“As lições que se tiram deste período ultrapassam em muito a dimensão nacional, são lições globais porque em grande medida, na maior parte do países, fica claro o apelo que a Organização Mundial de Saúde [OMS] tem vindo a fazer há muitos anos de se implementarem sistemas de cobertura geral e de acesso universal”, afirmou em entrevista à agência Lusa Adalberto Campos Fernandes.
O médico e antigo ministro da Saúde (entre 2015 e 2018) afirmou que na Europa os países que têm respondido melhor à pandemia são os que “tinham uma reserva funcional positiva dos seus sistemas de saúde”.
“Quando eu falo de sistemas de saúde não falo apenas da componente de prestação de cuidados, porque nesta matéria é também muito importante a dimensão da saúde pública como componente do sistema que aborda as questões a montante no controlo da transmissão das doenças e da sua monitorização”, explicou.
Mas, salientou, “não há dúvida nenhuma de que, olhando para o mundo, para os Estados Unidos, Reino Unido, para França, Itália para Espanha, rapidamente todos os governos perceberam a importância de ter sistemas de saúde de raiz pública com uma forte componente pública que respondam por situações destas, que são situações inesperadas e de pandemia, mas também pelas respostas às necessidades de saúde dos cidadãos”.
Para o ex-governante, todos os Estados têm de considerar que “a saúde não é de facto uma despesa inútil, que é um fortíssimo investimento até na economia”.
“Nós temos a economia parada, temos um risco de uma recessão económica brutal temos perspetivas de desemprego, de quebra de rendimentos e tudo isto por razões sanitárias”, salientou.
Adalberto Campos Fernandes disse acreditar que vai haver uma mudança de paradigma que vai correr o mundo, desde a Europa e que mais tarde ou mais cedo chegará também aos Estados Unidos.
Os Estados Unidos são hoje “o exemplo concreto” do que é um país que não tem um sistema de saúde estruturado, bem organizado, capaz de responder às necessidades das pessoas.
“Vemos pessoas a morrerem por falta de assistência médica, por falta de cobertura financeira, o que é absolutamente inadmissível”, lamentou.
Especialista em saúde pública, referiu ainda que após esta pandemia vai haver muitas mudanças desde logo “a relação social, o funcionamento das instituições e a prestação de cuidados de saúde irão ser diferentes”.
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