Healthnews (HN) -Como é que o hábito de prestar atenção pode influenciar positivamente a nossa saúde mental e bem-estar emocional?

Diogo Guerreiro (DG) – Saber prestar atenção é um dos pilares fundamentais para manter bons hábitos de saúde mental. Muitas pessoas passam a vida sem estar plenamente conscientes do que se passa consigo mesmas ou ao seu redor, o que representa uma perda significativa da sua capacidade de usufruir em pleno das suas vidas. Prestar atenção é essencial para o sucesso no trabalho, nos relacionamentos, nos estudos e no desenvolvimento pessoal.

O simples ato de focar a atenção no momento presente, sem julgamentos, fortalece a autorregulação emocional e melhora a tomada de decisões. Muitos pensamentos ansiosos estão centrados no futuro, enquanto os depressivos estão ancorados no passado. Adquirir o hábito de se focar no presente, de prestar atenção a si e ao mundo exterior, modula o funcionamento da mente e promover maior serenidade e bem-estar.

HN – Qual é a diferença entre atenção externa e atenção interna, e por que razão ambas são importantes para o nosso desenvolvimento pessoal?

DG – A atenção externa refere-se ao foco em estímulos externos, como o ambiente à nossa volta e os sinais transmitidos pelos nossos órgãos sensoriais. Já a atenção interna centra-se nos pensamentos, emoções e sensações físicas. Ambas desempenham papéis complementares no nosso desenvolvimento pessoal.

A atenção interna favorece a autorreflexão e a consciência emocional, enquanto a atenção externa é crucial para interações sociais e adaptação ao meio. Ambas são fundamentais! Estar atento tanto ao mundo interior como ao exterior permite uma compreensão mais completa de quem somos e do nosso lugar no mundo. Só assim é possível ter uma visão completa das nossas vidas.

HN – De que forma a prática de mindfulness pode contribuir para melhorar o desempenho profissional e a satisfação no trabalho?

DG – As técnicas de mindfulness têm sido objeto de muitas pesquisas científicas, que providenciam evidências de efeitos benéficos, em várias áreas da saúde. São exemplos de resultados positivos associados a esta prática a redução do stresse, melhorias ao nível de saúde mental (como em patologias ansiosas, depressivas ou relacionadas com o trauma), melhorias dos índices de concentração e atenção, redução de pensamentos intrusivos, sono de maior qualidade ou a redução da tensão arterial. Estudos de imagiologia cerebral mostraram alterações na estrutura e na função cerebral associadas à prática de mindfulness. Isso inclui mudanças na amígdala (o nosso centro do medo que regula respostas emocionais) e no córtex pré-frontal (o nosso centro de comando, responsável pelo controlo dos nossos pensamentos e emoções). Como pode imaginar, tudo isto está associado a efeitos positivos no bem-estar geral da pessoa e na sua qualidade de vida.

HN – Como é que o hábito de prestar atenção ao momento presente pode ajudar a reduzir sintomas de ansiedade e depressão?

DG – Como referi anteriormente, muitos dos nossos pensamentos ansiosos são focados no futuro e, ao contrário, muitos dos nossos pensamentos depressivos são focados no passado. Adquirir o hábito de se focar no momento presente, tem sido associado a redução dos sintomas ansiosos e depressivos. Nestes momentos de atenção e de intencionalidade, de estar no momento presente, o nosso sistema nervoso (central e periférico) reduz o nível do funcionamento do modo resposta ao perigo (modo de alarme ou resposta de luta, fuga ou congelar). De modo inverso, aumenta o nível do modo de relaxamento, onde a pessoa se sente mais serena, com mais capacidade de regular as emoções e com maior criatividade. Quanto mais tempo o nosso sistema nervoso está em modo de alarme, mais severos se tornam os sintomas das perturbações de ansiedade ou da depressão.

HN – Que benefícios pode trazer a prática regular de introspeção e autoconhecimento para a nossa vida quotidiana?

DG – Não há nada tão importante, e tão desafiante, como conhecer-nos a nós mesmos. Quando atingimos um bom grau de autoconhecimento, compreendemos de uma forma clara os nossos sentimentos, valores, desejos, necessidades, forças e vulnerabilidades. E isto é uma grande mais valia, que nos permite sermos o ator principal da nossa vida e não andarmos em “piloto automático”. Momentos de prática de atenção, mas também outros, como quando estamos em modo de ócio, quando saímos da nossa zona de conforto, quando interagimos com as outras pessoas, quando damos asas à nossa curiosidade, podem trazer conhecimentos novos sobre nós mesmos (se a isso prestarmos atenção) e serem considerados formas de introspeção. Cada um de nós tem estratégias diferentes de praticar a introspeção, mas um ingrediente básico é sempre prestar atenção a nós mesmos (aos nossos sentimentos, pensamentos e emoções). Quem faz psicoterapia com regularidade, está também a reservar momentos para estar em conexão consigo mesmo.

Saber conviver bem com nós mesmos, conhecer as coisas de que gostamos (e queremos manter ou reforçar), assim como os nossos defeitos ou vulnerabilidades (e que poderemos querer aceitar ou trabalhar para melhorar), trás um grande bem-estar mental.

HN – De que maneira o hábito de prestar atenção pode melhorar as nossas relações interpessoais e contribuir para uma sociedade mais empática?

DG – Estudos demonstram que a prática de prestar atenção, de estar presente no momento, leva a uma maior capacidade de compreender as emoções dos outros, o que promove a empatia e facilita a comunicação. Carregar no travão, sobretudo quando há ambientes tensos ou conflituosos, pode ajudar a ganhar perspetiva e a resolver problemas de forma mais assertiva.

Se todos fizermos a nossa parte, se não andarmos tão desconectados de nós mesmos e dos outros, é possível desenvolver uma comunidade onde existam laços mais fortes e uma compreensão coletiva das necessidades de cada membro. A empatia, que é reforçada pelo autoconhecimento e pela capacidade de prestarmos atenção uns aos outros, pode servir como alicerce para a construção de uma sociedade mais resiliente, solidária, equilibrada e conectada.

Entrevista HN