Dar voz ao paciente, interessar-se genuinamente pela sua história, ajudá-lo sem julgar, aceitar a dúvida e assumir o desafio do tratamento em conjunto são os cinco princípios da medicina narrativa, uma filosofia que uma portuguesa tem vindo a implementar nos Estados Unidos da América (EUA). Em entrevista à edição de agosto da revista Prevenir, já nas bancas, Rita Charon, médica de clínica geral em Harvard, explica o conceito.
"Todos os dias, assistimos a histórias dramáticas, nos noticiários, no cinema, ao folhear um livro ou a contemplar um quadro... Essas são as formas mais quotidianas de entender o sofrimento alheio. E aquilo que a medicina narrativa pretende é ensinar a interpretar esses acontecimentos, essa dor, os silêncios e as palavras que ajudam a decifrar o paciente. Como? Aliando arte e ciência", explica a médica de clínica geral.
"Ao juntar emoção e pragmatismo, chegamos ao tal compromisso e passa a existir um envolvimento entre médico e paciente, onde o primeiro lê os sentimentos e emoções do outro. No fundo, cria-se uma espécie de atalho entre o profissional de saúde e o lado mais emocional do processo médico, através daquilo que se conversa, e, acima de tudo, ouve", refere a especialista portuguesa, uma das criadoras do Programa de Medicina Narrativa da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, nos EUA, onde reside. "É como ler um intrincado romance de Dostoievski, mas em equipa, como parceiros de luta e de forma empática", compara.
"Tenho pacientes que choraram a meio do relato [de um problema de saúde na consulta] e, quando lhes pergunto porque o fazem, a resposta recorrente é que nunca ninguém os tinha colocado à vontade para dizer o que sentiam", explica Rita Charon, que, em entrevista à publicação de saúde portuguesa, apela a uma maior humanização dos serviços. "A saúde está a tornar-se num negócio perigoso", critica a especialista.
"É assustador o número de médicos que estão a desistir da profissão, em parte porque a saúde tornou-se demasiado técnica, burocrática e corporativa. Os hospitais concentram-se mais em aumentar o número de consultas no que na qualidade das mesmas. É assustador o número de médicos que estão a desistir da profissão, em parte porque a saúde tornou-se demasiado técnica, burocrática e corporativa", condena.
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