Em média, cada doente gasta 1.818 euros por ano na gestão da sua doença, nomeadamente em produtos, consultas, medicamentos, deslocações e tratamentos complementares, adianta o estudo divulgado no Dia Mundial da Dermatite Atópica, realizado pela NOVA IMS da Universidade Nova de Lisboa, em parceria com a Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV) e a Associação Dermatite Atópica Portugal (ADERMAP).
Só em gastos com medicamentos, um doente com dermatite atópica ligeira gasta em média 530 euros, valor que aumenta para 2.054 euros nos casos mais graves.
A investigação pretendeu avaliar os impactos sociais, laborais, económicos desta doença inflamatória crónica da pele, sendo “o primeiro estudo desta natureza em Portugal”, disse à agência Lusa o coordenador do estudo, Pedro Simões Coelho.
“A dermatite atópica tem um impacto muito significativo, nalguns casos dramático, na qualidade de vida dos doentes, manifestando-se com níveis de intensidade diferentes [ligeiro, moderado e grave]”, adiantou.
Em todos estes níveis há “impactos sociais significativos” como mais de um terço dos doentes a manifestar sentimentos de “vergonha, ansiedade e frustração” devido à doença.
Em média, estes doentes gastam três quartos de hora por dia a tratar da doença e nos casos mais severos 81 minutos, refere o estudo que decorreu entre junho de 2019 e janeiro de 2020 e obteve 204 repostas de doentes diagnosticados.
“Tudo isto se propaga às atividades dos doentes”, disse o investigador, explicando que esta doença afeta pessoas em idade ativa, o que tem impactos laborais.
Estes doentes perdem, em média, dois dias de trabalho por ano, chegando aos nove dias nos casos mais severos.
“Mas mais importante do que o absentismo são os dias de trabalho perdidos” por perda de produtividade, porque “a pessoa se sente mal”, sublinhou o investigador.
Neste caso, estima-se uma perda equivalente a 50 dias de trabalho por ano, o que tem “uma expressão económica muito significativa”.
“Entre dias faltados, perda de produtividade, e também dias faltados por familiares ou cuidadores, nós estimamos que haja um impacto económico total na sociedade de perto de 1.500 milhões de euros”, salientou.
A doença também acarreta “custos significativos” anuais para o Estado (218 ME) e para os doentes (800 ME), mas “o investimento nesta doença tem “um significativo retorno positivo para a sociedade, que se traduz em qualidade de vida do doente, e numa importante mitigação do seu impacto económico”, salientou.
Cerca de 70% dos inquiridos recorreram ao sistema de saúde privado, 86% dos quais por esperarem menos tempo para uma consulta de dermatologia, que é oito vezes superior no Serviço Nacional de Saúde.
“A relevância do sistema de saúde privado para estes doentes, mostra que existem questões de equidade que necessitam ser garantidas para um acesso à saúde justo para todos”, defendeu o presidente da SPDV, Miguel Peres Correia.
Segundo o estudo, os doentes estariam dispostos a abdicar de 21% do seu rendimento anual para conseguirem eliminar a doença, cujo diagnóstico surge, em média, dois anos após os primeiros sintomas. Em 10% dos doentes demorou mais de seis anos.
“Na maioria das pessoas, acresce ainda outras comorbilidades que fazem piorar ainda mais” o estado de saúde e “agravar a qualidade de vida que nalguns casos é inexistente”, disse a presidente da ADERMAP, Joana Camilo, portadora da doença.
Para Joana Camilo, esta doença “tem de ser valorizada, pelos doentes, pelas famílias e pelo Estado”.
Estima-se que existam cerca de 440.000 pessoas em Portugal com dermatite atópica, das quais 46% apresentam formas mais graves da doença, que tem como sintomas vermelhidão na pele, edema, comichão, pele seca, fissuras, lesões descamativas, crostas e exsudação.
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