Numa apresentação dos resultados do estudo-piloto, realizado entre 23 de maio e 04 de julho em Almeirim (Santarém), André Peralta Santos, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade de Lisboa, afirmou que se verificou a existência de mais pessoas expostas ao SARS-Cov-2 do que o inicialmente esperado, ao contrário do que sucedeu com os profissionais de primeira linha, com apenas 1% dos 200 testados a apresentar anticorpos.
Para o investigador, entre as mensagens a retirar do estudo, que envolveu um total de 553 pessoas, há a de que os profissionais de primeira linha, mais expostos, adotam boas medidas de proteção e revelam maior sensibilidade ao risco e que as pessoas com sintomas ligeiros não procuram os serviços de saúde, o que dificulta o controlo das cadeias de transmissão.
Por outro lado, uma em cada três pessoas testadas foram assintomáticas e as pessoas em vigilância ativa, mesmo com um teste PCR (rápido) negativo, podem ter estado expostas ao vírus.
Além da aplicação do teste desenvolvido pelo consórcio serology4COVID a uma amostra aleatória da população (270 pessoas, 1,16% da população do concelho) e aos profissionais (de saúde, bombeiros e funcionários municipais), foram testadas 83 pessoas que tiveram a doença (12) ou estiveram em contacto direto com casos positivos (vigilância ativa), 15,2% das quais apresentaram anticorpos.
Carlos Penha Gonçalves, investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e coordenador do estudo, sublinhou a importância deste projeto-piloto para estabelecer metodologias para estudos de “maior alcance” e para se perceber se um teste totalmente desenvolvido em Portugal tem condições para disputar a sua aplicação a nível nacional.
A próxima fase será a realização de um estudo-piloto num concelho urbano de maior dimensão, disse.
A iniciativa surge no âmbito do Roteiro para a Testagem Serológica da COVID-19 em Portugal, que tem por promotor o IGC e envolve uma vintena de investigadores.
A equipa ambiciona conhecer a real dimensão da pandemia no país e fornecer instrumentos de apoio à tomada de decisão pelas autoridades sanitárias.
Na apresentação dos resultados do estudo realizado em Almeirim, que decorreu hoje por videoconferência, participaram ainda Telmo Nunes, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, responsável pelo desenho e metodologia, Pedro Ribeiro, presidente da Câmara Municipal de Almeirim, e Duarte Cordeiro, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e coordenador para as questões da COVID-19 nomeado pelo Governo para a região de Lisboa e Vale do Tejo.
Pedro Ribeiro saudou a colaboração existente entre as várias entidades – investigadores, município, serviços de saúde pública -, aproveitando “recursos que já existem”, e salientou a “enorme importância” da informação obtida no apoio à tomada de decisões, tanto mais que a pandemia "não se vai resolver nos próximos meses”.
Desafiando os investigadores a prosseguirem o acompanhamento da evolução da doença no seu concelho durante o próximo ano, o autarca apelou igualmente a Duarte Cordeiro para que a administração central alargue o estudo “pelo menos à Área Metropolitana de Lisboa”, pelo impacto que esta tem em toda a região e mesmo no país.
Para Carlos Penha Gonçalves, os estudos serológicos “utilizados de forma estratégica e em alvos representativos da população” são as “ferramentas mais poderosas” que se conhecem para ajudar a perceber “como o vírus se transmite silenciosamente e como circula sem dar sinais da sua presença, infetando alguns mais que outros”.
Os testes serológicos utilizados neste estudo foram desenvolvidos pelo consórcio liderado pelo Instituto Gulbenkian de Ciência, serology4COVID, que reuniu mais quatro institutos biomédicos portugueses - o Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier da Universidade Nova de Lisboa, o Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica, o Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e o Centro de Estudos de Doenças Crónicas da NOVA Medical School da Universidade Nova de Lisboa -, com apoio financeiro da Câmara Municipal de Oeiras, da Fundação Calouste Gulbenkian e da Sociedade Francisco Manuel dos Santos.
Comentários