Neste momento, deveria estar a recuperar-se num hospital de Kiev, mas o pequeno Leonid encontra-se em casa da sua tia-avó, no sudeste da Irlanda, onde os seus país relatam a fuga do seu país devastado pela guerra, agravada pela doença do filho.

A mãe de Leonid, Yana de 31 anos, o seu marido Serhiy de 30 e o menino saíram de Cherkasy, na região central da Ucrânia, somente com uma uma mala com os seus pertences, incluído os documentos médicos de Leonid. É "o mais importante que tínhamos", disse Yana à AFP.

Conduziram até a Polónia, tomando caminhos de terra para evitar as zonas de combate, e o seu carro foi sacudido, por vezes, por explosões próximas, antes de chegar finalmente à fronteira.

Devido ao estado de saúde do filho, foram escoltados para cruzar a fronteira com urgência, evitando uns 20 quilómetros de filas. Cinco dias depois chegaram a Dublin via Zurique, onde tiveram que convencer as autoridades suíças de que o governo irlandês lhes tinha permitido entrar sem os requisitos habituais de visto.

A sua chegada ao aeroporto de Dublin, onde a sua família os recebeu com a bandeira ucraniana, foi um momento de "alívio tingido por amargura", descreveu Yana.

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"Senti que aqui estaríamos a salvo e que nos ajudariam, que se faria tudo o possível para cuidar" de Leonid, diz a mãe. Porém esta psicóloga confessa, ao mesmo tempo, que sofre da "síndrome do sobrevivente", sentindo-se culpada por ter sobrevivido aos combates na Ucrânia.

O hospital em que Leonid passou grande parte dos últimos oito meses após o diagnóstico de leucemia sofreu danos por causa da invasão russa, explica Yana.

Porém, apesar do perigo, muitas crianças permanecem ali. "Estas crianças estão a viver um mau bocado agora", afirma.

"Inquietudes"

Durante a sua fuga, a família entrou em contacto com o deputado irlandês Michael Collins, que foi alertado para a situação pela tia-avó de Leonid, Victoria Walden, e o seu marido David, com quem os Shapoval vivem agora. "Estivemos em comunicação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros", explica Collind, destacando "que havia muita preocupação"

O deputado está a ajudar a família nos esforços para tratar Leonid na Irlanda com o apoio da população local que se comoveu com a situação do garoto.

"Toda a gente quer fazer algo e é muito amável e, francamente, tipicamente irlandês", afirma.

Uma arrecadação de fundos online permitiu a família juntar mais de 65.000 euros, superando bastante o objetivo inicial de 1.000 euros.

No dia seguinte à sua chegada à Irlanda, Leonid foi examinado por médicos num centro médico local e enviado ao hospital da cidade de Cork.

Vai agora ser visto no hospital infantil de Dublin, onde a família espera que possa ser submetido a um transplante de medula óssea.

"Obrigada a todos os que nos estão a ajudar, estamos muito contentes", disse a mãe, que afirma estar "surpreendida por ver o quanto todos são amáveis e o quanto todos querem ajudar"

Leonid também está grato: "Obrigado às pessoas que nos ajudam", afirma.

O pequeno e a sua família formam parte dos cerca de 1.800 refugiados ucranianos que chegaram à Irlanda desde que começou a invasão russa em 24 de fevereiro.

A Irlanda, que possui uma população de 5 milhões de habitantes, disse estar disposta a receber até 100 mil pessoas que fujam da Ucrânia.