (EMA) consideram que à data as vacinas aprovadas para a COVID-19 continuam eficazes contra a doença grave, hospitalizações e morte.

Cientistas lembram que quando os níveis de anticorpos induzidos pelas vacinas diminuem, isso não significa que se deixe de estar protegido, pois no intricado "puzzle" da imunidade há que contar com outra "peça", a da memória imunológica conferida por células do sistema imunitário.

Faltam vacinas em Portugal?

Sobre o atraso na imunização com a terceira dose ou dose de reforço da vacina contra a COVID-19, tema que já valeu duras críticas a Portugal por parte de Durão Barroso, da Aliança Global para as Vacinas (GAVI), João Carlos Winck pede mais informações às autoridades de saúde.

"Não estamos a vacinar porque não há vacinas ou não estamos a vacinar porque não queremos?", pergunta. "Não sabemos atualmente quantas doses de vacinas temos e quantas vamos dar nos próximos 15 dias", lamenta.

"Será que estamos sem vacinas? Acho que era importante que os portugueses soubessem qual o motivo deste interregno", acrescenta.

Para o médico, seria importante vacinar o máximo de pessoas possível para fazer face a uma escalada de infeções associada à variante Omicron que pode entupir em janeiro os serviços de saúde.

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