Segundo o jornal, que escreve que a denúncia foi enviada à Ordem dos Médicos (OM), os casos remontam ao ano passado e foram comunicados à direção clínica do Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) no início de outubro (17 doentes) e no final de novembro (cinco situações).
A OM foi informada sobre as suspeitas por correio eletrónico e já nomeou peritos para analisarem a situação, refere o Expresso.
Na missiva enviada à Ordem, segundo o Expresso, um dos cirurgiões escreve que é seu “dever ético, profissional, pessoal, de cidadania alertar para que existem situações de prejuízo de vida e qualidade de vida graves, com mortalidade e mutilações desnecessárias, evitáveis, que resultam de uma prestação de cuidados ao doente cirúrgico que não coincide com a leges artis”.
Diz igualmente que a “denúncia não se centra num médico em particular, mas sim numa situação sistémica”.
Além das alegadas “mortalidade e morbilidade injustificadas”, os médicos referem outras situações de suposta negligência.
Numa das denúncias feitas aos responsáveis clínicos do hospital – explica o jornal – outro cirurgião diz que a estes casos se somam “muitos outros, embora de gravidade significativamente menor, com doentes ‘perdidos’ no serviço (de cirurgia geral), avaliados por jovens médicos voluntariosos, mas inexperientes, que, embora estejam a dar o seu melhor, pouco ou nada são corrigidos ou orientados”.
“A mortalidade não esperada não pode ser entendida como consequência óbvia do quadro clínico e uma fatalidade da responsabilidade do doente ou do equipamento utilizado, mas antes a consequência das opções de quem assume e define a estratégia em cada momento”, refere o clínico, sublinhando que “é essa estratégia que deve ser questionada e reformulada, não o doente.”
O Expresso, que teve acesso a um documento que descreve algumas situações, refere o caso de um doente com cerca de 60 anos operado ao baço sem ter indicação para a cirurgia programada e que morreu “exsanguinado, com perto de 15 transfusões”, logo após a intervenção, ou outro, de outro doente também com perto de 60 anos, operado ao pâncreas por suspeitas de tumor que não existia.
Outras situações apontadas incluem casos de doentes submetidos a cirurgia oncológica que acaba por revelar que não tinham cancro e de um “doente que fez radioterapia e não tinha tumor”.
Ao jornal, a administração do hospital confirma que “recebeu, a 6 de outubro de 2022, uma denúncia escrita de alegados indícios de más práticas no Serviço de Cirurgia Geral” e garante que “de imediato deliberou a abertura de um processo de inquérito para o apuramento dos factos e eventuais responsabilidades”.
Na resposta, o hospital diz ainda que solicitou ainda “ao bastonário da Ordem dos Médicos a nomeação de instrutores externos do Colégio da Especialidade de Cirurgia Geral para garantir a necessária idoneidade e imparcialidade do processo de averiguações sobre as denúncias rececionadas”.
Acrescenta ainda que a denúncia recebida “foi comunicada à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde” (IGAS), assim como todas as medidas adotadas.
Segundo o hospital, “a 26 de outubro de 2022, a Ordem dos Médicos indicou um médico perito para abertura de ‘procedimento de inquérito prévio’, que decorre” e, após o contacto do jornal, a administração “reforçou por escrito, junto da Ordem, a muita urgência inerente a este processo, submetendo um pedido para reforço da equipa para a conclusão do inquérito a tempo”, refere a noticia.
O Expresso acrescenta ainda que a IGAS confirmou a abertura de “um processo de natureza disciplinar para apurar os factos e aguarda resultados das investigações realizadas”.
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